As abelhas andaram com as antenas nas costas durante uma semana (DR)
As abelhas não precisam de um mapa para saber qual é o melhor caminho. Uma análise do movimento das abelhas, que andaram com uma antena às costas, mostrou que elas descobrem rapidamente a melhor rota que lhes permite poupar centenas de metros quando visitam as flores. Invejada por qualquer caixeiro-viajante, esta capacidade permite às abelhas reduzir até 80% o tamanho possível dos percursos.
A equipa de Lars Chittka e Mathieu Lihoreau, ambos da Universidade Queen Mary, em Londres, treinaram abelhas para visitarem flores artificiais, oferecendo-lhes aí uma refeição à base de açúcar. Quando os insectos já estavam treinados, os cientistas dispuseram em forma de pentágono cinco flores e foram-nos libertando ao poucos, equipados com uma antena de radar. As suas viagens puderam assim ser acompanhadas e câmaras com sensores de movimento instaladas nas flores deram indicação das visitas.
Durante sete dias, as abelhas foram submetidas a exercícios de visita às flores entre as 9h e as 18h, que permitiram obter num total 1354 vídeos. Para as manter com vontade de visitar as cinco flores, a equipa só deixou em cada uma delas uma pequena porção do açúcar que as abelhas precisam por dia.
Os resultados da análise dos vídeos e dos registos das antenas, publicados na revista PLOS Biology, mostraram que, mesmo sem saberem onde se encontravam as flores, as abelhas apenas se deram ao trabalho de tentar 20 das 120 rotas possíveis. E, no final do exercício, tinham conseguido poupar cerca de 1500 metros em relação ao primeiro voo, o que permitiu reduzir em 80% o percurso.
Quando as flores artificiais foram levadas para um local diferente, as abelhas voltaram a ajustar as rotas. A análise dos movimentos permitiu ver que elas conseguem fazer uma comparação rápida dos percursos, para logo incluírem no seu itinerário aquele que é o mais curto até à flor onde iam alimentar-se.
"Usando modelos matemáticos, conseguimos dissecar o processo de aprendizagem das abelhas e como elas conseguem decifrar a melhor solução sem um mapa", sublinha Mathieu Lihoreau, segundo um comunicado da sua universidade. "No início, as rotas eram longas e complexas, com várias visitas às mesmas flores que já não tinham nada [para comer]. Mas à medida que ganharam experiência, as abelhas foram refinando as rotas através de tentativa e erro."
Como se não bastasse, a equipa de cientistas verificou ainda que cada abelha pensa pela sua cabeça: cada uma chega à flor e parte dela de direcções diferentes.
"A velocidade que as abelhas aprendem por tentativa e erro é extraordinária, pois pensava-se que estes comportamentos complexos só existiam em animais com cérebros grandes", resume Lars Chittka.
"É surpreendente que estas pequenas criaturas sejam tão flexíveis e tenham desenvolvido soluções para fazerem uso máximo dos pequenos cérebros que têm", comenta também o biólogo Fred Dyer, da Universidade Estadual de Michigan, nos Estados Unidos, citado no site ScienceNews.
Capazes de desafiar muitos cérebros humanos, estes cálculos das abelhas mostram que não é necessário um mapa mental elaborado para que as suas deslocações em territórios desconhecidos sejam eficientes e podem ajudar os cientistas a perceber como elas são afectadas por mudanças ambientais. Podem ainda ajudar a desenvolver algoritmos que permitam planear a rota de robôs para explorar locais desconhecidos.
"Em muitos casos, não se experimenta o mundo de forma holística, mas sequencial", refere Fred Dyer. "Quando um engenheiro não fornece um mapa, temos de experimentar o mundo passo a passo."
fonte: Público
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