terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Cruzes canhoto! - Bruxaria no Freeport


Poções e feitiços, bruxas e diabretes, lendas e monstros, o Freeport, em Alcochete, tem em exposição um conjunto de peças de arrepiar, coleccionadas por um italiano no início do século XX.

Alessandro era um rico proprietário e comerciante da região de Veneza. Não era crente no oculto, mas no tempo em que viveu - início do século XX - a bruxaria, a feitiçaria e as lendas sobre monstros, demónios e seres mágicos continuavam muito presentes em Itália e noutros países da Europa Central e Mediterrânica. Fascinado, Alessandro juntou uma colecção de objectos que agora percorre o mundo em exposição. Neste momento, Bruxaria e Criaturas Fantásticas pode ser vista em Alcochete, no Centro de Exposições do Freeport.

À entrada, somos confrontados com uma terrível cadeira de tortura, metade normal, metade com espinhos e peças para apertar os braços e as pernas. Faz parte de um dos seis módulos da exposição. Para já seguimos até às vitrinas repletas de poções, plantas, pós e pequenos animais venenosos. Os guias explicam que a acção de alguns destes produtos não passava de uma crença, outros podiam mesmo resultar. Um exemplo é a aguardente de víbora. Se fosse colocada uma víbora viva numa garrafa dessa bebida, o veneno que ela libertava antes de morrer poderia transformar um simples brinde numa sentença de morte. Também outras plantas e insectos tinham efeitos reais, ou pelo menos alucinogénicos.

Adiante encontramos os feitiços, que bruxas e feiticeiros podiam fazer sem contacto directo com uma pessoa para a afectar. Para o bem e para o mal, já que o 'mau olhado' e as maldições andam de mãos dadas com a procura do amor correspondido. Estes dois módulos são os que mais temos presentes na cultura tradicional portuguesa, já que monstros e seres da floresta são tradições mais vivas na Europa Central.

Em Itália, por exemplo, algumas jovens ficavam grávidas na altura das vindimas, quando passavam alguns dias fora de casa. Diziam ter sido vítimas dos Osel, seres que viviam nas florestas e as atacavam. Grande parte das pessoas acreditavam nisso. Esses seres alados, com grandes órgãos sexuais, estão representados numa secção específica, a do amor carnal. Há maquinetas, esculturas de falos, sempre sobredimensionados e amuletos para ajudar a manter o sangue a ferver.

Passamos às áreas do fantástico e do maligno, com duendes, gnomos, demónios e sereias. Alinhados, vários cadáveres são descritos como uma família mumificada de duendes. As parecenças com pequenos macacos denunciam os objectos, mas a imaginação de quem os fez não deixa de surpreender. Interrogamo-nos também sobre quem teria colocado asas de morcego num lagarto ou uma cabeça de cobra numa ave. Fosse qual fosse a descrição de um aldeão aterrorizado, era sempre possível dar 'vida' aos monstros que teria visto.

A exposição termina com vários objectos de tortura. Máquinas de empalar, guilhotinas, mesas para esticar as pessoas enquanto as queimavam ou máscaras para cortar o nariz e a língua. Tudo para fazer um acusado confessar os seus crimes maléficos. Era a Inquisição que lidava com esses assuntos e condenou com esse fundamento milhares de pessoas na Europa. Em Portugal não houve muita perseguição por bruxaria, segundo os registos existentes, apenas quatro pessoas morreram acusadas desses crimes

fonte: Sol

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