Nanopartículas de um meteorito que caiu na Terra em 1864 tinham traços de um isótopo raro, sugerindo que na origem do sistema solar esteve uma gigantesca explosão
Esta investigação começou em 1864, quando um meteorito de nove quilos caiu na localidade francesa de Orgueil. Na altura, o objecto foi levado para o Museu Nacional de História Natural, de Paris. Mas o valor científico deste meteorito não estava completamente explorado: recentemente, uma equipa internacional franco-americana descobriu ali partículas de matéria que adensam os mistérios sobre a origem do sistema solar. Os cientistas dizem ter encontrado rastos da explosão de uma supernova que ocorreu há 4,5 mil milhões de anos e cujos materiais se julga terem estado na origem do nosso Sol.
As explosões das estrelas no final do ciclo das suas vidas (supernovas) espalham pelo meio interestelar elementos químicos que se formaram no interior dessas estrelas ou no momento final da sua destruição. A nuvem de gás e poeira, a seu tempo, acaba por permitir o nascimento de outros sistemas solares e a matéria dissemina-se de acordo com a sua dimensão nos planetas ou nos meteoritos.
A equipa de cientistas analisou 1500 grãos retirados no meteorito de Orgueil e encontrou nanopartículas extraordinariamente ricas num isótopo de Crómio (Crómio 54) muito raro na natureza. A conclusão a que chegaram os cientistas das Universidades de Chicago e de Lille, além do CNRS francês, num artigo publicado em The Astrophysical Journal, é de que esta matéria (que tinha mil vezes menos do que a espessura de um cabelo humano) já existia antes da própria formação do sistema solar.
A teoria da origem do Sol nos materiais produzidos pela explosão de uma supernova há 4,5 mil milhões de anos já tem quatro décadas. Mas as provas até agora acumuladas consistiam em traços de Alumínio 26 e Ferro 60, isótopos de vida curta descobertos em meteoritos. Isto sugeria uma supernova de tipo II, ou seja, aquelas que resultam do colapso interno de estrelas maciças. Ora, o Crómio 54 encontrado no meteorito de Orgueil sugere uma supernova de tipo IA, o que significa a explosão de uma estrela anã, super-densa, num sistema binário.
Os cientistas procuram agora esclarecer as dúvidas levantadas pela investigação, procurando rastos de outro isótopo, o Cálcio 48, que indicará sem margem de erro uma supernova de tipo IA.
O problema deste estudo é que o equipamento de detecção é raro e caríssimo. Este trabalho exige imenso tempo de máquinas usadas para outras investigações. No caso, o estudo das 1500 nanopartículas exigiu três semanas de um dispendioso equipamento da Universidade da Califórnia.
Só uma das 1500 nanopartículas tinha abundante Cálcio 48 e não foi possível estender a busca a mais fragmentos. Caso se confirme a observação desta única partícula, na origem do nosso Sol pode ter estado a explosão remota de uma estrela anã.
fonte: DN
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