Os cientistas recorrem a um radar na igreja do Convento das Trinitárias Descalças, em Abril do ano passado, para identificar locais onde poderá estar o túmulo
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As iniciais "MC" em ferro
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Cientistas forenses examinam fragmentos do caixão que se julga conter os restos mortais de Cervantes
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O caixão decomposto em múltiplos fragmentos AFP
Há quase um ano que os arqueólogos e especialistas forenses procuram no Convento das Trinitárias Descalças, em Madrid, o túmulo de Miguel de Cervantes (1547-1616), o autor de D. Quixote de la Mancha. Este sábado, a busca pode ter chegado ao fim.
Segundo a imprensa espanhola, os cientistas localizaram um caixão em avançado estado de decomposição e com as iniciais “MC” em ferro muito oxidado numa das laterais. Ainda que não tenha sido feito qualquer estudo dos restos mortais aí encontrados, os cientistas estão já em condições de afirmar que dentro desse caixão estão ossadas de vários corpos e não apenas de adultos. A sua primeira tarefa será agora separar os vestígios infantis dos restantes e, depois, distinguir os masculinos dos femininos, com base nas evidentes diferenças anatómicas. Reunidos os que pertenceram certamente a homens, os cientistas procurarão provas das lesões que terão deixado marcas profundas no corpo do escritor e dramaturgo.
Cervantes terá sido ferido na Batalha de Lepanto – conflito naval de 1571, que opôs a República de Veneza e o reino de Castela, entre outros estados que apoiavam o Papa, ao poderoso império otomano, que saiu derrotado -, no peito e na mão esquerda. Em virtude desses ferimentos, precisa o diário espanhol El País, os cientistas vão agora procurar nos restos mortais traços de atrofia óssea do metacarpo da mão esquerda e marcas do impacto de balas de arcabuz no esterno.
Estes dados específicos juntam-se a outros, como a idade do poeta e dramaturgo – teria 68 anos quando morreu, praticamente sem dentes (restavam-lhe apenas seis) – e uma deformidade na coluna.
Além dos estudos do esqueleto, os especialistas vão detalhar-se também na análise dos têxteis – Cervantes deverá ter sido enterrado com um hábito franciscano – e da madeira do próprio caixão (através de uma técnica chamada dendrocronologia, baseada nos padrões dos anéis do tronco usado, pode determinar-se a idade das tábuas que o compõem).
Radares e endoscopias
Sábado,12h: os especialistas da equipa dirigida pelo antropólogo forense Francisco Etxeberría detêm-se frente a um caixão na cripta das Trinitárias, um espaço exíguo, 4,80 metros abaixo do solo da igreja do convento e com 32 nichos destinados a ossadas. O entusiasmo, garante o jornal El País, era grande. Desde Abril do ano passado que procuravam o corpo de Cervantes, que ali terá sido sepultado a 23 de Abril de 1616.
“Estamos à procura do esqueleto de um homem, com cerca de 70 anos, que tenha seis ou menos dentes e lesões no antebraço e mão esquerdos. Lesões que foram descritas não como as de uma amputação, mas as de um membro que não funciona”, explicou o antropólogo, citado pela Agência France Press.
Até aqui, as pesquisas promovidas pela autarquia madrilena e envolvendo mais de 30 especialistas (peritos forenses, arqueólogos e historiadores) tinham incluído prospecções geofísicas – os técnicos recorreram a radares para determinar que locais da igreja do mosteiro deveriam ser objecto de buscas – e vários métodos de recolha de imagem por infravermelhos.
A hipótese mais provável, garante o diário El Mundo, é que o escritor e dramaturgo esteja no primeiro dos nichos da parede da cripta que agora está a ser estudada. Inicialmente, deverá ter sido sepultado noutro local do convento e depois, em virtude de alguma remodelação, os seus restos mortais terão sido trasladados.
No caixão com as iniciais “MC” foram feitos vários buracos com 20mm de diâmetro para que se pudessem introduzir pequenas câmaras – como numa endoscopia médica – e recolher amostras para futuros estudos antropológicos.
Esta investigação, orçada em 62 mil euros e paga pela autarquia madrilena, deverá continuar até que os cientistas possam dizer com certeza se se trata, ou não, do caixão de Cervantes.
fonte: Público
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