O mapa de matéria escura, com o quadrado do mapa anterior, onde está a Lua
Os cientistas conseguiram produzir o maior e mais detalhado mapa da matéria escura do Universo, responsável pela maioria da matéria existente. A fotografia foi apresentada nesta segunda-feira, no 219º encontro da Sociedade Americana de Astronomia, em Austin, nos Estados Unidos.
Pelos nossos olhos, o Universo parece um vazio escuro permeado por milhares de milhões de galáxias aqui e ali. Mas, aparentemente, a matéria que conhecemos bem, os protões, neutrões, electrões e outras partículas, perfazem apenas 4% do Universo.
Do que é feito o resto? Matéria escura e energia escura. A matéria escura será 23% do Universo. Os físicos teóricos defendem que é a existência desta matéria que explica como as galáxias estão presas umas às outras. O resto, 73% do Universo, será formado por energia escura, ainda mais misteriosa, e que funcionará como uma força repulsiva que provoca a constante expansão do Universo.
“Sabemos muito pouco sobre o universo escuro”, disse Catherine Heymans, investigadora da Escola de Física e de Astronomia da Universidade de Edimburgo, durante a conferência de imprensa sobre a apresentação do estudo, no encontro da sociedade. “Não sabemos o que é que a partícula da matéria escura é. Há uma ideia generalizada que a compreensão final do universo escuro vai ter que invocar alguma física teórica nova.”
Mas já se consegue fotografar as marcas que esta matéria deixa no Universo. “A teoria geral da relatividade de Einstein diz-nos que essa massa faz curvar o espaço e o tempo, por isso, quando a luz [de uma galáxia distante] atravessa a matéria escura, essa luz chega até nós curvada e distorcida”, explicou Heymans, que é co-autora do estudo.
Foi a partir deste conhecimento teórico e com ajuda do Telescópio Legacy Survey Canadá-França-Havai, situado no Havai, que o mapa foi construído. Durante cinco anos, o telescópio com uma lente de 3,6 metros e uma câmara de 340 megapixéis, fotografou 10 milhões de galáxias que estão a uma distância de seis mil milhões de anos-luz. O mapeamento cobre 1.000 milhões de anos-luz, um comprimento enorme visto que um ano-luz é a distância que a luz demora a percorrer 10 biliões de quilómetros.
O mapa resultante é 100 vezes maior do que o anterior e apanha a luz destes 10 milhões de galáxias a atravessar acumulações de matéria escura. É possível ver a matéria escura distribuída em pedaços que rodeiam aglomerados de galáxias, e que estão ligados entre si por filamentos mais finos. No meio, há espaços enormes e vazios, onde não existe matéria.
“É fascinante sermos capazes de ‘ver’ a matéria escura usando a distorção do espaço-tempo”, disse por sua vez o co-autor do estudo, Ludovic Van Waerbeke, da Universidade da Colômbia Britânica. “Dá-nos um acesso privilegiado a esta massa misteriosa do Universo que não pode ser observada de outra forma. Saber como a matéria é distribuída é o primeiro passo para a compreensão da sua natureza e de como ela se inclui no nosso conhecimento actual da física.”
fonte: Público
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