quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Neandertais podem ter feito arte na Gruta de Nerja, em Málaga


Uma das focas da Gruta de Nerja. Pinturas de focas na gruta espanhola podem alterar paradigma da história da arte.


Pormenor da gruta

As seis imagens de focas pintadas nas estalactites da Gruta de Nerja (Málaga, Espanha) podem ter sido feitas há 42 mil anos, o que as torna nas mais antigas que se conhecem. Além do mais, podem ter sido pintadas por Neandertais e não porhomo sapiens, teoria que, a comprovar-se, altera vários paradigmas antropológicos.

José Luis Sanchidrián, arqueólogo especialista em arte rupestre e professor da Universidade de Córdoba, está à frente do projecto de conservação da gruta. O investigador adianta que a datação de restos orgânicos encontrados nos locais das pinturas acusa entre 43 500 e 42 300 anos de antiguidade. Se as pinturas, descobertas em 1970, dataram da mesma época serão as mais antigas do mundo. 

Esta descoberta revoluciona os dados científicos actuais, pois estas pinturas teriam sido realizadas por Neandertais e não pelo homo sapiens, o chamado ‘homem moderno’, ou seja, a nossa espécie, considerada até agora a única capaz de fazer ‘arte’.

Os carvões encontrados na caverna, a dez centímetros das pinturas foram datados num laboratório em Miami. Estes carvões estariam relacionados com a iluminação das próprias pinturas – fosse para as fazer ou para as observar – o que quer dizer que podem até ser mais antigas. Essa data corresponde à presença de Neandertais na zona.

Além do mais, não se conhece nenhum tipo de arte paleolítica (da autoria do homo sapiens) que se possa comparar a estes desenhos de focas. Sabe-se também que o Neandertal comia focas, embora não tenham sido encontradas ossadas daquela espécie na gruta, apenas de homo sapiens.

Sem recursos para estudos complementares

O especialista acredita ser necessária a realização de outro tipo de análises para se determinar a data exacta das pinturas. A datação de uma pequena camada de calcita que cobre algumas partes do desenho traria respostas mais concretas, bem como a análise dos outros restos orgânicos existente junto das pinturas.

Enquanto não se chegarem a resultados mais concretos, a possibilidade das pinturas serem obra do homo sapiens não está de todo descartada, se bem que este é “um cenário mais hipotético” se as datas se confirmarem, diz o investigador.

Não existem provas de que o homem moderno tenha entrado pela Península Ibérica a partir do norte de África, nem existem lá amostras de arte semelhantes. Os investigadores acreditam que nesta gruta, um dos últimos pontos do sul da Europa onde se refugiaram os Neandertais, se pode encontrar a chave que explica o desaparecimento desta espécie.

Muitas destas questões vão continuar para já sem resposta pois os trabalhos de investigação encontram-se suspensos pela escassez de recursos económicos e pela falta de um gerente à frente da Fundação Cueva de Nerja.


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