Carolle Bertrand carregada de emoções
Diz o ditado que o raio nunca atinge o mesmo lugar duas vezes. De facto, tirando as probabilidades, não há grande motivo para pensar assim. Mas quaisquer dúvidas ficam resolvidas agora que há um caso vivo - felizmente ninguém morreu - a provar que o ditado é falso. Uma canadiana de meia-idade foi atingida por um raio, e sete anos depois por outro. Ela acha que foram dádivas, tanto o primeiro como o segundo. E para demonstrar o que afirma, multiplica-se em expressões artísticas.
A história foi contada recentemente na televisão canadiana. Carolle Bertrand era uma anónima professora que também cantava mas se atolara em impasse artístico algures nos anos 1990. Com os filhos crescidos e uma existência banal, a vida arrastava-se. Um dia, quando ia a entrar no carro, sentiu que algo vinha de cima. Mal teve tempo de ver a bola de luz antes de ser atingida. A princípio não sentiu nada - apenas a força que a empurrou para o banco do carro. Depois vieram as dores. Dores terríveis, persistentes. Acompanhadas por uma coisa que ela designa misteriosamente como clarividência.
Ao fim de uns meses, Carolle começou a compor música. Para piano. Embora interpretasse, ela nunca antes usara o seu próprio material. Agora criava sem parar. Além da música, atirou-se ao desenho e começou a produzir retratos de inspiração mística. Não consta que os especialistas tenham ficado impressionados, mas ela sentiu que, finalmente, se encontrara.
O segundo raio equilibrou-a
Os anos passaram. A atividade artística intensificava-se, com exposições e concertos, mas o sofrimento continuava. Com alguns efeitos secundários curiosos, incluindo a impossibilidade de estar numa sala onde houvesse televisão.
Carolle Bertrand desistira de procurar ajuda nos médicos e investiu em livros de autoajuda, terapias alternativas, espiritualidades várias. Gradualmente, a dor ia aliviando. Até que um dia, quando estava na cave de sua casa, teve outra vez a impressão que algo vinha ao seu encontro. Novamente um raio. Se o anterior entrara pelo lado esquerdo, este entrou pelo direito.
"Senti que tinha ficado equilibrada", diz. O raio entrara pela parte de baixo do braço e saíra pela coxa. No caminho deixara aquelas marcas 'ramificadas' conhecidas como flores do raio. Para Carolle Bertrand, foi uma bênção. Qualquer coisa se havia completado. Ela podia seguir em frente.
Decidiu acreditar que o seu balanço natural voltara. O primeiro raio mudara-a, o segundo completara a mudança. "Um raio é muito forte", explica. "Muda os nossos circuitos internos". Garante ver aquilo que nunca antes via, e sentir-se melhor do que nunca. As duas descobertas artísticas que o choque lhe proporcionou - criar música e imagens - continuam a encantá-la.
O raio foi a chave que lhe abriu tudo isso. Não gostaria, porém, de ser novamente atingida. Se acontecesse, teria provavelmente consequências mais graves. Para já, as dores acabaram.
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