terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Metade para ti, metade para mim. Há uma noção de justiça nos chimpanzés


Quando um chimpanzé tem de decidir se vai partilhar uma banana, costuma optar pela partilha equitativa

O teste utilizado para aferir o sentido de justiça foi aplicado a chimpanzés adultos e a humanos entre os dois e os sete anos. Os resultados são parecidos e mostram que a ideia de justo não é exclusiva da nossa espécie.

O desafio chama-se "o jogo do ultimato". Há uma banca que dá um montante de dinheiro. Um jogador terá de dividir esse dinheiro com um segundo participante que não tem poder de decisão sobre a parte com que fica, mas pode rejeitar a proposta. Se o fizer, os dois jogadores perdem e a banca não liberta o dinheiro. Que prémio é que escolheria para si e para o seu companheiro de jogo? No caso de seis chimpanzés adultos que fizeram este jogo, há uma tendência para dividirem equitativamente o prémio, demonstrando um sentido de justiça que se pensaria ser exclusivo da espécie humana, conclui um estudo publicado nesta terça-feira na revista Proceedings of the National Academy of Sciences dos EUA (PNAS).

O jogo do ultimato é o desafio por excelência para se determinar o sentido de justiça nas pessoas. Jogadores dos países ocidentais costumam dividir equitativamente o prémio, mas existem variações noutras culturas associadas ao seu modo de viver.

"O que ainda não é certo é se outros primatas, incluindo um dos nossos parentes mais próximos, o chimpanzé (Pan troglodytes), reagem a este tipo de situação. Isso pode elucidar-nos sobre a base evolutiva da tendência humana para uma distribuição "justa"", explica a equipa liderada pelo famoso primatólogo Frans de Waal, do Centro Nacional Yerkes de Investigação de Primatas na Universidade de Emory, EUA.

Já se observaram macacos-capuchinho a não cooperar em jogos com humanos, quando viam outros macacos receber recompensas que eles não recebiam. Os macacos mostravam assim que percebiam que estavam a ser alvo de uma injustiça.

Num estudo mais recente, de 2010, feito por Sarah Brosnan, que também é agora autora do artigo da PNAS, mostrava-se algo mais fascinante. Numa situação em que chimpanzés recebem algo de humanos, mas em que um dos animais tem uma recompensa maior, este indivíduo recusa recebê-la. "É como se não estivessem satisfeitos, enquanto todos não recebessem o mesmo. Parece que estamos a aproximar-nos de um sentido de justiça", comentava Frans de Waal no jornal New York Times.

No jogo do ultimato, o teste vai mais longe. Desta vez, o ónus da justiça (ou injustiça) não recai sobre um humano, mas sobre o chimpanzé - que decide se dá ou não metade do seu prémio a um parceiro símio. Em 2010 e 2011, duas experiências tinham testado chimpanzés com o jogo do ultimato, concluindo que eles eram egoístas. Mas a equipa de Frans de Waal põe em causa essas experiências e disse que os resultados não permitem tirar conclusões sobre o sentido de justiça dos chimpanzés.

Por isso, a sua equipa voltou ao jogo. Colocou seis chimpanzés adultos juntos aos pares. Um dos chimpanzés teria de escolher entre dois objectos: um daria direito à partilha de seis pedaços de banana, em que o primeiro chimpanzé ficaria com cinco pedaços e o outro com o restante. O outro objecto daria direito a uma partilha equitativa da banana.

Depois de escolher o objecto, o primeiro chimpanzé teria de passá-lo ao segundo, que estava numa jaula adjacente e também sabia o valor de cada objecto. Este segundo chimpanzé podia depois dar o objecto ao cientista - nesse caso, o prémio seria repartido. Ou podia deixar-se ficar sem fazer nada durante 30 segundos e, assim, não havia banana para ninguém.

Os cientistas fizeram uma experiência paralela com 20 crianças, entre os dois e os sete anos. Neste caso, a recompensa eram autocolantes.

Tanto os chimpanzés como as crianças que escolhiam os objectos passaram de uma posição egoísta, quando o prémio ainda não dependia da decisão dos parceiros, para uma escolha mais equitativa quando iniciaram o jogo do ultimato. Perto de 70% das vezes escolheram uma distribuição justa do prémio. "Os chimpanzés não só têm um sentido de justiça muito parecido com o dos humanos, como tomam as mesmas decisões que nós", disse de Waal.

Os autores sublinham que, nas experiências, o chimpanzé que recebe o objecto nunca pára o jogo - talvez por falta de consciência deste poder. Ainda assim, o chimpanzé que escolhe o objecto prefere muitas vezes a opção que resulta numa distribuição mais justa do prémio e que poderá ajudar "a recolher os benefícios da cooperação", defende a equipa.

fonte: Público

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