quinta-feira, 21 de março de 2013

Enzima faz bode dar leite como as cabras


Um bode hermafrodita, que foi macho exemplar de um rebanho, dava também leite como as cabras devido a problemas na atividade enzimática, concluíram investigadores da Escola Superior Agrária de Coimbra (ESAC).

"Este animal tinha tudo bem enquanto macho e dava leite de excelente qualidade", disse hoje à agência Lusa o professor Fernando Delgado, responsável da equipa que realizou a investigação.

Cruzado de "Saannen", uma raça oriunda dos Alpes suíços habitualmente generosa na produção de leite de boa qualidade, o chibo pertencia ao criador Amândio Inácio, da Cidreira, arredores de Coimbra, e foi vendido no início do ano passado à ESAC, que estava interessada em estudar o animal.

Ao fim de vários meses, o bode acabou por morrer devido a uma infeção por um vírus, num momento em que os investigadores já tinham efetuado os diferentes exames laboratoriais que permitiram chegar a conclusões científicas.

"Excluiu-se a suspeita de desequilíbrio cromossómico e verificou-se uma significativa alteração dos perfis hormonais", segundo o estudo a que a Lusa teve acesso.

Os testes confirmaram "a presença de níveis anormais da aromatase", uma enzima que "tem a capacidade de transformar a testosterona em estrogénio", disse Fernando Delgado.

Além dos testículos, como qualquer macho normal da sua espécie, o bode tinha ainda duas tetas, uma mais desenvolvida do que a outra e cheia de leite, como a Lusa verificou em dezembro de 2011, no âmbito de uma reportagem sobre o fenómeno, em que entrevistou o pastor Amândio Inácio.

O animal padecia de ginecomastia, designação científica do aumento dos tecidos mamários nos machos, uma anomalia que também acontece nos humanos.

A ginecomastia "pode ser explicada pela presença elevada da aromatase", sublinhou Fernando Delgado.

Um bode que, afinal, "quanto mais macho, mais fêmea", sintetizou o veterinário e professor.

Constituída por Sandra Gamboa, Andreia Quaresma, Bruno Mamede, Pedro Pinto Bravo e Fernando Delgado, a equipa da ESAC realizou estudos hemáticos, citogenéticos, hormonais e espermáticos ao animal, contrapondo os resultados aos equivalentes obtidos numa cabra e num bode normais.

Enquanto pastou nos campos verdes do Mondego, com 104 ovelhas e 11 cabras, o chibo, pouco latino e mais alpino, foi motivo de galhofa e curiosidade das pessoas.

Um dia, o dono de um restaurante da Cidreira, que ainda não conhecia a história, perguntou ao criador: "Então, já tirou o leite ao carneiro?".

Amândio Inácio respondeu: "Ao carneiro não tirei, mas já tirei ao bode".

Uma idosa intrometeu-se na conversa, manifestando-se indignada com o conteúdo supostamente malicioso das palavras.

Em tempo de vacas magras, o bode dava mesmo leite de qualidade em abundância.


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