Na imagem, a pintura rupestre mais antiga já encontrada nas Américas
A gravura e uma representação da gravura
Arqueólogos brasileiros descobriram a gravura mais antiga do novo mundo: um corpo antropomórfico esguio, com uma idade compreendida entre os 9500 e 10.400 anos. A figura terá sido feita por grupos de caçadores recolectores que viviam na região e poderá ser uma manifestação simbólica ligada à fertilidade. O estudo foi publicado nesta quarta-feira na revista Public Library of Science.
“Há pinturas tão antigas como esta gravura, mas esta deve ser das representações artísticas mais antigas do continente”, disse Walter Neves, da Universidade de São Paulo, no Brasil. Ao contrário das pinturas, que têm pigmentos orgânicos facilmente datáveis, as gravuras esculpidas na pedra são muito mais difíceis de datar. Mas a equipa do arqueólogo teve sorte com o achado.
“Descobrimos no fundo de um sítio arqueológico que escavámos há nove anos na Lapa do Santo”, disse o arqueólogo ao PÚBLICO. O local fica a 60 quilómetros a Norte da cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, no Brasil e é um importante ponto arqueológico na América do Sul. A figura está a quatro metros de profundidade e foi descoberta em 2009, no final de uma escavação arqueológica que se iniciou em 2002.
“No caso da pintura rupestre você pode datar os pigmentos da pintura, no caso do petroglífo, que foi esculpido na pedra, não tem matéria orgânica para datar”, disse o cientista. Mas acima da gravura, existiam os restos arqueológicos de uma fogueira que datam de há 9500 anos. Como o local está ocupado desde há 10.400 anos, “a gravura tem entre 9500 e 10.400 anos”.
O desenho foi feito por caçadores recolectores (grupos nómadas). Seriam grupos pequenos de 25 a 30 pessoas que tinham uma capacidade grande para se movimentarem pela região para conseguir caçar e recolher alimentos.
“Na América do Norte especializaram-se em caçar a megafauna já extinta, como mamutes, bisontes ou o cavalo pré-histórico. Na América do Sul estes grupos caçavam a fauna que existe hoje e tem um porte médio”, disse o especialista, acrescentando desconhecer-se a razão desta opção, já que também existiam ali os grandes mamíferos que serviam de alimento para os grupos da América do Norte.
Quanto à pintura, Walter Neves defende que é “uma manifestação simbólica ligada à questão da fertilidade”. O desenho representa “um antropomorfo, filiforme, com uma cabeça em forma de C, os braços e as pernas terminam em três dígitos, e tem um falo grande e erecto”.
Não é a primeira vez que se descobre este tipo de iconografia. Noutras regiões da América, conhecem-se figuras semelhantes que representam mulheres grávidas e cenas de parto. Provavelmente “esta é uma figura que deve fazer parte de um painel maior”. Entretanto, em 2011, a equipa voltou ao sítio arqueológico para tentar descobrir outras figuras.
Segundo Walter Neves, esta descoberta também põe em perspectiva a colonização da América feita pelo Homo sapiens vindo da Sibéria. A nível arqueológico, a chegada ao continente está intimamente ligada aos achados da cultura Clovis: sítios arqueológicos em diversos locais da América do Norte onde se encontraram vestígios de pontas para a caça.
“Nós estamos mostrando que no final do pleistoceno já havia uma grande diversidade de pensamento simbólico na América do Sul. Essa grande diversidade seria impossível de surgir em pouco tempo, e isso sugere que o homem deve ter entrado na América há mais de 11.200 anos, que é a datação para a cultura Clovis”, explicou o cientista. “Eu diria que a questão mais importante [da arqueologia americana] é conseguir sítios arqueológicos com datações pré-Clovis.”
fonte: Público
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