quarta-feira, 14 de março de 2012

As galáxias adolescentes eram canibais


As galáxias estudadas pela equipa, os pixéis indicam o gás que as alimenta 

O crescimento é um fenómeno doloroso? Perguntem ao Universo, pois agora sabe-se que nos seus primeiros tempos as galáxias alimentavam-se umas das outras. Ou seja, eram canibais. 

Através do projecto MASSIV, uma equipa de cientistas ligada ao Observatório Europeu do Sul (ESO) olhou para um momento mais inicial do universo, onde as galáxias adolescentes eram um berço efervescente de estrelas.

“Os resultados obtidos da análise mostraram uma nova perspectiva sobre os processos importantes na formação das galáxias do universo jovem”, explicou ao PÚBLICO Thierry Contini, do Instituto de Investigação em Astrofísica e Planetologia, em Toulouse, na França.

O investigador lidera a equipa do MASSIV (Mass Assembly Survey with SINFONI in VVDS), que utilizou espectrómetros que funcionam no Very Large Telescope, um complexo de telescópios que pertence ao ESO e que está situado no deserto do Atacama, Chile.

Os primeiros resultados do projecto mostram o que aconteceu a estas galáxias há muito, muito tempo. Entre três e cinco mil milhões de anos após o Big Bang. Um momento que Contini caracteriza como sendo de “transição”.

“Dois cenários estão em competição: fenómenos episódicos e violentos de fusão [entre galáxias], ou um processo contínuo e mais calmo de agregação de gás para dentro das galáxias, ambos capazes de sustentar um alto nível de formação de estrelas”, disse o cientista por e-mail.

“Neste período particularmente turbulento, semelhante à adolescência, as galáxias experimentam grandes transformações. A agregação mais calma parece ser dominante na construção de galáxias no universo muito jovem, o fenómeno de fusão vai progressivamente tomando conta em alturas posteriores.”

Para chegarem a estas conclusões, a equipa observou 84 galáxias situadas a uma distância de 10,5 mil milhões de anos-luz. A luz registada pelos espectrómetros, já na zona dos raios infravermelhos, foi emitida por estas estruturas há nove mil milhões de anos, cerca de quatro milhões de anos depois do início do Universo. Através destes aparelhos, os cientistas conseguiram perceber parte da dinâmica dos gases que envolviam e alimentavam estas fábricas de estrelas. 

Estas galáxias adolescentes já não se alimentavam de gás primordial, mas de matéria enriquecida de elementos químicos fruto da morte da primeira geração de estrelas que nasceu centenas de milhares de anos depois do Big Bang, um instante em termos de tempo cósmico.

A “ingestão” contínua deste material foi fazendo com que a massa das galáxias fosse aumentando, assim como o seu poder gravitacional. Este crescimento, num Universo mais pequeno, com uma grande densidade de galáxias, obrigou a interacções entre galáxias, onde “as maiores conseguem canibalizar as mais pequenas”, disse Thierry Contini.

Este fenómeno não é estranho à própria Via Láctea, explica o cientista: “O modelo corrente prediz que a Via Láctea experimentou pelo menos duas ou três fusões maiores. O processo continua. Em alguns milhares de milhões de anos, a Via Láctea irá fundir-se com duas pequenas galáxias vizinhas: a Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães.”

Apesar de o canibalismo remeter-nos para um Universo jovem com muito mais galáxias do que as que existem hoje, os cientistas ainda não conseguem contabilizar quantas é que existiam. Este é apenas um dos mistérios que o Universo guarda. Outro, talvez mais imediato e importante, é a origem destes agregados de estrelas que hoje povoam o espaço. “Continuamos a não saber quando e como é que as primeiras galáxias começaram a formar-se.”

fonte: Público

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