Recentemente, uma equipa internacional de astrónomos apresentou provas convincentes de que nossa galáxia está cheia de planetas do tamanho de Júpiter, à deriva entre as estrelas.
Sozinhos no vazio, independentes de qualquer sol, esses órfãos cósmicos parecem encher os céus.
O astrofísico Takahiro Sumi comentou que poderia haver até 400 biliões desses andarilhos solitários na Via Láctea. Isso reacendeu a grande questão que todos esperam ser resolvida: estamos sozinhos no universo?
Como se não bastasse isso, a NASA, em seguida, anunciou que sua nave espacial Kepler, que está há dois anos numa missão para encontrar planetas do tamanho da Terra em torno de estrelas próximas, tinha encontrado muitos candidatos totalmente inesperados.
Dos 1235 planetas suspeitos até agora, cerca de um terço estão em sistemas multiplanetários solares como o nosso. A julgar por essas descobertas, parece que os planetas são tão numerosos quanto grãos de areia.
Vinte e cinco anos atrás, apenas nove planetas eram conhecidos, todos em nosso sistema solar. O resto só podíamos imaginar, alimentados por um rico acervo de ficção científica, para o qual o espaço exterior era uma fonte inesgotável de ideias.
E essa imaginação não é coisa nova. Os céus foram também objecto de questões mais fundamentais, levantadas pelos grandes pensadores da História. Epicuro, um filósofo grego antigo, se perguntou sobre a pluralidade de mundos como o nosso.
O frade dominicano Albertus Magnus, que estava profundamente interessado nas ciências físicas, ponderou se havia apenas um mundo, ou mais, declarando que “esta é uma das perguntas mais nobres e exaltadas no estudo da natureza”.
Cerca de 300 anos mais tarde, outro frade dominicano, Giordano Bruno, proclamou a sua crença de que havia inúmeros sóis, cada um tendo várias Terras; crença que, combinada com outras ideias consideradas heréticas no momento, o levou a ser queimado na fogueira em 1600.
Mas a ideia persistiu. Escrevendo sobre a formação do sistema solar em 1755, o filósofo alemão Immanuel Kant teorizou que outras estrelas possuíam sistemas solares como o nosso.
Com tudo isso, parece estranho que apenas em 1995 um planeta fora do nosso sistema solar foi avistado. A descoberta, feita pelos astrónomos suíços Michel Mayor e Didier Queloz, foi confirmada logo depois por uma equipa independente dos Estados Unidos.
E encontrar “exoplanetas” (planeta extrassolares, que estão fora do nosso sistema solar) não é fácil. Planetas não emitem luz própria, apenas refletem a luz de suas estrelas. Dadas as distâncias interestelares envolvidas, até mesmo as estrelas mais próximas de nós não são muito visíveis, por isso é um desafio tecnológico identificá-los.
Mayor e Queloz enfrentaram o desafio através de um espectrógrafo num observatório no sudeste da França. Eles observaram a oscilação rítmica de uma estrela como nosso sol, conhecida como 51 Pegasi, criada pela força gravitacional de um planeta em sua órbita.
Essa técnica tem sido usada desde então para encontrar muitos planetas, mas sua dependência da oscilação de uma estrela tende a encontrar apenas os planetas maiores que estão perto de sua estrela-mãe (como os do tamanho de Júpiter), que a maioria cientistas acham que não poderia suportar vida.
Existem maneiras de detectar planetas menores. A nave espacial Kepler foi especificamente projetada para varrer uma parte da Via Láctea e descobrir dezenas de planetas do tamanho da Terra perto da zona habitável, determinando quantas das biliões de estrelas em nossa galáxia têm tais planetas.
Kepler monitora continuamente 145.000 estrelas na Via Láctea, a procura do breve escurecimento de luz que indicaria que um planeta está cruzando a frente de uma estrela.
A nova equipa internacional descobriu os planetas órfãos usando uma técnica ainda mais misteriosa – microlentes gravitacionais – para detectá-los. Com base na premissa de Einstein de que a gravidade dobra a luz, é possível ver objectos escuros no céu, medindo a luz que dobra das estrelas por trás deles.
Os astrofísicos, assim, viram 10 planetas andarilhos, do tamanho de Júpiter, e estima-se que pode haver um ou dois deles para cada uma das cerca de 200 biliões de estrelas na Via Láctea.
E se planetas do tamanho de Júpiter, que são mais fáceis de detectar, existem aos biliões, certamente deve haver muitos outros planetas do tamanho da Terra lá fora, girando em torno de suas estrelas a uma distância certa para sustentar a vida, não?
Não sabemos ainda. E descobertas científicas como essa levam tempo para serem digeridas pela população. A confirmação de que os planetas são abundantes é o ponto culminante de uma revolução científica que começou mais de quatro séculos atrás, com Copérnico, Galileu e Kepler, que fizeram nosso planeta perder seu lugar especial no centro do universo.
A cosmologia vigente antes de Copérnico – codificada pelo astrónomo Cláudio Ptolomeu no primeiro século d.C. que, apesar de absolutamente errada, foi aceita durante os próximos 1500 anos – sustentava que o sol, a lua e os planetas (seis outros conhecidos) giravam em torno da Terra, sob um dossel de estrelas. Era um universo racional e bem organizado, no qual a Igreja Católica Romana podia apontar com autoridade o céu e o inferno.
Em seguida, Nicolau Copérnico, tímido polaco, apresentou um sistema alternativo, no qual o sol substituía a Terra no centro do universo. Em 1543, pouco antes de morrer, Copérnico finalmente teve coragem de publicar sua teoria, que inspirou Galileu Galilei e Johannes Kepler a prosseguir os estudos que se tornaram a astronomia moderna.
Numa época em que a ciência estava indissoluvelmente ligada à religião, a Igreja Católica não se rendeu e abandonou seu universo geocêntrico tão fácil. Galileu foi apanhado pela Inquisição, e mesmo tendo renegado suas ideias, passou seus últimos anos sob prisão domiciliar. Em 2000, o Papa João Paulo II pediu desculpas formalmente pelo julgamento de Galileu.
Mas não havia volta. Algumas décadas depois, Isaac Newton confirmou as ideias de Kepler sobre o movimento planetário e descreveu as leis naturais que moldaram nossa visão do cosmos desde então.
Uma vez que a Terra tinha sido deslocada do centro do universo, foi uma questão de tempo antes do sol ser reduzido a uma estrela numa variedade num braço espiral remoto da Via Láctea, e a Via Láctea a uma das cem biliões de galáxias existentes, e, por fim, nosso planeta um grão de poeira cósmica.
Confirmamos a crença de Bruno de que inúmeros sóis existem, e Terras inúmeras giram em torno deles. Porém, ainda não respondemos a “nobre e exaltada” questão de Magnus: existem outros mundos, ou apenas o nosso?
Devido a tudo que temos aprendido, isso continua a ser possível – mais possível do que nunca. Nesse momento, criaturas inteligentes, moldadas por uma confluência de eventos improváveis ou forças sobrenaturais, capazes de olhar para o céu, podem estar a perguntar: será que estamos sozinhos?
fonte: HypeScience
Sem comentários:
Enviar um comentário