segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Pombos: muda-se um gene, mudam-se os penteados


Pombo da raça "gravata velho tipo alemão"


À esquerda: gravata italiano; à direita: papo-de-vento Brünner


Cambalhota português, uma das raças cujo ADN foi utilizado no estudo

Pela primeira vez, o genoma do pombo foi totalmente sequenciado e a sua comparação genética com dezenas de outras raças de pombos domésticos revelou que o facto de estas aves terem ou não uma crista depende de mutações num único gene. Uma das quatro raças portuguesas foi utilizada no estudo.

A sequenciação total do genoma do pombo-comum, juntamente com sequenciações parciais dos genes de mais 79 raças de pombos domésticos, é anunciada esta sexta-feira na revista Science por cientistas norte-americanos, chineses e dinamarqueses. O trabalho permite começar a desvendar a origem geográfica destas aves omnipresentes, bem como as bases genéticas dos seus "penteados", por vezes mirabolantes.

Dir-se-á que o aspecto dos pombos urbanos não podia ser mais uniforme, mais monótono – mais desprovido de traços esteticamente apelativos. Mas eles são apenas os representantes mais difundidos da espécie Columba livia – e não são de todo originais. De facto, existem hoje no mundo, oficialmente registadas, mais de 350 raças de pombos desta espécie – também conhecidos como pombos domésticos ou pombos-das-rochas.

E, entre essas raças todas, as diferenças de cor, de plumagem, de tamanho, de morfologia do corpo e do bico, de vocalização são, pelo contrário, estonteantes. Aliás, os criadores de pombos têm aproveitado essa diversidade para gerar as mais exóticas e fantasiosas variantes, algumas a roçar o monstruoso com o seus peitos desproporcionados, a sua magreza extrema - ou as enormes penas a saírem das suas patas... "Na Europa, há séculos que a criação de pombos se tornou um passatempo muito popular", disse ao PÚBLICO Michael Shapiro, da Universidade do Utah (EUA), que liderou o trabalho agora publicado.

Mais de 80 das mais de 350 raças possuem uma crista, que também pode ser de variados tamanhos e feitios, ora parecendo um capuz, ora uma crineira, uma coroa ou até um daqueles penteados dos anos 1970, curtos em cima e compridos atrás. A natureza parece ter mais imaginação a inventar "cortes de cabelo" para os pombos do que o mais criativo cabeleireiro da moda.

Mas por que será que algumas raças de pombos têm as penas da cabeça todas viradas na mesma direcção que as do resto do corpo e outras raças não? A resposta tem cinco caracteres: EphB2 – o nome de código de um gene, agora identificado pela equipa de Shapiro nos pombos, que funciona como um autêntico interruptor da formação da crista. Mais precisamente, os pombos com crista têm todos mutações no gene EphB2 e isso faz com que as hastes de uma parte das penas da cabeça se orientem para cima e não para baixo.

fonte: Público

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