segunda-feira, 9 de maio de 2016

EUA esperam invasão de cigarras. Deixam o subsolo para acasalar


Em decibeis, canto da cigarra é superior, por exemplo, ao som emitido por um martelo pneumático | WIKICOMMONS

Podem viver quase duas décadas no subsolo, em forma de ninfa, e não existem em Portugal

As cigarras estão de volta. Dezassete anos depois, algumas zonas dos Estados Unidos - Nova Iorque, Ohio, Pensilvânia, Maryland, Virgínia e Virgínia Ocidental - preparam-se para assistir a uma explosão de milhões de cigarras, que emergem do subsolo para acasalar. Não há qualquer perigo associado à invasão, mas as comunicações nessas zonas podem ficar difíceis. É que os machos emitem um som estridente para atrair as fêmeas e têm tendência para cantar em coro. Um espetáculo fascinante, dizem os entomólogos, mas impossível de observar em Portugal, uma vez que a espécie só existe na América.

Enquanto as cigarras que existem por cá têm um ciclo de vida de dois a três anos, há artrópodes na América do Norte que vivem quase duas décadas em forma de ninfa. "É um espetáculo. São as chamadas cigarras mágicas. É muito interessante porque só aparecem em determinados locais e apenas de 13 em 13 anos ou de 17 em 17. Só nessas alturas se encontram com a humanidade", explicou ao DN José Alberto Quartau, antigo professor de Entomologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Depois de viverem largos anos a alimentar-se de raízes, as cigarras vêm à superfície para acasalar. Põem os ovos em plantas herbáceas, depois caem e morrem, deixando uma nova geração, que irá viver os mesmos anos debaixo da terra.

Ao contrário do que acontece em Portugal, na espécie norte-americana "a emergência acontece no mesmo local e ao mesmo tempo", o que causa uma "chinfrineira". As fêmeas são silenciosas, mas é através do canto que os machos as atraem.

A informação foi avançada pelo site Cicada Mania, da autoria de entomólogos e amadores, entusiastas do tema. Nas próximas semanas, é esperada uma "explosão" de milhões de cigarras em alguns locais, tal como aconteceu em 2013. "Isto porque há várias classes. Uma classe pode aparecer de 17 em 17 anos num determinado sítio, o que não quer dizer que daqui a dois ou três não haja outra que complete 17 anos num outro local", adiantou o entomólogo.

À partida não há qualquer perigo associado ao fenómeno, que é um "banquete para predadores". Contudo, se for numa zona agrícola, e como estamos a falar de largos milhares de artrópodes, "as fêmeas podem ferir as plantas ao pôr os ovos". Se houver um pomar por perto podem causar estragos, mas nada de grave.

"É um espetáculo que atrai muitas aves. Infelizmente, não temos nada disso em Portugal. Se tivéssemos, podíamos até pensar em turismo entomológico associado a outros produtos portugueses", defende o professor José Alberto Quartau. A cigarra mágica tem várias características que a tornam única. Desde logo, explica o professor José Alberto Quartau, "porque a maturação sexual atinge-se aos 17 anos, sendo por isso mais demorada do que na espécie humana." Como há um número muito concentrado de espécimes no mesmo local, "em decibéis, é um ruído ensurdecedor. Há tendência para cantarem em coro. É uma melodia extraordinária".

Relativamente às 12 a 13 espécies que existem em Portugal, é "mais preta", enquanto as que se podem observar por cá têm tons mais acastanhados. Ao longos dos anos, o som peculiar emitido pelas cigarras tem sido alvo de inúmeros estudos. De acordo com um artigo publicado em dezembro do ano passado na BBC, John Petti, um investigador da Universidade da Florida, nos Estados Unidos, decidiu fazer um estudar sobre para descobrir qual era o inseto mais barulhento. Na lista apareciam vários grilos e cigarras, mas foi uma Tibicen walkeri, da América do Norte, que ganhou, com um canto que chegou aos 108,9 decibéis.

Isto quer dizer que o canto da cigarra é superior, por exemplo, ao som emitido por um martelo pneumático.


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