quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Canadá, o país dos discos voadores


O modelo do exército e a versão de caça

A década de 1950 foi a era dos discos voadores. Relatórios vindos de todas as partes do mundo, falavam de misteriosas aeronaves em forma de pires, capazes de voar a velocidade supersónica. Para o povo, e uma parte da imprensa, os discos eram uma prova da existência de seres extraterrestres interessados em nosso planeta. Poucos sabiam que alguns discos vinham de lugares bem menos distantes do que Marte ou Saturno. Eles eram criação de um engenheiro britânico radicado no Canadá, chamado Jack Frost. Trabalhando na empresa Avro Canadá, Frost produziu vários modelos de aeronaves circulares, em forma de disco, incluindo o famoso Avrocar, que encontra-se actualmente no museu da Força Aérea americana, em Dayton, no Estado de Ohio.

Frost ficou interessado em discos voadores quando trabalhava no projecto do caça supersónico canadiano Avro Arrow e acabou contratado pelos militares norte-americanos para desenvolver o super secreto "Projecto Y".

A história do Projecto Y parece a trama de um episódio da serie "X-Files", mas, aconteceu realmente, durante os anos da Guerra Fria. Na época, um dos maiores problemas dos engenheiros aeronáuticos era resolver a questão da estabilidade de aeronaves em velocidades supersónicas. O melhor projecto para um avião supersónico não funciona em velocidades subsónicas e vice-versa. Isso acontece porque abaixo da barreira do som, o ar se desloca em torno do avião formando um fluxo uniforme, como uma corrente de água. Além da barreira do som, o ar forma ondas de choque nas partes curvas das asas e da fuselagem. É possível criar um desenho específico para isso. O problema é que todo avião supersónico tem que reduzir a velocidade para pousar e torna-se então subsónico. Caças como o famoso F-104 Starfighter eram instáveis a baixas velocidades e mataram muitos pilotos em acidentes, durante os pousos e as descolagens.

Frost descobriu que a forma de disco não apresentava esse problema. Ela era eficiente em velocidades supersónicas e ao mesmo tempo estável em baixas velocidades. Tudo dependia do modo como o ar era direccionado em torno do pires de metal. Frost também percebeu que os discos podiam voar acima do solo através do chamado "efeito Coanda" onde um fluido, como o ar, segue a forma de uma superfície convexa.

Resultados

Depois de testar a tecnologia em várias miniaturas, Frost apresentou seus resultados a um grupo de militares americanos, que visitaram a sede da Avro, em Toronto, para ver o desenvolvimento do caça Arrow. Os americanos ficaram tão interessados na ideia de um disco voador, a voar com as cores da United States Air Force que aprovaram um financiamento de 750 mil dólares para a fase inicial do programa. Os 750 mil viraram dois milhões de dólares em 1956 e o disco voador passou a ser conhecido, nos corredores do Pentágono, como Projecto de Arma 606 A.

A Força Aérea Americana queria um disco para actuar nas funções de caça interceptador. Já o Exército americano queria um disco de pequeno porte, capaz de pairar acima do solo, transportando soldados e armas sobre rios e regiões pantanosas. As necessidades do exército eram mais fáceis de serem atendidas e a equipa de Frost construiu dois veículos que ficaram conhecidos como o Avrocar VZ-9AV e foram testados em bases militares. Os tripulantes ficavam dentro de duas bolhas transparentes, perto das bordas do disco, enquanto o centro era ocupado por uma enorme turbina a jato. Ela soprava o ar para baixo, criando uma pressão que levantava o veículo de duas toneladas de peso, fazendo com que se deslocasse na direcção escolhida pelo piloto.

Depois de vários testes foram encontrados problemas de estabilidade, difíceis de serem resolvidos. Em 1961 o Exército americano cancelou o contrato para o jipe voador e os dois discos foram mandados para o museu. O que aconteceu com o projecto da Força Aérea ninguém sabe ao certo. Há quem diga que vários discos foram construídos e usados em missões de espionagem sobre a antiga União Soviética. Mas, o governo americano nunca admitiu isso.

O que restou foram os dois modelos construídos para o Exercito. Um está no Museu Aeroespacial de Washington, o outro no Museu da Força Aérea. E há uma réplica em exibição no museu de Manitoba na costa oeste do Canadá. Daí que a velha pergunta sobre a existência ou não de discos voadores pode ser respondida com um sim. Eles não eram marcianos, eram canadenses.


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