quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Na guerra dos sexos do reino animal, vale tudo

As táticas dos animais para conseguir sexo (ou fugir dele) são dignas dos melhores estrategistas militares

Para aqueles dias que só pensa em deitar e dormir, vale qualquer pretexto. Mas no reino animal, a clássica dor de cabeça dá a vez para estratagemas muito mais ardilosos. Um exemplo é a artimanha das fêmeas do molusco da espécie Litorina saxatilis. Quando cansam do assédio masculino, elas param de produzir o muco que normalmente atrai os machos. Confusos, eles passam até uma hora, o dobro do tempo normal, a procurá-las (e muitas vezes até seguindo outros machos), e assim as fêmeas ficam em  descanso. Mas os pequenos moluscos não estão sozinhos. Muitas espécies diferentes usam dos mais variados subterfúgios para negar (ou conseguir) sexo.

Veja mais na galeria.


Quando as fêmeas do antílope queniano vão embora, os machos as chamam avisando que há um predador por perto. Elas voltam e adivinhe quem dá o bote?


O Atlantic Mollie finge desinteresse pelas fêmeas quando outros machos mais fortes estão por perto


Este molusco marinho faz-se passar por uma fêmea e assim, ludibria machos maiores e livra-se da concorrência


Entre os lagostins é comum que a fêmea pareça repelir o macho. Com isto, elas analisam a força e tamanho dos pretendentes


As fêmeas dos grilos do campo recordam-se do estrilar dos machos mais atraentes e usam esta informação para escolher seus parceiros


Algumas libélulas alteram sua cor para ficar mais parecidas com os machos. Assim, evitam aproximações indesejadas


Ser muito atraente não é vantagem para as moscas da fruta fêmeas. O líquido seminal dos machos contém toxinas que podem lhes causar infertilidade

A tática dos Litorina foi descoberta pela equipa de Ecologia Marinha da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, e publicada esta semana no periódico PLoS Biology. A razão para a relutância está na proporção entre machos e fêmeas: a cada temporada de acasalamento, entre 10 e 20 machos procuram uma fêmea para copular.


Nem vêm que não tem: as fêmeas da espécie Litorina saxatilis deixam de liberar o muco atrativo quando fazem greve de sexo

"É benéfico para o macho acasalar o mais rápido possível, pois esta é a única maneira que eles têm para influenciar o número de filhos. Mas acasalar é, muitas vezes, custoso para as fêmeas,” disse Kerstin Johannesson, que coordenou a pesquisa, em comunicado da universidade.

Os investigadores usaram câmeras para acompanhar as intrigas sexuais dos moluscos. E haja paciência: cada cópula da espécie dura entre 10 e 30 minutos. As fêmeas literalmente carregam os machos que inserem seu pênis nelas fazendo movimentos circulares – não é à toa que cansam. Depois, ficam vulneráveis a predadores, enquanto cuidam sozinhas da prole. “Ao não excretar o muco, as fêmeas copulam com menos frequência, já que os machos perdem mais tempo à sua procura", disse Johannesson.

Mascarar o género para obter a cópula é uma artimanha comum no reino animal, mas casos de machos fingindo-se de fêmeas para chegar perto do objecto amado costumam ser a regra. Uma excecção é a libélula do género Zygoptera, cujas fêmeas alteram sua cor para ficar mais parecidas com os machos e assim evitar paqueras indesejados.

Guerra do amor

Situações em que animais de géneros diferentes têm conflitos de interesse reprodutivo são conhecidas na biologia como “conflitos sexuais”. Machos da espécie de mosca Drosophila montana, por exemplo, têm o hábito de copular por mais tempo que as fêmeas gostariam, para evitar que elas sejam inseminadas pelos seus concorrentes. A fêmea, por sua vez, lutar contra o macho, tentando desalojar-se dele. Já os moluscos marinhos Sepia apama usam táticas mais subtis: para vencer machos concorrentes maiores, fazem-se parecidos com as fêmeas. Assim, conseguem aproximar-se tranquilamente delas sem ter que competir com machos mais fortes. É o vale-tudo do amor.


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