Ultimamente, o que não faltam são notícias sobre desastres naturais, especialmente terremotos.
Estamos ficando loucos, ou realmente estamos experimentando um aumento na taxa de grandes terremotos recentemente?
Especialistas documentaram, por exemplo, que por um período de quase 40 anos (após o terremoto de magnitude 8,7 de fevereiro de 1965 no Alasca), o mundo não viu um único grande terremoto.
Já nos últimos 7 anos desde o final de dezembro de 2004, houve nada mais, nada menos que cinco grandes terremotos – fora os moderados ou pequenos.
Estes incluem três terremotos na Indonésia: um de 2004, em Sumatra (magnitude 9,1), outro em Nias em 2005 (8,7), e um em Bengkulu (8,5) em 2007, além do terremoto no Chile em 2010 (8,8) e o último no Japão em 2011, (9,0).
Bom, pode-se argumentar que isso é uma consequência de melhores instrumentos de medição de terremotos e melhores relatórios desses grandes terremotos.
Sim, isso é verdade. Em 1931, havia cerca de 350 estações sismológicas e, hoje, existem mais de 4.000 estações. Os instrumentos que os sismógrafos usam para medi-los também são muito mais sensíveis.
Graças à internet, agora é possível saber mais sobre terremotos em poucos minutos, ao invés de semanas.
Aliás, os terremotos têm um impacto muito maior hoje do que no passado. Você deve ter notado que o terremoto de 2010 no Haiti, de longe o mais mortal desastre natural na história do hemisfério ocidental, que matou mais de 200.000 pessoas, não está na lista acima.
Isso aconteceu porque a magnitude do terremoto, 7, não foi tão excepcional. Port-au-Prince foi apenas um infeliz desenvolvimento urbano com uma infraestrutura muito frágil que se agrupou em torno de uma falha geológica.
Os terremotos recentemente se tornaram muito mais proeminentes devido ao seu número de mortos. Podemos acrescentar a isso o efeito do “mundo malvado”, onde as coisas parecem muito pior devido a uma mídia mais voraz.
No entanto, apesar disso tudo “explicar” o aparente aumento recente no número de grandes terremotos, não explica o facto de que este sentimento já foi expresso antes.
Não somos os primeiros a se perguntar: “será que os terremotos aumentaram?”. As pessoas fizeram essa mesma pergunta nos anos 60, depois de um aglomerado de terremotos durante o período de 1950 a 1965.
Ou seja, a questão é: grandes terremotos podem se aglomerar no tempo?
Se sim, isso revolucionaria a nossa compreensão actual da tectónica, porque implicaria que um grande terremoto pode de alguma forma provocar outro a muitos quilómetros de distância, ou coisa parecida.
De certa forma, não é completamente irracional que um terremoto num lado da Terra possa desencadear outro do outro lado.
Quando um grande terremoto passa, a Terra literalmente vibra como um sino, às vezes por até um mês depois.
Terremotos menores se aglomeram no espaço e no tempo. Eles fazem isso de acordo com a lei de Omori, que diz que a frequência de tremores secundários após um grande terremoto decai inversamente com o tempo.
Isso é devido ao choque do grande terremoto que faz com que todas as outras falhas “escorreguem”. Então, talvez um terremoto no Chile possa realmente fazer com que uma falha no Japão também entre em atrito.
Os cientistas Charles Bufe e David Perkins analisaram as estatísticas e concluíram que na década de 1960, bem como agora, realmente houve aumento da taxa de terremotos.
Eles sugeriram que isso poderia ser provocado por um monte de coisas as quais nós, meros humanos, não entendemos direito, como pressão de poros transitórios induzidos por tensões dinâmicas de ondas sísmicas, ou oscilações livres da terra geradas por grandes terremotos distantes, entre muitas outras coisas.
O ponto é: grandes terremotos parecem se agrupar no tempo. E agora?
Apesar dos dados, das pesquisas, das análises, nós, seres humanos, temos mania de encontrar padrão onde às vezes não há nenhum. Então grandes terremotos se agrupam mesmo ou não?
Parece que, essencialmente, não. Bufe e Perkins analisaram apenas terremotos de magnitude 8,5, que é um limiar, ao invés de um número aleatório.
Se redefinirmos esse número, as estimativas mudam. As chances de haver uma lacuna enorme de grandes terremotos de 1965 a 2000, por exemplo, são muito pequenas. Verifica-se que a probabilidade de que 16 eventos em um intervalo de 111 anos contenham tal lacuna longa é de apenas 1,3%.
A grande questão é: às vezes coisas de baixíssima probabilidade acontecem, e isso não é necessariamente um padrão, é apenas algo muito difícil de acontecer, que aconteceu.
Isso não é o fim da história, no entanto. Apesar de, estatisticamente, grandes terremotos não se aglomerarem, ainda é possível que descobrir que um agrupamento existe, de forma empírica, ou, na falta disso, através de uma explicação mecanicista plausível.
Outra coisa que pode corroborar uma hipótese de agrupamento de terremoto são mais dados. Se tivermos três terremotos de magnitude 8,5 no próximo ano, isso vai desequilibrar a balança para um agrupamento de terremotos. Dado que os últimos três terremotos de magnitude 8,5 mataram mais de 16.000 pessoas, essa seria uma prova bastante agridoce de que eles se aglomeram, não?