Ilustração recente de Euryapteryx curtus com o pescoço numa posição mais natural
MICHAEL B. H.
Ilustração antiga da espécie Megalapteryx didinus, com o pescoço representado como se pensava na época. MEGALAPTERYX DIDINUS
O investigador Morten Allentoft fura um osso de moa para extrair ADN DR
Richard Owen, biólogo inglês que identificou os moas, ao lado de um esqueleto de um Dinornis
JOHN VAN VOORST
Uma análise genética de ossos de quatro espécies de moas confirma que estas aves não estavam em declínio antes de o homem colonizar a Nova Zelândia, como já se pensou. A última extinção da megafauna dos últimos cem mil anos foi tudo obra nossa.
Quando os europeus chegaram à Nova Zelândia, no século XVII, encontraram vários animais, como a ave kiwi, que tornam aquelas ilhas um local ímpar da biodiversidade da Terra. Mas as nove espécies de moas, que em tempos tinham reinado ali, já tinham desaparecido. Estas aves eram uns gigantes num mundo sem mamíferos terrestres. Sem asas, com dois metros de altura, 250 quilos, e o pescoço e a cabeça tombados para a frente, a fêmea do Dinornis robustus, o maior dos moas (é um substantivo masculino) e uma das maiores aves que já caminharam pela Terra, teria sido impressionante. A espécie foi observada pela última vez pelo povo maori, que se instalou na Nova Zelândia no século XIII. Em menos de 200 anos, os maori caçaram os moas e alteraram os ecossistemas, levando as nove espécies e outras aves à extinção.
Análises genéticas dos ossos destas aves levaram a pensar que os moas já estavam em declínio antes de a Nova Zelândia ter sido colonizada. Agora, um estudo que analisou marcadores genéticos de 281 indivíduos de quatro espécies diferentes de moas prova que, nos últimos milénios antes da chegada do homem, a diversidade genética destas quatro espécies não estava em declínio.
“As pessoas têm muitas vezes dificuldade em aceitar que os povos ‘primitivos’, com uma tecnologia limitada, podem causar a extinção de grandes animais”, diz ao PÚBLICO Morten Allentoft, um dos autores do artigo publicado na última edição da revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences. “Por isso, as pessoas procuraram outras causas como as alterações climáticas. Algumas análises genéticas feitas inicialmente, com base em pouca informação, sugeriam que os moas já estavam em declínio antes de os humanos chegarem à Nova Zelândia”, acrescenta o investigador da Universidade de Copenhaga, na Dinamarca.
“As nossas análises mostram que os moas tinham populações estáveis durante os 5000 anos antes da chegada dos humanos. Não há indicações de um declínio pré-humano da população. De facto, parece que as populações estavam a aumentar de tamanho”, explica Morten Allentoft.
Os moas fazem parte do mesmo grupo de aves dos kiwis, das avestruzes ou das emas. Mas, juntamente com os kiwis, separaram-se há mais tempo daquela linhagem. As avestruzes e as emas ainda conservam as asas, ao contrário dos moas. Esta divisão tornou-se possível depois de as duas ilhas principais que formam hoje a Nova Zelândia se terem separado da Austrália e da Antárctida há mais de 75 milhões de anos, quando os dinossauros ainda dominavam a Terra.
Agora, a equipa analisou fósseis de moas provenientes de cinco locais no Norte da província de Canterbury, que fica no Leste da Ilha Sul da Nova Zelândia. A maioria destes fósseis já pertenciam a colecções de museus do país, mas alguns foram escavados e tirados de um pântano.
Além do Dinornis robustus, os ossos estudados pertenciam a animais das espécies Euryapteryx curtus, Emeus crassus ePachyornis elephantopus. O fóssil mais velho tem 13.000 anos e o mais novo tem apenas 650 anos, já depois da presença dos maori.
A equipa conseguiu obter amostras de ADN de animais distribuídos ao longo de milénios. Isso permitiu avaliar a diversidade genética daquelas populações durante aquele tempo para responder se, de facto, os moas estavam em declínio antes do aparecimento dos maori na Nova Zelândia.
“Há uma correlação entre o tamanho da população e a diversidade genética. As pequenas populações têm pouca diversidade genética. Como analisámos os moas ao longo do tempo, pudemos medir a diversidade genética ao longo desse tempo”, explica Morten Allentoft.
Como estas aves desapareceram há relativamente pouco tempo e há uma abundância dos seus vestígios (desde ossos, tecidos até fezes secas, os coprólitos), tem havido nas últimas décadas uma aposta forte na análise genética, que já contribuiu para se conhecer a própria paleogeografia da Nova Zelândia. Assim, a equipa utilizou ADN das mitocôndrias – as chamadas “baterias das células” –, e seis marcadores do ADN do núcleo, especialmente desenvolvidos para os moas.
fonte: Público
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