domingo, 24 de abril de 2011

Cientistas juntam-se para "tirar do armário" animais e plantas coleccionados há 200 anos


Exemplar de Saí-de-fogo, capturado no Brasil em 1899, que está no Museu de Coimbra

Há em Portugal cerca de dois milhões de espécimes de animais e plantas, recolhidos ao longo dos últimos 200 anos, que estão prestes a “sair do armário” pela mão de cinco instituições de investigação que se decidiram juntar para salvar este espólio, através da criação de um consórcio.

"Não podíamos continuar a ver perder este património inestimável e irrecuperável", diz Paulo Gama Mota, director do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra. Aves, besouros, plantas e borboletas fazem parte de um verdadeiro reservatório de vida que sobreviveu a viagens oceânicas, convulsões políticas, incêndios. Hoje, estes bocadinhos de vida estão dispersos por caixas e armários de museus.

"Algumas colecções estão muito bem cuidadas", mas a maioria "precisa de medidas urgentes", admite Paulo Gama Mota, o porta-voz do Consórcio Nacional para a Preservação e Uso em Investigação das Colecções de História Natural, constituído em Dezembro. Esta semana reuniu-se pela primeira vez. "Houve um grande consenso em relação ao que queremos fazer", disse ao PÚBLICO, referindo-se ao encontro dos representantes do Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, Museu de História Natural da Universidade do Porto, Instituto de Investigação Científica Tropical e Museu de História Natural do Funchal. Estas instituições cuidam de entre 85 e 90 por cento do acervo nacional de História Natural.

O trabalho do consórcio começará pela compilação do número exacto de espécimes, pelos processos de adesão a organismos internacionais e por acordos de cooperação com vários organismos.

"Queremos definir, em conjunto, as melhores formas de incorporação de espécimes nas colecções, as melhores práticas de empréstimo e de acesso a elas por investigadores nacionais e estrangeiros", adiantou.

A ideia é preservá-las e colocá-las ao serviço da Ciência. "O abandono das colecções explica-se pela falta de interesse científico que existia no passado", explicou. Mas o cenário está a mudar. "Os exemplares recolhidos há muito tempo ganharam hoje um novo valor, graças às técnicas de biologia molecular" que permitem recolher outros tipos de informação.

O especialista lembrou que estas colecções podem ajudar à reintrodução de espécies como o lince ou o esturjão e são cruciais para comparar a biodiversidade actual com a que existia há cerca de 200. "O potencial é enorme", notou. "Por exemplo, nos Estados Unidos, os cientistas recorrem a espécimes de insectos para conseguir combater pragas na agricultura e o desaparecimento das abelhas."

Viagens filosóficas ao Brasil, Angola e Moçambique

As colecções contam histórias da biodiversidade do planeta. Grande parte dos espécimes que integram as colecções de História Natural do país foi recolhida nos séculos XVIII e XIX nas chamadas viagens filosóficas, especialmente ao Brasil, Angola e Moçambique.

Em Janeiro foi anunciada a descoberta de uma colecção "raríssima" de peixes do Brasil do século XVIII, na Universidade de Coimbra. Estes 68 exemplares foram recolhidos pelo naturalista português Alexandre Rodrigues Ferreira naquela que foi uma das maiores expedições científicas portuguesas.

Paulo Gama Mota salientou a importância internacional do espólio. "As colecções nacionais, separadas, são relativamente pequenas. Mas juntas são muito significativas da biodiversidade não só portuguesa mas a nível do planeta."

fonte: Público

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