quarta-feira, 29 de junho de 2011

O novo marketing da fé


Mapas esotéricos da personalidade e autoconhecimento estão a ser usados em cursos... cristãos.

Na sala de formação, onde há lugar para 40 pessoas, os participantes são convidados a tomar contacto com o "eneagrama" um mapa de autodescoberta que remonta à era pré-cristã, tendo sido usado na Babilónia e adotado também pelo New Age (movimento que o Vaticano desaprova abertamente).

O teste das "nove figuras", como também é chamado, está a ganhar popularidade entre os jovens que acorrem aos encontros formativos da Comunidade Shalom, sediada em Oeiras. Usado com sucesso nas empresas e, até, no futebol, esta tipologia de personalidade crenças, estilo de comunicação e defesas aplicada a grupos permite "usar a linguagem de hoje para motivar as pessoas a redescobrirem o sentido de ser na Igreja". Quem o afirma é Vítor Lopes, 59 anos, um dos dois padres que, em Portugal, são conhecidos por ministrarem cursos sobre eneagrama: "Trata-se de um instrumento neutro, não de uma ideologia, e era utilizado por jesuítas e sacerdotes do deserto, com a finalidade de ajudar as pessoas a conhecerem-se." Ao longo de três fins de semana, e tendo este instrumento de trabalho como ponto de partida, identificam-se modos de ser, desenvolve-se relação consigo próprio e com os demais.

A última etapa consiste em aprofundar a relação com Deus e a natureza. Vítor Lopes, nascido em Angola, batizado e criado em Seia, na serra da Estrela, e ordenado no Brasil, tomou contacto com esta metodologia em Fortaleza, durante uma reunião com párocos da Comunidade Shalom, onde se destacava o tema, que era objeto de vários livros publicados por padres norte-americanos. "Foi então que nos demos conta de que este podia ser um manancial bom, integrando a educação para o autoconhecimento, vertente que falta à doutrina cristã", acrescenta Vítor, mostrando o livro que usa nas formações, intitulado Quem é Você? Construindo a Pessoa à Luz do Eneagrama e publicado no Brasil. Entre os que já passaram por estes cursos, na sede e noutros pontos do País, alguns manifestaram reservas iniciais que se dissiparam quando descobriram que a sua fé não era posta em causa. Após mais um encontro, no passado fim de semana, Vítor remata. "Vou continuar a fazer isto, enquanto Deus quiser."


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