Reconstrução artística de pequeno cavalo primitivo, com 55 milhões de anos, junto com cavalo moderno
A primeira espécie de cavalo, 56 milhões de anos atrás, tinha adultos pesando meros 5,5 kg, e só muito tempo depois esses animais iriam adquirir suas dimensões actuais, multiplicando seu peso por cem.
O início dessa evolução, porém, começou na contramão. Em seus primeiros milhares de anos, os cavalos encolheram até uma média de 3,8 kg, o peso de um gato, por culpa de um episódio de aquecimento global.
A descoberta saiu de fósseis descobertos no estado do Wyoming (EUA), no sopé das Montanhas Rochosas.
Uma equipa liderada pelo paleontólogo Ross Secord, da Universidade do Nebraska, mediu restos de arcadas dentárias de cavalos do género Sifrhippus encontradas da região e estabeleceu uma correlação entre as temperaturas da época e o corpo desses animais: quanto mais quente, menor.
Essa relação já era conhecida na biologia como "Regra de Bergman", segundo a qual espécies de animais similares tendem a pesar mais quando habitam climas mais frios.
Ninguém, contudo, tinha documentado esse efeito com precisão ao longo da história evolutiva de um único animal. Secord descreve sua descoberta num estudo na revista "Science".
O período durante o qual os cavalos pré-históricos passaram por essa fase de encolhimento extremo é conhecido pelos geólogos como Máximo Termal do Paleoceno-Eoceno.
Foi um intervalo de tempo de cerca de 170 mil anos, durante o qual temperaturas ficaram até 10ºC mais quentes.
Nessa época, os cavalos perderam a necessidade de possuir um corpo maior porque não precisavam reter muito calor interno.
A seleção natural, então, favorecia os menores, que podiam atingir a vida adulta mais rápido e aceleravam sua taxa de reprodução. Com o clima de volta ao normal, ao fim do Máximo Termal, o Sifrhippus cresceu de novo até uma média de 6,8 kg.
"Comparados a um cavalo actual, eles ainda eram muito pequenos, mais ou menos do tamanho de um mini-schnauze, mas isso já era quase o dobro do tamanho mínimo que tinham atingido", disse à Folha Jonathan Bloch, biólogo do Museu de História Natural da Flórida, coautor do estudo.
Jonathan Bloch, biólogo do Museu de História Natural da Flórida, coautor do estudo
"Depois disso, nos milhões de anos seguintes, a história evolutiva dos cavalos se tornou extremamente complexa e bonita. Um animal que tinha essencialmente duas espécies passou a aparecer numa infinitude de espécies diferentes ao longo tempo, em vários continentes, e com várias formas diferentes existindo simultaneamente."
Um dos eventos mais importantes na história dos equídeos foi a mudança de habitat principal das florestas para as pradarias, onde se alimentava de gramíneas em vez de arbustos e árvores.
Só quando ocuparam um ambiente mais aberto e começaram a pastar, os cavalos adquiriram tamanhos similares aos que possuem hoje.
EVOLUÇÃO REAQUECIDA
Essa história poderia ter sido interrompida, porém, se a evolução do Sifrhippus não o tivesse permitido se adaptar ao Máximo Termal, diminuindo de tamanho.
"Com o aquecimento global causado pelos humanos,é possível que os mamíferos selvagens comecem a passar por um encolhimento parecido agora, talvez não tão drástico", diz Bloch. "Como a natureza já realizou essa 'experiência' com outros animais no passado, podemos tentar antecipar o que vai acontecer no futuro."
Muitos biólogos, porém, ainda não estão totalmente seguros de que o encolhimento será uma estratégia evolutiva viável para mamíferos contemporâneos lidarem com a mudança climática.
"A mudança extrema na superfície da Terra durante o Máximo Termal do Paleoceno-Eoceno não é diferente daquela esperada para nosso futuro, mas naquela época tudo aconteceu numa janela de tempo muito mais longa", afirma Felícia Smith, bióloga da Universidade do Novo México que comentou o estudo de Secord em outro artigo.
Pode ser que agora não haja tempo suficiente para a seleção natural induzir as mudanças necessárias, diz.
Para alguns animais, uma alternativa ao encolhimento evolutivo seria migrar na busca de hábitats com temperatura adequada em latitudes ou altitudes maiores.
Com a superfície terrestre cada vez mais ocupada pelo desenvolvimento humano, porém, biólogos temem que muitos animais não terão para onde fugir.
fonte: Folha.com
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