O canhão encontrado em janeiro de 2010 no norte da Austrália, que se supôs ser do século XVI e de origem portuguesa, "não o é", afirma um arqueólogo da Universidade Nova de Lisboa.
Alexandre Monteiro, arqueólogo náutico e subaquático do Instituto de Arqueologia e Paleociências da Universidade Nova de Lisboa (UNL), explicou que se trata de "um canhão cópia dos portugueses, mas de fabrico asiático do século XVII ou XVIII, na medida em que após a chegada dos portugueses ao Extremo Oriente, e depois de terem introduzido as armas de fogo, muitas foram as fundições que começaram a produzir modelos idênticos, mas de deficiente qualidade".
"Não há um escudo português ou brasão de armas, nem inserções de peso", explicou o cientista que afirmou poder tratar-se de um canhão de fabrico "malaio ou indonésio".
"Depois da introdução das armas de fogo naquela região do globo pelos portugueses, muitas foram as cópias - tecnologicamente mais fracas, claro está -, as designadas lantakas", explicou o Alexandre Monteiro.
O arqueólogo sugeriu que o canhão encontrado por Christopher, de 13 anos, numa praia do norte da Austrália, e sobre qual surgiu notícia em janeiro deste ano, terá sido "deixado na costa australiana por pescadores chineses de pepinos do mar [invertebrado marinho], que o usavam em sua defesa".
Os especialistas australianos e portugueses realizaram vários testes de autenticidade ao achado e concluíram que "não é de origem portuguesa, nem do século XVI, mas sim uma cópia das muitas fundidas na região, que seguiam o modelo das armas portuguesas".
Há muito que os historiadores gizam a hipótese de os navegadores portugueses terem alcançado as costas australianas no século XVI, antes da chegada oficial em 1606 do navio holandês Duyfken, a mando de Willen Jansz.
Caso este canhão fosse de facto português e do século XVI era uma prova material da primazia portuguesa na descoberta do continente australiano.
Quando foi noticiado o achado, o historiador Francisco Contente Domingues disse à Lusa que era "muito provável" que o canhão fosse de facto português.
"Não tenho dúvidas de que os navios portugueses possam ter chegado à costa Norte da Austrália no século XVI", disse o historiador, especialista na História das navegações e da expansão europeia dos séculos XV-XVII, que citou uma tese segundo a qual duas ilhas situadas a Norte daquele continente foram descobertas por portugueses.
"Os portugueses andaram pela Insulíndia [zona entre o Japão e o Norte da Austrália] e terão de facto aportado à Austrália e entrado em contacto com as populações", acrescentou na altura.
Mais de um século depois da chegada do navio neerlandês, em 1770, o capitão James Cook reclamou a costa oriental da Austrália para a Coroa britânica sob o pretexto jurídico de ser "terra de ninguém", tendo permanecido uma colónia inglesa até 1901. Atualmente, a Austrália é membro da Commomwealth, sendo Isabel II de Inglaterra, formalmente, a sua Chefe de Estado.
fonte: JN
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