sábado, 8 de setembro de 2012

O mistério dos relatos sobre o céu


A última coisa de que se recorda é da enfermeira a dizer: “Vai ter um sono maravilhoso.” No momento seguinte, Ana Gomes já estava a passar por um corredor escuro, atrás de uma voz masculina que a chamava: “Anda, não tenhas medo!” A antiga consultora de estética viu-se num corredor, ao fundo do qual avistou um enorme foco de luz. “Era como uma daquelas noites de luar muito forte em que ficamos cá em baixo, no lusco-fusco, a observar a luz vibrante da lua”, descreve à SÁBADO. 

Foi assim que começou a sua experiência de quase morte. Tinha 18 anos e estava a ser operada a uma cardiopatia congénita, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa. Naquela altura, há mais de 30 anos, era uma intervenção muito complicada, que implicava transfusões de sangue e longos preparativos. Ana passou nove horas no bloco operatório e teve duas paragens cardíacas. Terá sido numa delas que viveu a experiência de quase morte, fenómeno que ocorre com pessoas em situação de morte clínica, mas que conseguem sobreviver através de manobras de reanimação. Durante este período de tempo, que geralmente é curto, há uma falência respiratória, cardíaca e cerebral. A pessoa está num estado de consciência modificado.

Em Portugal verificar-se-ão, em média, cerca de dois a três mil casos por ano de experiências de quase morte, em comparação com os 14 milhões registados nos Estados Unidos, segundo a Near-Death Experience Research Foundation, um organismo americano dedicado ao estudo destas experiências. O número é avançado por Manuel Domingos, presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia, que começou a interessar-se pelo fenómeno há 30 anos, na sequência de um caso que lhe apareceu no consultório. Tratava-se de um homem de 57 anos que tinha estado em coma diabético e que lhe fora enviado por um colega neurocirurgião. O médico queria despistar uma possível demência, já que, depois do coma, o paciente queixava-se de frequentes perdas de memória e de falta de atenção.

Foi enquanto estava a recolher a história clínica do doente que Manuel Domingos foi surpreendido com estas palavras: “Quando eu estive morto...” A primeira reacção do neuropsicólogo foi de descrença, mas decidiu investigar. Sabia onde ele tinha estado internado e pediu informações ao hospital. “Descobri coisas no seu relato sobre a operação a que foi sujeito que coincidiam com o que se tinha passado enquanto esteve clinicamente morto.”

Descrições de casos como este não são assim tão raras no meio clínico, sobretudo entre médicos e enfermeiros dos serviços de urgência e dos cuidados intensivos. Cristina Granja, médica que trabalhou 19 anos nos Cuidados Intensivos, ouviu vários relatos desta natureza. Diz que os doentes costumam falar destas experiências na consulta de follow up (criada pela médica no Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos) e não durante o tempo em que estão internados. 

“O relato clássico é que vêem uma luz ao fundo do túnel e uns anjos azuis, que provavelmente somos nós [equipa médica], que andamos com batas azuis.” Também há quem refira a experiência da descorporização. “Dizem que saem do corpo e se vêem deitados na cama”, conta a médica especialista em Cuidados Intensivos à SÁBADO.


Alexandre Castro Caldas, conhecido neurologista e director do Instituto de Ciências de Saúde da Universidade Católica Portuguesa, vê nestas experiências fenómenos puramente biológicos. Diz que resultam de uma reacção do corpo, que provoca uma percepção no indivíduo, mais tarde interpretada à luz das suas crenças. 

O médico explica que quando uma pessoa está a ser reanimada, embora apresente sinais de morte cerebral, pode estar num estado de consciência intermédio, que lhe permite processar alguma informação, mesmo que não possa interagir com o mundo exterior. 

“Um artigo publicado recentemente na revista Lancet, da autoria de um cardiologista holandês, Pim van Lommel, conta a história de um doente que teve um enfarte na rua, entrou no hospital em paragem cardiorrespiratória e teve de ser reanimado. Dias depois, quando uma enfermeira entrou no seu quarto, ele disse: ‘Esta senhora é que sabe onde estão os meus dentes.’ Isto prova que há níveis de consciência que não estão propriamente perdidos”, defende Castro Caldas. E acrescenta: “Há uma quantidade de informação que é processada, não de forma inteiramente consciente, mas que fica lá guardada.”

