quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Mamografias duplicaram taxa de sobrevivência numa década


Dados de Coimbra vão contra estudo inglês, que refere que riscos superam benefícios.

Por cada mulher que sobrevive a um cancro da mama, há dez a fazer tratamentos desnecessários e 500 a registar falsos casos de cancro. Os dados são avançados na última edição do British Medical Journal (BMJ) e recolocam em debate a necessidade de pesar os riscos e os benefícios do rastreio, através de mamografias. A questão é polémica e divide especialistas. Mas não os portugueses. Vítor Rodrigues, da Liga Portuguesa contra o Cancro, diz que "por cada estudo destes, há cem que mostram os benefícios". Só em Coimbra, a sobrevivência duplicou em dez anos.

O estudo publicado revê a informação disponível, mas não se limita a analisar os benefícios dos exames, como as 1400 vidas poupadas anualmente em Inglaterra. Riscos como tratamento sem necessidade e em casos de desenvolvimento lento foram exemplos.

Klim McPherson, epidemiologista da Universidade de Oxford, disse ao BMJ que "o benefício individual da mamografia "é muito pequeno". E cita dados dos EUA: Os testes reduzem em 14% a taxa de mortalidade abaixo de 60 anos, subindo para 32% abaixo dos 70. A percentagem pode parecer elevada, mas a verdade é que o risco de morrer com este cancro aos 60 é de apenas 1,2% em 15 anos.

Por essa razão, refere, citado pelo The Independent, "os dados existentes devem ser examinados". Ao mesmo tempo, convida as autoridades britânicas a rever o programa de rastreio nacional.

Jorge Espírito Santo, da Ordem dos Médicos, refere que "os benefícios são muitos superiores aos riscos e contesta que as mulheres sejam tratadas sem necessidade".

Vítor Veloso, ex-presidente da Liga, diz que só no centro o rastreio se implementou a 100%. "Nas restantes regiões, a cobertura não passa dos 50%", refere. Por essa razão, ainda não há dados globais. Mesmo o número de casos - 4000 novos e 1400 mortes por ano - é baseado em estimativas. No Centro, o rastreio já chegou a 1,5 milhões de mulheres nos últimos anos e a sobrevivência a dez anos atingiu "80% em vez dos anteriores 40% ou 50%", acrescenta Vítor Rodrigues. O especialista recorda que, "além dos estudos a mostrar os benefícios, os dados agora divulgados partem de estudos diferentes dos nossos". Manuel António, presidente do IPO de Coimbra, diz que, "se for bem controla- do, não há riscos para as mulheres. O problema é quando fazem demasiados exames sem necessidade", alerta. Entre os 45 e os 70 devem fazê-lo de dois em dois anos.

Vítor Rodrigues frisa que "um rastreio global diminui os casos de cancro mais avançados, detectando no máximo casos com dois anos ao fim do primeiro exame. Os hospitais não ficam entupidos com os exames e atinge-se pessoas em piores condições sociais".

Mas os riscos também existem "e devem ser comunicados às mulheres. O pior é a morbilidade psicológica, quando há casos que são falsos positivos". Em cada mil exames, há 46 que têm resultados positivos mas não são. "Mas preocupa-me mais que os hospitais não tratem a tempo após o rastreio."


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