quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Expedição submarina revela mundo desconhecido junto da Antárctida


Massa de caranguejos yeti


As imagens são únicas. Uma camada branca formada por um aglomerado de uma espécie nova de crustáceo parecido com o caranguejo, nunca antes visto pelos cientistas. A 2340 metros de profundidade, junto da costa Este da Antárctida, as fontes hidrotermais revelaram um mundo novo que reconfigura o que se conhecia sobre este tipo de ecossistemas, explica um artigo publicado nesta terça-feira na revista onlinePublic Library of Science One. 

As fontes hidrotermais são responsáveis por uma vida à parte na Terra, tão estranha que os cientistas servem-se dela para imaginar o que se pode passar noutros planetas. “As fontes hidrotermais são o lar de animais que não são encontrados em mais nenhum lugar do planeta e que não obtêm a sua energia a partir do Sol, mas a partir da quebra de químicos”, disse Alex Rogers, em comunicado, professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, que liderou a investigação e é o primeiro autor do artigo, que reuniu cientistas de várias universidades do Reino Unido, além da investigadora portuguesa Ana Hilário, da Universidade de Aveiro. A cientista esteve na primeira das três missões à Antárctida, em 2009, quando trabalhava em Southampton, no Reino Unido.

Estes ecossistemas submarinos originam-se quando a água do mar se infiltra nas fracturas entre as rochas do chão marinho e entra em contacto com o magma que está no interior da crosta, o que acontece frequentemente em regiões de fronteira entre placas tectónicas. 

O contacto aquece a água e enriquece-a em componentes minerais, o líquido volta a ser expelido outra vez para o oceano e quando entra em contacto com a água fria faz com que haja precipitação de minerais, originando as fumarolas negras. Em redor, uma biomassa que se alimenta destes químicos pulula. 

Conhece-se estes ecossistemas há apenas 35 anos, quando foi descoberto a primeira fonte hidrotermal, na crista oceânica que passa perto do arquipélago das Galápagos, no oceano Pacífico. Desde aí que foram sendo descobertas outras no Atlântico, Índico e no Pacífico.

A mais recente foi feita durante expedições que decorreram desde 2009 no mar de Escócia, que fica entre a Antárctida e a América do Sul. Nas cristas com fontes hidrotermais observadas, as temperaturas pode alcançar os 282 graus célsius. O ecossistema foi observado com a ajuda de um veículo operado remotamente (ROV, sigla em inglês).

“Sentarmo-nos no lugar de controlo de um ROV e ver estes locais que nenhum outro ser humano viu até ali é tremendamente excitante”, disse o investigador, citado pelo New York Times. “É difícil traduzir por palavras aquele assombro e maravilha.” 

As imagens mais impressionante são dos magotes de caranguejos-yeti – tradução literal do inglês de yeti crabs – que povoam a região com cerca de 600 indivíduos por metro quadrado. Esta é a terceira espécie de um grupo de crustáceos que se conhece desde 2005. 

As duas outras foram descobertas no Pacífico e tinham uma enorme quantidade de pêlos nas patas, onde as bactérias que se alimentam dos minerais se multiplicam e servem, por sua vez, de alimento dos caranguejos. Mas a densidade destas duas espécies é muito menor e os indivíduos estão situados mais à periferia do ecossistema. O crustáceo da Antárctida é dominante e tem pêlos no peito e não nas patas.

Os cientistas também descobriram espécies novas de outros organismos como estrelas-do-mar, percebes, anémonas e um polvo branco que poderá ser também inédito. Ao todo, a equipa trouxe 12.000 amostras de rocha, bactérias e animais. “Uma das coisas mais impressionantes é que estas fontes são completamente diferentes de tudo o resto – os animais que existem aqui são quase todos novos para a ciência”, disse Alex Rogers. 

A equipa ficou igualmente surpreendida com o que não encontrou. Há uma fauna típica das fontes hidrotermais de outros oceanos que não existe ali. “Muitos animais como os poliquetas tubulares, mexilhões, caranguejos, camarões, que são encontrados nas fontes hidrotermais dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico, simplesmente não estão ali”, referiu o cientista. 

Isto levou a equipa a considerar que o mar junto da Antárctida serve de filtro para algumas espécies hidrotermais que povoam outras fontes hidrotermais, e reconfigura o que se conhece sobre estes ecossistemas. “Estas descobertas são mais uma prova da diversidade preciosa que está por se descobrir nos oceanos”, disse Rogers. “Para todo o sítio que olhamos, quer seja recifes de corais nas águas tropicais, alimentados pelo Sol, ou fontes hidrotermais na Antárctida, escondidas numa escuridão eterna, encontramos ecossistemas únicos que precisamos de compreender e proteger.” 

fonte: Público

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