O especialista recorda ainda que a comunidade científica acredita que o REM (fase do sono na qual ocorrem os sonhos mais vívidos) pode estar envolvido neste processo. “O período REM é fundamental para a consciência porque estimula o aparecimento de imagens. Numa baixa de oxigenação (natural nestas experiências) pode-se activar o locus coeruleus (área do cérebro), que activa o REM e portanto geram-se imagens vivas.” 


Imagens não faltam no bestseller de 2001 O Céu Existe Mesmo. Editado pela Lua de Papel, chegou a Portugal em Junho do ano passado, depois de ter vendido cinco milhões de exemplares nos Estados Unidos (por cá atingiu os 170 mil exemplares e foi o livro mais vendido em 2011 e até ao momento em 2012). Relata a história de um rapaz então com 4 anos, Colton Burpo, que diz ter estado no céu durante uma cirurgia de urgência ao apêndice, e foi escrito pelo seu pai, o pastor evangélico Todd Burpo, e por Lynn Vincent, jornalista e autora de vários bestsellers, entre eles uma biografia de Sarah Palin, ex-candidata republicana à vice-presidência dos EUA.

O que levantou mais curiosidade foram os relatos da criança, que, semanas depois de voltar para casa, começou a contar à família pormenores do que viu durante a operação. Revelou, por exemplo, que esteve sentado ao colo de Jesus, que todas as pessoas tinham asas (excepto Jesus, que “subia e descia como um elevador”), que encontrou o avô Pop (que morrera anos antes de ele ter nascido) e que conheceu uma irmã, que nunca tinha chegado a nascer (a mãe abortou espontaneamente de um bebé antes de engravidar de Colton, mas nunca lhe falou sobre isso). O diálogo entre mãe e filho sobre este assunto é tanto mais bizarro quanto o facto de o autor do livro afirmar que a mulher nunca soube de que sexo era a criança que perdeu: 

– Eu tenho duas irmãs. Tu tiveste um bebé na barriga, não tiveste?
– Quem é que te disse isso?
– Foi ela, mamã. Disse que tinha morrido na tua barriga. Mas Deus adoptou-a.

Na sua experiência de quase morte, Ana Gomes, com quem a SÁBADO chegou à fala através de um médico, não encontrou familiares nem amigos. Mas, por um momento, sentiu um toque da avó. “Sei que era ela pela maneira como me tocou no rosto. Só ela me fazia festas com as costas dos dedos.” 

Depois de atravessar o tal corredor, encontrou um jardim “muito verde, cheio de flores silvestres de várias cores e onde, ao longe, avistou montanhas com um género de casas abobadadas”. Havia muita luz e mais de 20 pessoas, algumas a passear, outras a conversar. Não conseguiu reconhecer-lhes a cara. “Mas não era assustador, olhavam-me, sorriam e pediam-me para não ter medo”, conta à SÁBADO.


Foram esses vultos que a conduziram até uma figura masculina, que se encontrava sentada, à sua espera, num banco do jardim. Ana só se recorda do seu sorriso, que descreve “como bonito e terno”, e que vestia um manto branco. Não lhe perguntou quem era, mas sentiu-se segura. “Senta-te junto de mim”, disse-lhe a figura paternal.

Ficaram debaixo de uma árvore enorme, que descreve como um grande embondeiro como os que viu em Angola (país onde nasceu). “Estaremos sempre presentes”, disse-lhe o homem, enquanto a abraçava. Avisou-a de que não ia ter uma vida fácil, mas ultrapassaria todas as dificuldades. Depois pediu-lhe para ir brincar. 

Ana juntou-se a outras crianças que por ali andavam. Deu cambalhotas na relva, jogou à apanhada e ao lenço. Depois fizeram uma roda e cantaram juntos. “Houve um momento em que me senti em África, na fazenda do meu avô, a rebolar no chão, descalça e feliz”, descreve.

