A Terra vista da Lua, uma das imagens famosas das missões Apolo (NASA)
A Terra é mesmo mãe da Lua, pelo menos é o que confirmam três artigos acabados de publicar. Até agora, a teoria mais consensual sobre a origem da Lua diz que ela resultou de uma colisão com a Terra, mas os novos estudos, além de corroborarem esse nascimento violento, levantam dúvidas sobre a paternidade do nosso satélite natural.
Na década de 1970, surgiu a hipótese do Big Splash, segundo a qual a Lua é filha da Terra e de Teia, um corpo do tamanho de Marte que teria chocado com o nosso planeta pouco depois da sua formação, há 4500 milhões de anos. Os destroços dessa colisão criaram um anel à volta da Terra, que, depois de amontoados, originaram a Lua. Esta hipótese foi reforçada na década de 1980 por simulações em computador, que sugeririam que a Lua seria composta principalmente por materiais diferentes dos da Terra. Ou seja, a Lua era filha da Terra, mas tinha herdado do “pai” a maioria dos materiais.
Só que as análises à composição da Lua – uma espécie de teste de paternidade – não coincidiam com aqueles resultados e indicavam que a Lua era quase igual à Terra. Essas análises às amostras de rochas lunares trazidas pelas missões Apolo mostraram que a Terra e a Lua tinham o mesmo tipo de átomos (isótopos) de oxigénio, crómio e titânio, por isso os cientistas concluíram que teriam tido uma origem comum. Podiam ser irmãs.
Mais tarde, em 1999 um grupo de cientistas analisou os dados da sonda lunar Prospector, determinando que os núcleos dos dois astros não são proporcionais. Confirmaram assim o que já antes se tinha suspeitado: a Lua é filha da Terra e não sua irmã. Se tivessem sido formadas na mesma nuvem de poeiras e rochas que originaram os planetas, os núcleos de ambas teria dimensões proporcionais. Enquanto o núcleo da Terra representa 30% da massa total do planeta, no caso da Lua esse valor é de menos de 4%.
Neste momento, a comunidade científica parece não ter grandes dúvidas sobre quem é a mãe da Lua, mas a discussão sobre o pai continua.
Três artigos de uma assentada
Robin Canup, do Southwest Research Instituto, nos Estados Unidos, publica um estudo na edição desta semana da revista Science em que defende que o pai da Lua não foi Teia. Tinha de ter sido um corpo muito maior, para que a nuvem de poeiras resultante da colisão também ter materiais arrancados à Terra e que vieram a ser incorporados na Lua.
Com simulações de computador, Robin Canup mostrou que se, o planeta que chocou com a Terra tivesse quatro ou cinco vezes o tamanho de Marte, a composição da nuvem de poeiras já seria muito semelhante à do nosso planeta. Portanto, já podia ter originado uma Lua com as características que hoje conhecemos.
Uma ideia consensual? Nem por isso. Frédéric Moynier, da Universidade de Washington em St. Louis, nos EUA, mantém a opinião sobre o encontro da Terra com Teia. No estudo que publica esta semana na revista Nature, conclui que a Terra e Marte tiveram uma origem comum, mas a Lua já não surgiu na mesma altura. Fundamentou esta conclusão na análise a exemplares de rochas lunares e meteoritos marcianos: a Lua tem uma forma de zinco mais “pesada” que só é possível perante uma vaporização das rochas, que libertou os átomos de zinco mais “leves”. Esta vaporização, considera Frédéric Moynier, só pode ser explicada por uma colisão catastrófica. Por isso, defende que o pai da Lua pode ter sido Teia.
Num terceiro trabalho, também publicado na Science, Matija Ćuk, da Universidade de Harvard, tenta conciliar as hipóteses de a Lua ter resultado de uma colisão e ter ficado parecida com a “mãe”. Além disso, o seu modelo procura ainda explicar o movimento actual da Lua. Depois do grande choque, a ela girava sobre si própria mais rapidamente do que hoje, mas a interacção com a Terra levou a que esse movimento fosse abrandando. É por isso que actualmente vemos sempre a mesma face da Lua. E a Terra, que naqueles tempos rodava mais depressa, tinha os dias mais curtos e o clima mais caótico, também estabilizou.
Conclusão desta história: o pai da Lua pode continuar em dúvida, mas sem ela o nosso planeta não teria as características que permitem a vida.
fonte: Público
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