As comunidades ciganas de hoje são geneticamente bastante diversificadas
As populações ciganas europeias têm origem no noroeste da Índia. Um estudo genético português comprovou o que estudos antropológicos e linguísticos já tinham dito e mostrou que não existe nenhuma marca genética associável a este povo nómada.
“Não há nenhum gene de ‘ciganidade’. As comunidades ciganas, como a portuguesa, não são compostas por indivíduos que tenham uma ‘marca’ genética ou biológica distintiva”, explicou António Amorim, coordenador do estudo, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular (IPATIMUP).
Assim, a categoria ‘cigano’ revelou-se mais como uma construção social, uma atitude social de auto-identificação e de identificação pelos outros. “Geralmente pensamos que têm determinadas características e que são portadores de qualquer coisa distintiva. O que se verifica, de facto, é uma atitude social de auto identificação e de reconhecimento pelos outros, mas não corresponde a nada individualmente verificável do ponto de vista genético”, disse o investigador.
António Amorim admite que esta conclusão pode servir para “desdramatizar questiúnculas” ou atitudes xenófobas que surjam em relação às comunidades ciganas.
Contudo, o objectivo principal do estudo, publicado na revista internacional PLos ONE, foi confirmar a origem e raiz comum das populações ciganas e traçar o percurso das suas migrações. Os investigadores tinham já analisado em anteriores estudos as linhagens masculinas e marcadores genéticos com transmissão independente do sexo das populações ciganas portuguesas.
Agora, o estudo centrou-se nas linhagens genéticas maternas e veio confirmar que a origem destas populações se localiza no Noroeste da Índia, no estado do Punjab. Concluiu-se ainda que as suas migrações levaram a diferentes graus de mistura com as diferentes populações locais.
Ao contrário da crença actual, explica António Amorim, as comunidades ciganas de hoje são geneticamente bastante diversificadas e incorporaram de forma diversa os elementos genéticos das várias populações europeias. A incorporação de genes de origem europeia é maior quanto maior for a distância geográfica do ponto de origem e à medida que aumenta também o tempo decorrido na migração.
Na investigação foram analisadas 214 pessoas não aparentadas da Península Ibérica (138 das quais de Portugal), tendo os investigadores portugueses contado com a colaboração de cientistas catalães e de um austríaco.
fonte: Público
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