domingo, 18 de julho de 2010

Bactéria mata mãe no hospital após parto


Menos de 48 horas depois de ter sido mãe pela primeira vez, uma jovem de 23 anos morreu no Hospital Central de Faro, vítima de uma infecção generalizada após um parto por cesariana. A família vai avançar com uma queixa-crime.

Os primeiros exames revelaram que Filipa Martins Inácio foi vítima de uma septicemia [infecção generalizada] fulminante, provocada por bactérias ou vírus que se espalham pelo corpo através do sangue. O HCF desconhece a origem da infecção, mas reconhece que a jovem "era saudável e que a gravidez foi devidamente acompanhada e decorreu sem quaisquer complicações".

Terminadas as 40 semanas de gravidez, Filipa Inácio deu entrada no HCF na passada segunda-feira, cumprindo as indicações médicas. Como não conseguiu fazer a dilatação completa e ter um parto vaginal, o bebé acabou por nascer de cesariana com recurso a epidural na madrugada de quarta-feira. Mãe e filho foram levados para a sala de recobro e depois colocados no corredor do serviço de Obstetrícia por não existirem camas vagas nos quartos.

O pai da jovem, António Inácio, visitou-os cerca das 14 horas. "Estavam bem. A minha filha tinha apenas algumas dores, mas nada de suspeito. Disseram-nos que eram normais por causa da cesariana e que o parto tinha decorrido sem complicações".

"Começou a tremer"

O cenário alterou-se hora e meia depois, já na presença do namorado. "As dores eram cada vez mais fortes, começou a tremer e tinha as mãos geladas", contou o tio da jovem, Valdemar Guerreiro. "Os médicos levaram-na para fazer uma nova cirurgia porque tinha pus no abdómen", acrescentou. Filipa ainda passou pelos cuidados intermédios e pelos intensivos, mas já nada havia a fazer. Os órgãos pararam de funcionar e a má notícia chegou ontem, pouco depois da meia-noite.

A família está revoltada e exige explicações. "Isto acontecia no tempo dos meus avós quando os bebés nasciam em casa sem as mínimas condições. Dar à luz num hospital e morrer por causa de uma infecção é muito triste, doloroso e impossível de aceitar", diz Valdemar Guerreiro. "Não queremos acusar ninguém, mas se há responsáveis têm de ser punidos".

Por se tratar de uma jovem saudável sem sintomas de infecção (como febre ou manchas na pele) quando entrou no HCF, vários médicos e especialistas em medicina legal contactos pelo JN acreditam que o mais provável é que tenha sido contaminada por uma bactéria dentro do hospital. A situação é comum em unidades de saúde - ambientes propícios à propagação de agentes infecciosos - e leva a que países como a França tenham previstas na lei indemnizações à família de vítimas de infecções hospitalares, o que não acontece em Portugal. As mesmas fontes esclarecem que a autópsia e os exames bacteriológicos vão ser determinantes para apurar qual o agente infeccioso que esteve na origem da septicemia.

Segundo a directora clínica do HCF, Helena Gomes, "o quadro era gravíssimo e foi impossível revertê-lo, apesar dos esforços. Estão a ser feitos exames para apurar a origem da infecção e não há motivos para encerrar o bloco" onde foi feita a cesariana. A família pediu que não fosse dada alta ontem ao recém-nascido. Filipa vivia, em Tunes, Silves, com o namorado de 24 anos, que não tem possibilidades de criá-lo sozinho.

fonte: JN

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