Fotografia de trabalho da cripta redescoberta sob a Assembleia da República
Para já são visíveis apenas as arcadas superiores, mas não há dúvidas de que as estruturas subterrâneas encontradas debaixo do edifício da Assembleia da República, no Palácio de São Bento, em Lisboa, pertencem à cripta dos marqueses de Castelo Rodrigo, construída na primeira metade do século XVII.
Foram trabalhos de cadastro da rede de rega dos jardins junto ao parque de estacionamento interior do palácio que, no dia 14, deixaram a descoberto as arcadas, anunciou a Assembleia da República.
“A cripta foi redescoberta”, corrige, em declarações ao PÚBLICO, o historiador de arte Paulo Varela Gomes, lembrando que já em 1939, durante obras no edifício, ela fora encontrada, acabando por ser novamente enchida com entulho.
“Há uma espécie de maldição da memória ligada aos marqueses de Castelo Rodrigo”, explica Varela Gomes, que tratou o tema na sua tese de doutoramento. D. Cristóvão de Moura, o primeiro marquês, foi o todo-poderoso ministro de Filipe II (I de Portugal), e depois da restauração da independência, em 1640, o país quis esquecer tudo o que tivesse a ver com a família, que foi banida do país e viu todos os seus bens serem confiscados.
Por essa altura, já as obras da cripta estavam a decorrer, sob a capela-mor do então Convento de São Bento e, segundo Varela Gomes, os elementos decorativos, que teriam sido encomendados ao célebre arquitecto barroco italiano Borromini, ficaram retidas num porto de Itália. A cripta nunca foi terminada. Terá sido encerrada logo em 1640, e reaberta apenas em 1939 – momento que foi registado por fotógrafos dos jornais da época.
Do que seria a decoração da cripta existe apenas um frontal de altar, atribuível a Borromini, que se encontra no Museu Nacional de Arte Antiga. Agora que a cripta foi “redescoberta”, a Assembleia da República “reconhecendo o [seu] extremo interesse histórico, cultural e patrimonial” – que não terá tanto a ver com a arquitectura mas sim com a recuperação da história da família amaldiçoada – declarou hoje que está em contacto com o Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (Igespar) para se poder, “a curto prazo, desencadear as acções tendentes à recuperação deste espaço”.
fonte: Público
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