quinta-feira, 20 de abril de 2017

Descoberta nova super Terra que vai ajudar à busca de sinais de vida


Uma visão da nova super Terra e da sua estrela

Astrofísico português Nuno Santos integra a equipa que fez a descoberta.

Um grupo internacional de investigadores, que inclui o português Nuno Santos, do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IA), descobriu um novo exoplaneta que revelou ser um dos melhores candidatos até hoje conhecidos para aí se procurarem sinais vida e para o estudo a sua atmosfera.

Trata-se de uma "super Terra", um planeta de tipo rochoso, que é 1,4 vezes maior do que a Terra e que orbita uma estrela anã vermelha a 39 anos-luz daqui. A conjunção destas características torna-o um verdadeiro achado.

Ele tem não só as condições certas para poder ter água líquida na superfície, uma vez que está na chamada "zona habitável" em relação à sua estrela, como está a uma distância relativamente próxima da Terra, ou seja, na localização ideal para poder ser estudado em mais detalhe, o que geralmente não acontece com os exoplanetas em sistemas solares mais distantes.

"Este é provavelmente o melhor candidato identificado até agora para se fazer nos próximos anos um estudo mais detalhado sobre a sua atmosfera, se ele de facto tiver uma atmosfera, e para mais tarde aí se procurarem as assinaturas químicas da vida, quando dispusermos das tecnologias para isso", explica Nuno Santos.

Por isso, diz o cientista do IA, "esta é uma descoberta importante, porque estamos a falar de um planeta que à partida é rochoso, que está à distância certa da estrela para ter água líquida, embora ainda não saibamos se tem ou não, e que está relativamente perto daqui, o que nos vai permitir estudá-lo em detalhe durante os próximos 10 anos, usando o bom conjunto de instrumentos de observação que estão aí a chegar, e nos quais também estamos envolvidos".

Um desses instrumentos é o Espresso, um espectrógrafo de alta resolução em cuja construção o IA participa e que vai equipar já no próximo ano o Very Large Telescope do ESO (European Southern Observatory), no Chile, para medir com uma precisão sem precedentes as massas dos exoplanetas e melhorar o estudo das suas atmosferas. Outro é o satélite CHEOPS, da agência espacial europeia ESA, para o qual os investigadores do IA estão a desenvolver uma parte do software de análise de dados e que além de detetar exoplanetas vai medir também as suas massas. O CHEOPS tem lançamento aprazado para 2019.

Um terceiro instrumento é o satélite Plato, da ESA, que deverá ser lançado em 2024 e que vai dedicar-se à procura de exoplanetas rochosos como a Terra e na zona "certa" em relação às respectivas estrelas para terem condições de habitabilidade. A equipa do IA tem um investigador no comissão do consórcio e também no grupo que está a delinear as tarefas científicas do futuro satélite.

Todos eles vão permitir conhecer muito melhor a nova super Terra agora descoberta, para além do que já se sabe sobre ela. No estudo que hoje publica na revista Nature, a equipa explica que o exoplaneta está 10 vezes mais próximo da sua estrela do que a Terra em relação ao Sol, completando uma órbita a cada 25 dias. Esta proximidade implica que o exoplaneta está na zona dita temperada, uma vez que esta estrela, sendo uma anã vermelha, é muito mais fria do que o Sol.

Menos de uma vez e meia maior do que a Terra, o novo planeta tem no entanto 6,6 vezes mais massa, o que indica que será rochoso, com um denso núcleo de ferro. O seu diâmetro, explicam os cientistas, indica que que há milhões de anos pode ter existido ali um oceano de magma escaldante, libertando vapor de água para a atmosfera durante tempo suficiente para ela lá permanecer e depois passar ao estado líquido, depois de o planeta arrefecer.


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