Reconstituição virtual de uma quádrupla hélice de ADN com base em dados de cristalografia de raios X JEAN-PAUL RODRIGUEZ/NATURE
Até agora, estas estruturas eram meras curiosidades de laboratório. Mas afinal existem também nas nossas células e poderão permitir desenvolver novas terapias contra o cancro.
Sessenta anos após a histórica descoberta da estrutura em dupla hélice do ADN, na Universidade de Cambridge, por James Watson e Francis Crick, uma outra equipa da mesma universidade acaba de revelar a existência, nas células humanas, de regiões do ADN não com dois, mas com quatro cadeias moleculares entrelaçadas.
Estas estruturas, chamadas quadruplexos-G por se formarem em regiões do genoma ricas em guanina (um dos quatro componentes de base do ADN), demoraram dez anos a serem postas em evidência in vivo, explica aquela universidade em comunicado.
Os cientistas demonstraram a existência dos quadruplexos-G nas células humanas, gerando anticorpos capazes de detectar e de se ligarem a áreas do ADN ricas nessas estruturas. Como os anticorpos eram fluorescentes, permitiram não apenas localizar as áreas em questão, mas também determinar em que fase da divisão celular é que as quádruplas hélices se formavam. Concluiu-se assim que a produção de quadruplexos-G atinge o seu pico na altura da duplicação do ADN, imediatamente antes de a célula se dividir.
“O nosso trabalho indica que os quadruplexos são mais susceptíveis de se formarem em genes que se estão a dividir rapidamente, como acontece nas células cancerosas”, diz, citado pelo mesmo documento, Shankar Balasubramanian, que, com a sua equipa, publicou a descoberta online, este domingo, na revistaNature Chemistry. “Para nós, isso abona fortemente a favor de um novo paradigma a investigar: a utilização destas estruturas quádruplas como alvos para futuros tratamentos personalizados.”
Os cientistas também mostraram que era possível “capturar” as quádruplas hélices de ADN dentro de pequenas moléculas sintéticas, impedindo a duplicação genómica e daí a divisão celular, “algo de extremamente entusiasmante”, diz ainda Balasubramanian.
“Este trabalho reforça a ideia de que é possível explorar estas estruturas invulgares de ADN para vencer o cancro”, diz, por seu lado, Julie Sharp, porta-voz do Cancer Research UK, a maior entidade sem fins lucrativos, no Reino Unido, dedicada à guerra contra o cancro – e que financiou a investigação. “A próxima etapa vai consistir em encontrar maneira de agir sobre elas dentro das células tumorais.”
fonte: Público
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