segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mais 1,4 mil milhões de habitantes e menos floresta


Vinte anos depois da histórica Cimeira da Terra, o mundo tem hoje mais 1,4 mil milhões de habitantes, menos 300 milhões de hectares de floresta primária, as emissões de CO2 aumentaram 36% e a biodiversidade diminuiu 12%.

Este é o cenário que enquadra a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Rio+20 porque assinala os 20 anos da Eco92, a Cimeira da Terra - o maior evento realizado no âmbito da ONU até então, no qual se consolidou o conceito de desenvolvimento sustentável e que colocou as questões ambientais na agenda internacional.

Vinte anos depois, o conceito está bem difundido, mas, como defende o diretor-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), Achim Steiner, "em demasiadas áreas os indicadores ambientais continuam a aproximar-se do vermelho".

No prefácio de um relatório - "Keeping Track of Our Changing Environment / From Rio to Rio+20 (1992-2012)" - divulgado pelo PNUA para preparar o Rio+20, Steiner sublinha que, em apenas 20 anos "o mundo mudou mais do que muitos poderiam imaginar".

Na área ambiental, destaca, acumulam-se as provas das alterações climáticas e dos seus impactos no planeta, desde a perda de biodiversidade à degradação da superfície terrestre e da qualidade dos oceanos.

O relatório reconhece que houve melhorias, nomeadamente a redução em 98% dos químicos que destroem a camada do ozono desde que entrou em vigor o protocolo de Montreal, considerado pelo ex-secretário-Geral da ONU Kofi Annan como o acordo internacional mais bem-sucedido de sempre.

Outra melhoria ocorreu nos investimentos em energias renováveis, que ultrapassaram os 200 mil milhões de dólares em 2010, mais 540% do que em 2004.

Na maioria das áreas, contudo, os indicadores estão longe das metas.

Nos últimos 20 anos - em que o mundo passou a ter mais 1,45 mil milhões de habitantes, a população urbana aumentou 45% e o número de megacidades (com mais de 10 milhões de habitantes) passou de 10 para 21 - a produção alimentar cresceu 45%, mais do que a população mundial (26%).

Em média, um cidadão do mundo consome hoje 43 quilos de carne por ano, quando em 1992 esse valor não passava dos 34 quilos e no mesmo período o consumo de peixe aumentou 32%. A utilização dos recursos naturais mundiais aumentou em 40% entre 1992 e 2005, de 42 para quase 60 mil milhões de toneladas.

Globalmente, as emissões de dióxido de carbono aumentaram 36% entre 1992 e 2008, mas se se tiver em conta apenas os países em vias de desenvolvimento, o aumento foi ainda maior (64%), já que nos países desenvolvidos, o aumento foi de apenas 8%.

A temperatura média global aumentou 0,4°C entre 1992 e 2010 e a última década foi a mais quente desde que há registos, em 1880. Os 10 anos mais quentes de sempre aconteceram todos desde 1998.

Também a temperatura dos oceanos tem vindo a aumentar, de 0,22ºC acima da média em 1992 para 0,5ºC em 2010. Entre 1992 e 2011, o nível do mar aumentou cerca de 2,5 milímetros por ano.

A área mundial de floresta primária diminuiu em 300 milhões de hectares desde 1990 - o que equivale a uma área maior do que a Argentina - e uma percentagem cada vez maior das florestas mundiais foram replantadas, pelo que têm menos biodiversidade.

A biodiversidade é, aliás, outra área problemática: o índice Planeta Vivo, baseado na monitorização de 8.000 populações de vertebrados, diminuiu em 12% a nível global e em 30% nos trópicos.


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