sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019

Secretismo de estação espacial chinesa perturba EUA e habitantes da Patagónia



O secretismo de uma estação espacial chinesa na Patagónia intriga os habitantes da cidade mais próxima nas remotas terras do fogo e suscita dúvidas no governo americano.

A estação, cercada de redes de arame farpado de mais de dois metros de altura, foi construída numa zona isolada da Patagónia, a uma viagem de 40 minutos de carro da cidade de Las Lajas, na Argentina, onde cerca de sete mil almas se inquietam com a estrutura chinesa no meio do deserto.

Rodeado de secretismo, o complexo que ocupa 200 hectares de terra seca e árida, motiva desconforto na administração Trump e no atual governo argentino. Apesar de a China garantir que tem um fim estritamente civil e pacífico, a falta de regulação e de supervisão externa cria dúvidas sobre o real fito da estação de Las Lajas.

Segundo os media chineses, a estação, cuja antena de cerca de 60 metros de altura se vê ao longe na Terra do Fogo, teve um papel fundamental na histórica alunagem, de um veículo no lado negro da lua, no início do ano.

A ex-ministra dos negócios estrangeiros da Argentina, Susana Malcorra, disse, em entrevista à Agência Reuters, que conseguiu, em 2016, um compromisso da China de que usaria a estação espacial apenas para fins pacíficos. Mas não foi criado, no acordo que autorizou a construção, um ano antes, ou nos anos que se sucederam, qualquer mecanismo de supervisão externa.

Ou seja, a palavra da China de que não usa aquele complexo para algo mais do que observar o espaço é toda a garantia que tem o Governo argentino.

"Tendo em conta que um dos atores envolvidos no acordo reporta diretamente aos militares chineses, é, no mínimo, intrigante que a Argentina não tenha feito um acordo mais específico e com mais garantias", disse Juan Uriburu, um advogado que trabalhou em vários acordos entre empresas chinesas e argentinas.

O programa espacial chinês é gerido pelo Exército Popular de Libertação (EPL) da China. A estação espacial da Patagónia é gerida pela Empresa de Lançamento e Monitorização de Satélites, que reporta diretamente ao EPL.


A antena parabólica de 35 metros de diâmetro é outro motivo de preocupações e especulações. Muitos acreditam que pode ser usada para escutar satélites de outros países, mas essa possibilidade, real, não é suficientemente preocupante.

"É verdade que pode ser usada para escutar outros países. Mas com uma antena parabólica no meu terraço posso fazer isso também", comentou o diretor do Observatório de Radioastronomia dos EUA, Tone Beasley. "Não vejo nada de particularmente sinistro ou perturbador em relação à estação espacial da China na Argentina", acrescentou.

Palavras ocas para os cerca de sete mil habitantes de Las Lajas, a cidade mais próxima da estação chinesa, na qual trabalham apenas cidadãos de nacionalidade chinesa.

Entre as muitas teorias de conspiração sobre o que se passa no terreno dos distantes vizinhos chineses, o povo de Las Lajas prefere a de que a base está a ser usada para fabricar uma bomba atómica.

A agência espacial da Argentina, CONAE, diz que o acordo com a China garante que a base é usada apenas "para fins pacíficos" e esclarece que as emissões de rádio feitas pelos chineses de Las Lajas podem facilmente ser monitorizadas.

Peritos em radioastronomia dizem que sim, mas que as comunicações podem facilmente ser iludidas e encriptadas pelos chineses, mantendo, assim, o secretismo que rodeia toda a instalação.


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