A Quercus pede que o LNEC avalie o estado do edifício (Quercus)
A Quercus considera "ineficaz" a operação montada para salvar a colónia de andorinhões-pretos da muralha de Elvas, prestes a ser demolida, e alerta que só dez por cento dos 300 ninhos serão passíveis de ser removidos.
O Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade (ICNB) confirmou hoje ao PÚBLICO que foi suspensa ontem de manhã a operação de remoção dos ninhos e encaminhamento dos andorinhões-pretos (Apus apus) para centros de recuperação. “Os trabalhos foram suspensos por causa da providência cautelar” interposta pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, explicou Anabela Isidoro, do ICNB. A intervenção aguarda agora a “luz verde”, ou não, de uma decisão judicial.
Através da providência cautelar, a Quercus quer “ganhar tempo para se conseguir chegar a um consenso”, disse Nuno Sequeira, vice-presidente da associação. A Quercus defende que se deve esperar pelo final do período de nidificação das aves, ou seja, duas a três semanas, período ao fim do qual as aves já podem voar. Além disso pede “uma perícia independente do LNEC [Laboratório Nacional de Engenharia Civil] à estabilidade do edifício” – a antiga muralha da igreja de São Paulo -, bem como que este proponha medidas de protecção, por exemplo, acrescentou ao PÚBLICO.
Segundo Nuno Sequeira, a operação de remoção de ninhos é “ineficaz” e “não vai resolver o problema” das aves. Ontem, quando “começaram os trabalhos no local, os vigilantes aperceberam-se de que o acesso a vários ninhos é muito limitado”. A estimativa é de que apenas dez por cento dos 300 ninhos possa ser removido. Anabela Isidoro confirma que existem “ninhos inacessíveis”, por estarem em locais “muito profundos”.
Aves resgatadas serão enviadas para três centros de recuperação
De acordo com Anabela Isidoro, as aves que forem resgatadas serão enviadas para os centros de recuperação de Monsanto, Quinta de Marim e Gouveia.
Segundo Ricardo Brandão, veterinário responsável pelo centro de Gouveia, o CERVAS (Centro de Ecologia, Recuperação e Vigilância de Animais) – estrutura do Parque Natural da Serra da Estrela, actualmente sob a gestão da Associação ALDEIA -, estas aves arriscam-se a ter uma taxa de recuperação inferior a 50 por cento. “São aves muito pequenas, com um elevado metabolismo, o que quer dizer que gastam a energia muito depressa, e estão quase sempre em voo. Estas aves não se dão bem em cativeiro, entram em stress”, considerou, lembrando que a melhor solução seria adiar a intervenção entre duas a três semanas.
O responsável pelo CERVAS, que desde o início do ano já recebeu um total de 190 animais, lembrou ainda que "as aves terão de ser alimentadas, uma a uma, de duas em duas horas”. Salientando que a missão “não é impossível” e que “espaço se arranja sempre”, o responsável sublinha que a dificuldade maior é ter pessoas”. Actualmente, o centro conta com 14 elementos, quatro delas pertencentes ao corpo técnico.
Em causa está a demolição da muralha de Elvas a pedido do Exército, responsável pelo imóvel, alegando o risco para a sua iminente derrocada. A obra avançou até que a Quercus alertou a GNR e o ICNB, uma vez que o andorinhão-preto é protegido pela legislação nacional. Segundo Sandra Moutinho, porta-voz do ICNB, o primeiro parecer do instituto foi no sentido de que a demolição deveria aguardar algumas semanas, até que as aves terminassem a sua nidificação e deixassem o local, como fazem todos os anos. Mas o Exército argumentou que a demolição era urgente. O ICNB acabou por autorizar a operação.
fonte: Público
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