domingo, 12 de junho de 2011

Por que tantas pessoas têm fobia a insectos e outros bichos pequenos?


Os medos são diferentes das fobias, segundo os especialistas 

Quando o tempo quente chega, abrimos as janelas de casa e eles começam a entrar. Se algumas pessoas apenas sentem repulsa, para outras são fobias difíceis de enfrentar.

Tinha ido acampar com os amigos, mas, como havia baratas no chão, Lígia Pinheiro, na altura com 15 anos, só viu uma solução: fechar-se no saco-cama. Quando os amigos a chamaram, ela já estava "roxa" lá dentro. Ana Martins já teve que bater à janela do vizinho do rés-do-chão para lhe pedir que tirasse o gafanhoto que estava à entrada do prédio a impedir-lhe a passagem. A Ana Sofia Veloso foi preciso que a fossem buscar a um campo, onde ficou paralisada, a gritar e a chorar, rodeada de gafanhotos. "Sei que é irracional, não se consegue perceber", desabafa Ana Sofia. Por que é que temos tanto medo de insectos e de outros bichos muito mais pequenos do que nós?

A teoria psicanalítica tem uma resposta; a cognitivo-comportamental, outra. Em ambas, o medo é diferente da fobia, porque no primeiro caso há um "objecto conhecido" que explica o receio. "É o medo dos ladrões, de atravessar a rua", diz Jorge Gravanita, da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica.

Já a fobia, para a psicanálise, pertence ao domínio do "irracional" e resulta do "deslocamento" de um outro medo, que está escondido no "inconsciente" e que pode estar ligado a outra esfera da nossa vida, como o trabalho, a família e os amigos.

Medos ancestrais

Na teoria cognitivo-comportamental, a fobia, que resulta do medo de um objecto que não constitui perigo, pode ter origem num episódio associado ao objecto ou ser feita por "aprendizagem social". "Desde pequena, a pessoa vê que os outros têm esses medos", diz o docente de Psicologia da Universidade de Aveiro, Carlos Fernandes da Silva.

Mas por que é que tantas pessoas temem insectos e outros bichos pequenos, como aranhas e osgas? "Os répteis e os aracnídeos são medos ancestrais", frisa Carlos Fernandes da Silva. Para Jorge Gravanita, para além da carga simbólica que possuem, bichos como baratas, aranhas, osgas e gafanhotos fogem do nosso controlo, aparecem de repente, sem que saibamos quando nem de onde: "Interferem na nossa vida culturalmente organizada, desorganizam isso, vêm-nos perturbar com o seu corpo e desencadeiam defesas também elas primitivas". Permitem-nos gritar, esbracejar, eliminar. "Podemos matar, não nos vão criticar por isso", diz.

Um ponto comum entre as duas abordagens é não haver fobias tipicamente femininas ou masculinas, mas apenas "estereótipos sociais". Já a terapia é diferente: na psicanalítica, passa por "descobrir" o medo oculto; na cognitivo-comportamental, passa pela "exposição gradual" ao objecto. Esta é uma das razões pelas quais Lígia Pinheiro, de 26 anos, não procura ajuda: "Como tenho ideia de que teria que enfrentar o bicho, o meu receio é tão grande que prefiro viver com a fobia".

Fugir de uma borboleta

Lígia Pinheiro trabalha numa instituição particular de solidariedade social, nas actividades de enriquecimento curricular. Sempre teve medo de todos os bichos "pequenos, que se movam muito rapidamente e façam movimentos bruscos ou inesperados": "Fujo mais depressa de uma borboleta do que de uma cobra".

Ana Sofia, que trabalha no gabinete de comunicação da Universidade de Coimbra, não entende por que tem medo "duma coisa tão pequena" como uma borboleta, um gafanhoto ou uma barata voadora. Mas arrisca uma teoria: cresceu na cidade e, por isso, nunca foi habituada a conviver com aquela bicharada.

A Ana Martins, recentemente, valeu-lhe o gato que não descansou enquanto não apanhou o morcego que invadiu a casa. Quando a psicóloga de 32 anos acordou, depois de ter pedido ajuda a uma amiga e de se ter fechado na sala a dormir, já o felino o tinha comido.

fonte: Público

Sem comentários:

Enviar um comentário