Ao fim de um bocado, a figura masculina chamou-a novamente: “Ainda não chegou o teu momento”, disse-lhe. Ana não percebeu bem o que isso queria dizer, mas lembra-se de ter pensado que gostava de ficar ali. “Sim, minha filha, mas agora vais ter de ir”, insistiu o homem. Logo depois, começou a ouvir uma voz diferente que a chamava: “Ana! Ana!” Viu o seu corpo deitado na mesa do bloco operatório e os médicos a reanimá-la. 

Este regresso ao corpo é comum nas descrições de experiências de quase morte. Um dos primeiros a descobri-lo foi Raymond Moody, médico, doutorado em Filosofia, que há mais de 40 anos investiga o tema e é autor de vários bestsellers sobre o assunto, entre eles o famoso A Vida depois da Vida.

Foi na obra do americano que o neuropsicólogo Manuel Domingos encontrou as primeiras pistas. Comparou os relatos de Moody com os do seu paciente e encontrou semelhanças.

Recorda-se de o homem lhe ter dito que se viu a sair do seu corpo para se sentar na cama ao lado da sua. Instantes depois, estava a olhar-se de cima, do tecto da enfermaria, e foi capaz de descrever com precisão as manobras de reanimação que lhe fizeram: “Bateram-me no peito e deram-me choques”, terá relatado ao neuropsicólogo. 

Disse-lhe também que foi assistido por um médico e duas enfermeiras – Manuel Domingos confirmou com o hospital que o homem realmente esteve em morte clínica e que foi tratado por aquelas três pessoas. O doente contou-lhe ainda que atravessou um túnel e que viu uma luz. “Pareceu-me estar a voar e era muito agradável”, descreveu.


Nas sessões posteriores, o neuropsicólogo testou-o para ver se entrava em contradição, o que nunca aconteceu. “Fazia-lhe perguntas com rasteiras: ‘Então, você diz que esteve sentado num cadeirão?’ E ele corrigia-me: ‘Não doutor, eu estava sentado na cama.’” Concluiu que o paciente não podia estar a inventar.

Pouco tempo depois, apareceram-lhe mais duas pessoas com relatos de experiências de quase morte: uma enfermeira com mais de 60 anos que sobreviveu a um acidente cardiovascular e uma arquitecta de 42 anos, vítima de uma paragem cardíaca durante o parto. 

Diz que já atendeu casos de todas as idades (embora ocorram com maior frequência entre os 40 e os 50 anos) e de todas as classes sociais. Há gente muito religiosa, mas também ateus. A única diferença entre ambos são os pormenores dos relatos: “Enquanto um ateu diz: ‘Cruzei-me com um ser luminoso que não percebi bem quem era’, o católico não tem dúvidas em afirmar que era um anjo. É uma questão de enquadramento cultural.” O especialista garante, porém, que “as pessoas não dizem que viram Deus, nem é frequente fazerem descrições demasiado religiosas”.

O padre franciscano e maior especialista português em Bíblia, Joaquim Carreira das Neves, conhece o fenómeno. “Recebi três pessoas que dizem ter morrido e voltado à vida. Foram operadas, o médico não dava nada por elas, mas a verdade é que sobreviveram.” O teólogo reconhece que há cada vez mais relatos destes, e fala numa certa avidez de espiritualidade. “A ciência não nos deu aquilo que procurávamos. Pensámos que ela resolvia tudo, a vida e a morte, e afinal...”


O crescente número de divórcios e a crise económica acentuaram “uma perspectiva de angústia da vida”. Em momentos decisivos, “quando as pessoas correm perigo, é natural que busquem uma certa redenção”, diz Carreira das Neves, reconhecendo que a espiritualidade pessoal (“que nada tem de católica, ou de budista”) tem cada vez mais adeptos.

As três pessoas que o procuraram, duas ateias e uma católica, apresentaram versões semelhantes. “Falaram de uma luz ao fundo de um túnel e descreveram uma sensação enorme de felicidade. Mas estavam a referir-se a um estado, e se falaram do céu foi como metáfora.”

Para os que não tinham fé, a experiência foi ainda mais estranha. “Passaram a ter uma crença pessoal, e não sabem viver com isso. Eram pessoas casadas, com dificuldades em contar o que se passou ao marido ou à mulher, e aos filhos, por medo de serem considerados loucos.”

