As células tumorais (azuis) dão às ósseas (cor-de-rosa e castanha) “instruções” para se auto-destruírem
Em 70 a 80 por cento dos casos de cancro da mama avançado, as células malignas espalham-se e formam tumores nos ossos. Agora, cientistas da Universidade de Princeton, nos EUA, acabam de descobrir um mecanismo envolvido na metastatização óssea que poderá abrir o caminho a novas formas de bloquear este processo.
Yibin Kang e colegas — uma das equipas norte-americanas que fazem parte do programa de investigação do cancro da Fundação Champalimaud — anunciam on-line na revista "Cancer Cell" (o artigo será publicado na edição de Fevereiro em papel) que descobriram que uma proteína das células tumorais, chamada Jagged1, dá às células ósseas “instruções” para se autodestruírem, impedindo a normal regeneração do tecido ósseo. A metastatização óssea também é frequente nos doentes com cancros avançados da próstata, do pulmão e da pele.
“Não temos muitos tratamentos para oferecer às doentes [com cancro da mama]”, diz Kang em comunicado. “Os médicos conseguem aliviar os sin-
tomas destes cancros ósseos, mas pouco mais. Os nossos resultados sugerem que poderá haver novas formas de tratamento” que permitam parar, ou pelo menos abrandar, o crescimento dos tumores ósseos, “neutralizando o poder destrutivo de Jagged1”, salienta o cientista.
“Descobrimos que as amostras de doentes com cancro da mama que se
tinham espalhado para os ossos tinham níveis de Jagged1 mais elevados”, comenta por seu lado Nilay Se-
thi, co-autor do trabalho, que foi o es-
tudante que identificou a proteína como um dos componentes-chave da cadeia de acontecimentos moleculares que leva à desorganização do crescimento ósseo. O que a proteína Jagged1 faz, ao ligar-se a receptores presentes nas células responsáveis pela regeneração óssea, é activar uma cascata de sinais moleculares dentro dessas células (o chamado Notch signalling pathway), que acabam por perturbar o seu normal funcionamento.
Jacqueline Bromberg, especialista de cancro da mama do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center de Nova Iorque, citada no mesmo documento, diz que estes resultados “demonstram a importância de desenvolver armas contra o ‘ambiente’ em que o cancro se desenvolve”. Ou seja, é preciso não apenas tentar destruir as células cancerosas, mas também travar as interacções entre as células malignas e as células normais do organismo que as cancerosas possam subverter.
Theresa Guise, oncologista da Universidade do Indiana, concorda: estes resultados, salienta, “mostram que existem interacções cruciais entre as células tumorais e as células ósseas. O trabalho da equipa de Princeton é importante, diz, porque “permitiu dissecar os contributos respectivos para o processo [de metastatização óssea] do tumor e do microambiente”.
fonte: Público
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