terça-feira, 10 de julho de 2012

Ordem de Malta retorna para Rússia?






O Príncipe Matthew Festing


"Retrato de um cavaleiro da Ordem de Malta", de Caravaggio



"Naufrágio da capitania da Ordem em fevereiro de 1770", de autor desconhecido

Pela primeira vez em 200 anos o Grão-Mestre da Ordem de Malta está visitando a Rússia. Já hoje, chamam de histórica esta visita a Moscovo do líder da organização católica soberana, cavaleiro e príncipe Matthew Festing.

A Ordem de Malta, ou Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta, é hoje uma das mais famosas ordens de cavaleiros espirituais da Igreja Católica Romana. 

Ela surgiu em 1099 como uma fraternidade religiosa e de caridade no hospital de São João o Misericordioso em Jerusalém. Mas já em 1120 a sociedade se tornou uma ordem militar-religiosa, que era chefiada por um Grão-Mestre. 

Em diferentes períodos históricos a Ordem era chamada de joanita ou hospitalária. Propriamente Maltésa, ela se tornou apenas no século XVI após a expulsão da Ordem de Rodes para Malta. 

No final do século XVIII a história da Ordem tinha quase terminado, mas graças à Rússia a organização não só foi salva, mas também fortaleceu significativamente, disse numa entrevista exclusiva à rádio Voz da Rússia o primeiro cônsul da Embaixada de Malta na Rússia, Nicola Savoretti.

"Em 1798, durante a guerra entre a França e a Grã-Bretanha, Napoleão e estruturas maçónicas capturaram Malta e expulsaram os cavaleiros da ilha. A única que ousou, naqueles tempos conturbados, abrigar a nossa Ordem foi a Rússia. O Imperador russo Paulo I, que simpatizava com os valores e ideais da cavalaria, deu Gatchina à Ordem e ofereceu 216.000 rublos de ouro. Assim, ele salvou a Ordem, e em troca pediu o seguinte: primeiro, que a Ordem se tornasse pan-cristã e não apenas católica; segundo, que ele se tornasse o Grão-Mestre, apesar de já ser casado e ortodoxo; e terceiro – que a língua russa se tornasse parte dos símbolos da nossa Ordem. O facto é que o símbolo dos Cavaleiros de Malta é uma estrela de oito pontas. Os oito raios significam línguas dos fundadores da nossa ordem. Paulo I pediu que o centro da estrela fosse considerado a língua russa."

De facto, o imperador russo foi finalmente nomeado Grão-Mestre dos Cavaleiros de Malta em 1798. Ele até foi apressadamente coroado com uma coroa especial, e a sede da Ordem foi transferida para São Petersburgo. 

Desde então, durante alguns anos, a cruz de Malta branca de oito pontas se tornou um dos símbolos estatais do Império Russo. Mas, enquanto os representantes do joanitas finalizavam formalidades jurídicas no Vaticano, Paulo I foi assassinado, e a história da Ordem na Rússia foi interrompida por muito tempo. 

Apenas cerca de dois séculos depois, em 1992, com um novo decreto do presidente russo Boris Yeltsin, apareceu em Moscovo uma representação por embaixada da Ordem. No entanto, ainda não há Cavaleiros de Malta na Rússia. 

“Nós simplesmente não tivemos tempo de promover ninguém a cavaleiro, nem no século XVIII, nem no XX,” - diz Nicola Savoretti. É bem provável que após a visita de Matthew Festing ainda vai haver hospitalários no país.

Tesouros da Ordem de Malta no Kremlin

Os museus de Itália, França, Malta e Rússia juntaram-se para uma impressionante exposição dedicada à história da mais antiga ordem monástica-militar: a Ordem de São João de Jerusalém, mais conhecida como a Ordem de Malta. A exposição foi inaugurada nos Museus do Kremlin de Moscovo e decorre entre 6 de julho e 9 de setembro.

Cerca de duzentas obras de arte e documentos foram reunidos na exposição sob o título Nove Séculos ao Serviço da Fé e da Caridade. Muitos objetos únicos foram cedidos para a exposição pelos Museus do Kremlin de Moscovo. 

A diretora dos Museus Elena Gagarina comentou: "Os raríssimos objetos em exibição provenientes de coleções e arquivos de Itália, Malta, França, da ilha de Rodos e das nossas coleções abrangem os períodos principais da actividade da Ordem. Temos aqui as coroas dos Grão-Mestres, as adagas da Fé, as cruzes e insígnias da Ordem que pertenceram a Grão-Mestres famosos, armaduras e armas dos cavaleiros e retratos magníficos. Uma jóia da exposição é o notável retrato de um cavaleiro de Malta da mão do grande mestre italiano Caravaggio, gentilmente cedido pelo Palazzo Pitti de Florença."

A exposição no Kremlin de Moscovo é dedicada ao 20º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a Rússia e a Ordem de Malta. Por essa ocasião, Moscovo recebeu a visita do Grão-Mestre Fra’ Matthew Festing. 

Há mais de duzentos anos que a Rússia não era visitada por visitantes desse nível que são os dirigentes máximos da Ordem. 

Na cerimónia de inauguração da exposição no Kremlin esteve presente o conservador das coleções artísticas da Ordem de Malta Fra’ John Critien que recordou as relações históricas próximas entre a Rússia e os cavaleiros de Malta: "A exposição representa uma excelente oportunidade para o grande povo russo compreender melhor a Ordem militar soberana que durante vários anos muito importantes esteve ligado ao Império Russo. Foram os anos em que o czar Pavel I, inicialmente protetor da Ordem, se tornou seu Grão-Mestre, salvando a Ordem nos anos críticos da sua existência. Os visitantes irão perceber porque um imperador ortodoxo protegia uma Ordem católica."

Em 1798, Bonaparte conquistou Malta, os tesouros da Ordem foram saqueados e os cavaleiros expulsos. Pavel I veio em seu auxílio tendo convidado os cavaleiros para a Rússia. Como sinal de gratidão estes concederam-lhe o título de Grão-Mestre. Depois da morte de Pavel I, o imperador seguinte, Alexander I, renunciou ao título e praticamente todos os símbolos da Ordem de Malta foram devolvidas a Roma.

Porém, os contactos entre a Ordem de Malta e a Rússia se iniciaram muito antes de Pavel I. Os cavaleiros, por exemplo, ajudaram frequentemente os marinheiros russos.

A Ordem de Malta ganhou uma sólida reputação de uma espécie de ministério das situações de emergência internacional. Anualmente ela presta a pessoas de diferentes países ajuda num valor que atinge um bilião de euros. Entre os voluntários dessa Ordem também há russos, se bem que poucos, cerca de cem pessoas.


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