Ana Gomes teve o mesmo receio. Mas não resistiu a desabafar. Antes de ter alta, foi falar com o cirurgião que a operou. Descreveu-lhe o sítio onde esteve e disse-lhe que tinha visto a equipa médica reanimá-la quando o seu coração parou. O médico ouviu a história toda e, no fim, alertou-a:

“Miúda, tens duas opções. Ou guardas esse segredo para ti, porque se o revelares poderás ser considerada lunática; ou contas e arriscas-te.” Ana Gomes, hoje com 51 anos, foi sempre muito cautelosa. Só revelou a experiência às pessoas mais próximas, como o ex-marido e o filho.


Nos últimos 30 anos, leu vários livros sobre experiências de quase morte e consultou um bispo católico para tentar compreender o que lhe aconteceu. Educada para ter fé (a família segue a Igreja Adventista do Sétimo Dia), sempre teve dúvidas, mas acredita que há uma vida depois desta: “E aquele sítio onde estive era o céu.”

Para Lurdes Dias, comerciante, de 45 anos, o céu é apenas uma convenção – um nome que puseram ao sítio para onde iremos depois desta vida. “Penso que todos faremos essa viagem. Acho que o espírito vai evoluindo para a pessoa se tornar cada vez melhor”, diz à SÁBADO. 

Teve uma educação católica, mas hoje já não se identifica com nenhuma religião. Aos 25 anos passou por uma experiência de quase morte. Comprou uns comprimidos para secar o leite, porque estava a amamentar há mais de um ano, e fez uma má reacção ao medicamento. A última coisa de que se lembra é de ter caído no chão. 

O que aconteceu depois foi confuso: “Olhei para baixo e vi o meu corpo; estava a flutuar.” “Não é possível”, pensou incrédula. Viu o marido e uma vizinha levarem-na para o quarto e deitarem-na na cama. Ficou a observar-se ali estendida durante algum tempo e a seguir passou-lhe à frente um filme rápido da sua vida. Por fim, avistou uma luz intensa de onde provinha uma voz masculina que lhe pedia: “Vem!”

Entrou num espaço imenso, semelhante a um jardim, mas sem árvores. Tinha flores, cor de laranja e amarelas, e pessoas. Mas ela não conseguiu ver-lhes a cara. Esses vultos estavam vestidos com túnicas largas, que lhes tapavam braços e as pernas. Nunca interagiram com ela.


O melhor desta experiência foi a maneira como se sentiu. Descreve a sensação como semelhante ao nascimento de um filho. “A maior felicidade do mundo, aquela que parece que não cabe em nós”, conta. A seguir, ouviu a mesma voz, mas mais presente, quase como se estivesse ao seu lado, dizer-lhe: “Acorda, ainda não chegou a tua vez.” 

Quando despertou, ainda tinha uma vaga sensação de harmonia e paz, mas logo regressaram as dores e o mal-estar. Ficou uma semana de cama. Terá estado apenas alguns minutos desmaiada (e não tem a certeza se o coração parou), mas pareceu-lhe uma tarde inteira. 

A médica Cristina Granja encara tudo isto como delírio ou alucinação. Sublinhando que, nestas situações, os doentes não conseguem distinguir o que é real do que não é, tenta explicar as experiências de quase morte de duas formas: pelo efeito dos fármacos, “como os analgésicos, a dopamina e a adrenalina, que são necessários para manter o paciente vivo e que facilitam a ocorrência destes delírios”; ou pela falência do cérebro. “Quando o doente está em estado crítico, os órgãos começam a falhar. Esses delírios ou alucinações são disfunções cerebrais que permanecem durante algum tempo”, defende. 

Sugere ainda que o fenómeno pode ser uma tentativa de o cérebro apagar a falha da memória. “Nós temos um contínuo de existência na memória; estes doentes sofrem um corte, não se lembram do que aconteceu.” Para eles, “recuperar o vazio é fundamental.” 

O presidente da Sociedade Portuguesa de Neuropsicologia rebate: “As experiências de quase morte não provam que há vida depois da morte. Mas sugerem que a morte não é um fenómeno de tudo ou nada; é possivelmente um contínuo ou uma transição. Como se este eu transitasse para outro nível de consciência.”

