Rogério Bertani, investigador do Instituto Butantan, descobriu nove espécies novas e coloridas de caranguejeiras na vegetação da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga. A aranha "Typhochlaena curumim" (foto) foi descoberta na Paraíba Rogério Bertani / Zookeys
As novas espécies vivem nas plantas da vegetação brasileira, como a "Iridopelma marcoi", que foram descobertas nas árvores de São Desidério, cidade da Bahia Marco A. Freitas / Zookeys
A aranha "Iridopelma katiae" foram descobertas nas bromélias do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia - algo raro entre as caranguejeiras, segundo o investigador. As fotos mostram os primeiros estágios desse tipo de aranha (140 e 141), assim como as diferenças entre fêmeas (142) e machos (143) da espécieRogério Bertan / Zookeys
As imagens acima detalham os primeiros estágios da "Iridopelma oliveirai" (162 e 163) e as diferenças entre as fêmeas (164) e os machos (165) da espécie. Esta aranha vive na caatinga da Bahia Rogério Bertani / Zookeys
A "Iridopelma vanini" também é endémica da caatinga nordestina, mas esta vive no Piauí Rogério Bertani / Zookeys
A "Pachistopelma bromelicola" foi descoberta na Mata de São João, na Bahia, vivendo dentro de bromélias, algo raro entre esse tipo de aranha, segundo Bertani. As fotos detalham os primeiros estágios da espécie (52 a 55) e as diferenças entre a fêmea(56) e o macho (57) da espécie Rogério Bertani / Zookeys
A caranguejeira "Typhochlaena ammae" foi descoberta em Santa Teresa, no Espírito Santo, local de vegetação da Mata Atlântica Rogério Bertani / Zookeys
O Cerrado em Tocantins acomoda as espécies da "Typhochlaena costae" Rogério Bertani / Zookeys
Esta fêmea da "Typhochlaena paschoali" foi descoberta em Camacam, na Bahia pelo investigador do Instituto Butantan Rogério Bertani / Zookeys
Peludas e coloridas, assim são as nove tarântulas agora identificadas no Brasil. Vivem nas árvores e, apesar de poder haver quem pense que têm um aspecto pouco simpático, são inofensivas.
Das nove espécies, classificadas em três géneros diferentes, a que mais chama à atenção é a Typhochlaena costae. Tem o corpo pintalgado de cor-de-rosa, amarelo e azul e é das tarântulas arborícolas mais pequenas que se conhecem, com apenas dois ou três centímetros de comprimento.
Mas no conjunto agora descrito há tarântulas de outras cores e tamanhos, todas elas com um certo ar de peluche, devido aos pêlos no corpo.
As das espécies Iridopelma katiae e Pachistopelma bromelicola, cujos representantes podem chegar aos 13 centímetros de comprimento, têm o corpo de um vermelho quase castanho.
Todos os exemplares descritos são coloridos, ao contrário do que seria de esperar em tarântulas adultas, que normalmente não têm cores, diz ao PÚBLICO Rogério Bertani, aracnólogo do Instituto Butantan de São Paulo e responsável pelo projecto de identificação destas espécies. “Os jovens de tarântulas arborícolas são normalmente coloridos, mas os adultos costumam perder as cores exuberantes. Alguns padrões encontrados nestas espécies são únicos e não aparecem em nenhuma outra espécie conhecida.”
Por que razão o corpo é tão colorido é uma pergunta ainda sem resposta. “Esse colorido deve ter alguma função protetora contra predadores. Porém, até o momento, não conheço nenhum trabalho que tenha sido feito para demonstrar a real função dessas cores”, responde o aracnólogo.
As tarântulas arborícolas são conhecidas nalguns locais tropicais da Ásia, África, América do Sul, América Central e nas Caraíbas. No Brasil, é na Amazónia que vive a maior parte das espécies. Porém, estas nove são do Brasil central e oriental, uma descoberta inesperada e que, para Rogério Bertani, mostra o quão pouco se sabe sobre a fauna do planeta.
Estas tarântulas (que são aranhas) chegaram até ao aracnólogo de diversas maneiras. “Algumas espécies foram recolhidas em expedições, outras tinham sido recolhidas há muito tempo e estavam guardadas em colecções científicas e outras foram encontradas por outros aracnólogos que sabiam que eu estava a trabalhar com esse grupo de aranhas e me enviaram os exemplares.”
As tarântulas arborícolas têm o corpo fino e leve para serem ágeis e as pernas compridas e ligeiramente mais largas nas extremidades, para poderem trepar com mais facilidade. Em relação à alimentação das novas tarântulas, também ainda não há certezas. “Provavelmente alimentam-se de insectos, outras aranhas e, esporadicamente, de pequenos vertebrados, como sapinhos”, diz Rogério Bertani.
Além de serem coloridas, outro aspecto curioso destes animais, cuja descrição pormenorizada foi publicada na revista ZooKeys, é que algumas das nove espécies vivem dentro de plantas da família das bromélias. “Apenas conhecíamos uma espécie que vivia exclusivamente dentro dessas plantas, e agora temos outra espécie especializada em bromélias”, diz o aracnólogo brasileiro. “Nos locais onde vivem tarântulas arborícolas, esse é dos poucos com água e um refúgio para a luz solar intensa”, acrescenta o investigador, citado num comunicado do grupo editorial da revista.
A intensa actividade humana, com a destruição do seu habitat, pode ter efeitos perversos na preservação destas espécies, que são dependentes da vegetação. Apesar de não haver estudos que mostrem que estão ameaçadas, o cientista sugere mais investigações, para garantir a conservação das espécies. Além disso, é preciso ter cuidado com outra ameaça: como são espécies coloridas, podem atrair o interesse do comércio de animais de estimação.
fonte: Público
Sem comentários:
Enviar um comentário