Instalações na China onde as experiências decorreram, na província de Heilongjiang
Uma equipa de investigação liderada pelo Governo japonês começou ontem a escavar em Tóquio um local que pode estar relacionado com as experiências feitas em humanos que o país conduziu durante a II Guerra Mundial, a milhares de pessoas.
O sítio, que fica na região Oeste da capital, pode conter os restos mortais de pedaços de corpos vindos da misteriosa Unidade 731. Segundo relatos e estudos históricos, este centro localizado na base de guerra japonesa de Harbin, situada na actual província Heilongjiang, no Nordeste da China, terá feito experiências em humanos.
“Se forem descobertos ossos ou órgãos com traços de experiências médicas, o Governo teria que admitir um crime médico em tempo de guerra”, disse à AP Yasushi Torii, responsável do grupo civil que investiga este caso há décadas. “Isto é um começo, apesar de provavelmente irmos precisar de mais provas para confirmar o papel da Unidade 731”, disse Torii.
Os testes visavam a investigação de armamento biológico. A unidade injectava nos prisioneiros de guerra os vírus da cólera, ou bactérias do tifo e outras doenças para estudarem os seus efeitos. Há ainda descrições de dissecações feitas em indivíduos vivos ou a morte de pessoas congeladas para investigar a capacidade de resistência.
Segundo os relatos de várias fontes, o número de pessoas que terão sido submetidas a estas experiências pode ascender aos 250.000. A maioria seriam chineses, mas cidadãos de outras nacionalidades também foram submetidos a experiências.
O local em Tóquio foi denunciado em 2006, quando a antiga enfermeira Toyo Ishii, hoje com 88 anos, pôs o fim a 60 anos de silêncio e revelou que no final da II Guerra Mundial, em 1945, foi obrigada juntamente com outros trabalhadores do hospital a enterrar corpos e membros de cadáveres debaixo das instalações. O objectivo era esconder a existência desta unidade dos aliados.
O ministro da Saúde falou com Ishii em 2006, ao que se seguiu um pedido para o Governo da altura investigar o caso.
No local, as máquinas já começaram a retirar cuidadosamente as porções superiores do terreno. O trabalho só pôde começar a ser feito depois de serem retirados habitantes do local. A investigação vai custar ao governo 882.000 euros, adiantou Kazuhiko Kawauchi, um responsável do ministério da Saúde do Governo.
“Não estamos certos se esta investigação vai encontrar alguma coisa”, disse Kawauchi. “Se alguma coisa for desenterrada, pode não estar relacionada com a Unidade 731.” Segundo teóricos políticos citados pela AP, o actual Governo japonês do partido democrático, que tomou posse em 2009, está mais aberto a descobrir o que aconteceu para finalmente virar a página a este assunto.
Corpos para “educação médica”
Esta não é a primeira escavação que se faz relacionada com a Unidade 371. Em 1989, foram desenterrados em Tóquio ossos numa vala comum durante a construção de um instituto de investigação pertencente ao Ministério da Saúde que fica perto do novo local.
Os restos encontrados eram ossos de fémures ou de crânio. Alguns fragmentados, outros com buracos feitos ou com secções cortadas. As autoridades negaram que as ossadas estivessem relacionadas com actividade criminal.
Na altura, o ministério disse que a maioria dos ossos pertencia a asiáticos não japoneses. Segundo o governo, os corpos provavelmente foram utilizados para “educação médica” ou trazidos de zonas de guerra para análise.
A BBC News diz ainda que famílias chinesas com parentes que poderão ter morrido nestas experiências, pediram na altura para serem feitos testes de ADN das ossadas descobertas, mas o Governo japonês recusou o pedido.
Em 2002, um tribunal japonês admitiu a existência de uma unidade de guerra biológica na China, mas recusou-se a pedir desculpas às vítimas.
fonte: Público
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