Europeus e asiáticos descendem do mesmo grupo de africanos que chegou ao Sul da Península Arábica há 60 mil anos, conclui um estudo coordenado por uma cientista portuguesa publicado numa revista norte-americana da especialidade.
Os descendentes desse grupo rumaram depois, uns em direcção à Ásia, tendo chegado à Austrália há cerca de 50 mil anos, e outros para a Europa, onde terão chegado dez mil anos depois, explicou hoje a investigadora Luísa Pereira, em declarações à agência Lusa.
Simulações anteriores realizadas em computador com base em linhagens maternas apontam para que esse grupo de migrantes incluísse cerca de 600 mulheres, o que corresponderia a um total de indivíduos entre 1.000 e 1.200.
O estudo liderado pela cientista do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP) foi realizado com a colaboração de outros seis investigadores portugueses e cinco estrangeiros, com recurso à comparação genética entre 85 indivíduos do sudoeste asiático e 300 europeus.
O facto de terem chegado muito antes à longínqua Austrália do que ao continente europeu, bem mais próximo, é explicado por essas migrações terem decorrido numa altura em que o hemisfério norte atravessava uma era gelada, afirmou a professora universitária coordenadora do trabalho publicado no Journal of Human Genetics.
Ao contrário, acrescentou, a metade sul da terra era então mais árida e os oceanos tinham um nível mais baixo, o que facilitava as deslocações e terá levado a que «a Austrália tenha sido colonizada primeiro do que a Europa», como confirma o cruzamentos de dados arqueológicos e genéticos.
Terá sido também o nível mais baixo das águas do actual estreito de Adén que terá facilitado a travessia do grupo de africanos da região que inclui a Somália e a Etiópia para o sul da península Arábica, a que corresponde o Iémen, consideram os cientistas.
Objecto de investigação continua a ser o caminho utilizado para chegar à Europa, que terá ocorrido através da Turquia, desconhecendo-se ainda se em direção a Ocidente (Macedónia e Grécia), ou para Norte, através do Cáucaso (Arménia e Geórgia).
Os cientistas estão também a tentar determinar como se fez a ocupação humana da Europa e, posteriormente, há cerca de 10 mil anos, a chegada da agricultura, vinda igualmente de Oriente.
Nos milhares de anos que antecederam o cultivo da terra, os europeus viviam apenas da caça e do que recolhiam na natureza.
Um dos aspectos que Luísa Pereira disse pretender esclarecer é o motivo pelo qual apenas dois mil anos depois de terem chegado à Europa pelo extremo leste, as primeiras técnicas de cultivo da terra já serem usadas na Península Ibérica, Portugal incluído, como confirmam os estudos arqueológicos.
Entre as hipóteses colocadas sobressai a de que o mar Mediterrâneo tenha sido já na altura uma via que terá permitido um avanço mais rápido do que a progressão exclusivamente feita por terra.
A líder do grupo de investigadores de Diversidade Genética do IPATIMUP disse ainda à Lusa que o facto de a população não africana ter muitas semelhanças genéticas se deve à descendência comum do primeiro grupo de humanos que chegou à Península Arábica, registando-se, actualmente, muito mais diversidade genética entre a população africana do que no resto do mundo.
fonte: Sol
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