Uma equipa internacional patrocinada pela Nour Foundation (NF), fundação humanitária criada em 1985, nos EUA, estuda há anos o que acontece ao corpo, e sobretudo à mente, no decorrer do processo de morte clínica, quando o indivíduo deixa de registar actividade cerebral. 

Em 2008 lançou um projecto chamado Aware, liderado por Sam Parnia, um dos maiores especialistas mundiais em estudos científicos sobre a morte, com um vasto trabalho de investigação em hospitais do Reino Unido e na Cornell University, em Nova Iorque. Este projecto tem como objectivo analisar pessoas que, apesar de terem sido declaradas clinicamente mortas, tiveram pensamentos, ideias ou outros processos mentais. O estudo ainda não está terminado, mas as primeiras conclusões indicam que a consciência poderá persistir por algum tempo após a morte clínica. “Até agora assumia-se que a consciência se perdia quando o cérebro deixava de funcionar, contudo já sabemos que ela pode ter um tipo de existência independente”, disse Parnia ao Daily Mail em Fevereiro. 


Marianela, empresária de 54 anos, nunca procurou explicações para o que lhe aconteceu há 30 anos quando, grávida do primeiro filho, sofreu um aborto espontâneo.

Levada de urgência para o Hospital Particular de Lisboa, deram-lhe um sedativo que lhe provocou uma paragem cardiorrespiratória. “Provavelmente, deram-me algo forte e fiz reacção”, conta à SÁBADO. 

Depois disso, lembra-se de ter tido uma sensação de queda no vazio e de avistar uma luz muito intensa. Quando a alcançou sentiu-se “serena”. Quis penetrar nessa luz mas, nesse momento, sentiu-se a ser puxada de volta. Regressou ao seu corpo a gritar, revoltada: “Porque me trouxeram?! Estava tão bem!” À sua volta, estavam os médicos, a mãe e a irmã, que choravam desesperadas. 

Colton Burpo tem hoje 14 anos e é um adolescente saudável que se habituou a ser entrevistado pela CNN. A sua história acaba de ser relançada em Portugal em forma de livro infantil, com ilustrações e um retrato de Jesus, o único que, diz o pai, ele reconheceu depois de ter acordado da operação.

Foi pintado por uma criança lituano-americana, Akiane Kramarik, que terá começado a ter visões do Céu aos 4 anos. Aos 6 começou a pintar. Um dia arriscou fazer o retrato de Jesus. Uns amigos dos pais de Colton viram a notícia na CNN e enviaram-lhes um link, com uma imagem do desenho.

Eis o que o pai conta: “De literalmente dezenas de imagens de Jesus que tínhamos visto desde 2003, Colton nunca encontrara uma que achasse estar certa. Pensei: ‘Já agora podemos ver o que ele acha da tentativa de Akiante.’” Chamou-o ao computador. “Vê isto. O que é que este tem de errado.” Depois de um longo silêncio, a criança respondeu: “Este está certo.”

A profusão de pormenores do rapaz, que fala do céu como um sítio onde “nunca escurece”, com “portões feitos de ouro e pérolas”, cheio de “flores e árvores lindas, com “animais de todas as espécies” e “pessoas que nunca envelhecem”, suscita dúvidas a muita gente. Manuel Domingos defende que há aqui uma descrição demasiado concreta e palpável dos seres que o rapaz diz ter encontrado e que isso é pouco comum nas experiências de quase morte, assim como nos relatos infantis. “Regra geral, as crianças identificam as figuras que vêem como borboletas ou anjos, não lhe chamam Deus. Esse livro até pode partir de vivências correctas, mas foi feito em jeito de folclore religioso.”

Joaquim Carreira das Neves acredita noutra versão. Diz que os protestantes evangélicos (como o pai de Colton), sobretudo os calvinistas, “têm mais propensão para o biblicismo”, acreditando na existência de um céu como local de salvação, e que uma criança criada nesse ambiente terá tendência para recriar cenários e evocar figuras religiosas.

Para os padres católicos, como é o seu caso, a vida depois da morte permanece um mistério. E o Céu e o Purgatório já não passam de simples estados de alma. “Tenho fé em Deus e em vida além da vida, mas não tenho como prová-lo. E estes livros não me servem de prova”, defende. “O que é a vida para além da morte, para mim? Não faço ideia.”

fonte: Sábado

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