sábado, 25 de setembro de 2010

Submarino estuda fundo do mar e a qualidade da água


Veículo autónomo desenvolvido na Faculdade de Engenharia do Porto pode chegar até aos cem metros de profundidade

Uma equipa de investigadores portugueses, ligados à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e ao Instituto de Sistemas e Robótica (ISR) desenvolveu um robô submarino para medir a qualidade da água no mar, lagoas, rios e barragens. O veículo autónomo também consegue mapear o fundo dessas áreas e detectar a presença de efluentes nas águas analisadas.

O Mares AUV (Modular Autonomous Robot for Environment Sampling) arrancou em 2006, concretizando um desejo antigo do grupo de investigadores liderados por Aníbal Matias, reunidos na Ocean Systems Group. Um sonho que contou com o impulso do protocolo com a empresa Águas do Oeste, que procurava um aparelho como este para monitorizar as suas águas.

O veículo submarino desenvolvido pode ser programado para seguir trajectórias predefinidas, enquanto efectua a recolha de dados com os sensores instalados a bordo. Aníbal Matos explica que os sensores instalados no veículo permitem analisar dados como a temperatura da água, a sua acidez, neutralidade ou alcalinidade e, consequentemente, se está poluída ou não.

Entre as características diferenciadoras do Mares, face a outros produtos já existentes no mercado, Aníbal Matos destaca o facto de este conseguir "ficar parado na água enquanto monitoriza o local". Além disso, como é composto por várias secções modelares, os sensores a utilizar durante as missões podem ser alterados ou adicionados consoante o tipo de trabalhos que pretende fazer.

Na água, "pode ir até aos cem metros de profundidade, que é o ideal para a plataforma costeira portuguesa", explica o investigador. O que facilita a leitura de dados junto aos locais de descarga dos emissários submarinos. Aníbal Matos admite que "o ideal seria que o Mares funcionasse em ambientes abertos" e não tanto em condutas, por exemplo. Embora possa subir e descer na vertical graças ao duplo sistema de propulsão: dois motores para subir na horizontal e outros dois para emergir na vertical.

Com uma autonomia de cerca de dez horas e de 40 quilómetros, o submarino permite monitorizar as áreas escolhidas sem necessidade de presença contínua de uma pessoa que controle o veículo graças ao computador incorporado que detém não só as coordenadas da viagem a efectuar como armazena os dados recolhidos. E faz a georreferenciação dos dados recolhidos.

De acordo com Aníbal Matos, "o Mares pode ter duas vertentes de utilização". "Uma mais académica e que permite a recolha de diversos dados para utilização dos mesmos em estudos relativos à morfologia marítima, por exemplo", e aquela que, para já, terá maior uso. E uma outra mais comercial, em que as empresas, sobretudo ligadas à indústria hidroeléctrica e de distribuição de água, poderão adquirir estes veículos para monitorizar os seus recursos.

E embora, para já, esta vertente comercial não esteja ainda a ser desenvolvida, Aníbal Matos admite que "esse é um dos objectivos do grupo". "Queremos fazer isto de forma sustentada", explica este responsável, salientando que o projecto não pode ir para o mercado só por ser interessante. "Poderá ser comercializado talvez dentro de cinco anos", diz. Embora exista já um contacto do Brasil (ver texto secundário).

Quanto a preços, Aníbal Matos recorda que equipamentos similares no mercado, mas sem os sensores, "custam cerca de 50 mil dólares [37,5 mil euros]". "O nosso veículo custará seguramente qualquer coisa acima dos cem mil euros", diz o responsável pela equipa do Mares. Basta, afinal, olhar para o investimento que foi feito neste projecto. Sem os sensores, o projecto custou cerca de 40 a 50 mil euros por ano para compra e reparação de materiais, "mais o trabalho de duas pessoas a tempo inteiro e dois colaboradores pontuais", conta o professor. Só nos sensores o grupo "gastou outro tanto".

A equipa acredita que mercado não faltará ao projecto, nomeadamente a nível mundial. "A nossa economia marítima ainda é muito pequena", admite Aníbal Matos. Um passo que, para já, não ocupa o pensamento da Ocean Systems Group, mais preocupada no aperfeiçoamento do projecto.

fonte: DN

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