Luis Elizondo, que chefiou até outubro passado a iniciativa do Pentágono para investigar a existência de OVNIS, ter-se-á demitido em protesto contra aquilo que caracteriza como secretismo excessivo e oposição interna.
O programa do Pentágono, agora revelado, não é o primeiro projeto com financiamento federal de busca de sinais de vida inteligente na galáxia.
Um antigo programa governamental norte-americano secreto, agora revelado, que estudava fenómenos aéreos inexplicados — comummente designados por OVNI — apanhou muita gente de surpresa, quando dois artigos que o descreviam foram publicados praticamente em simultâneo, no New York Times e no Politico.
O projeto do Pentágono, denominado Advanced Aviation Threat Identification Program, foi, alegadamente, iniciado em 2007, com o objetivo de investigar fenómenos aéreos inexplicados, que aparentavam recorrer a novos métodos de propulsão, aeroplanagem ou quaisquer outras tecnologias de ponta. Alegadamente também, existe um relatório de 490 páginas, que descreve as conclusões do programa, apesar de este não ter sido ainda publicado.
Poder-se-á argumentar que a própria existência deste projeto prova que somos visitados por extraterrestres, mas essa não é uma conclusão lógica. A verdade inquestionável é que certas observações de natureza mais misteriosa merecem uma investigação mais aprofundada, desde que esta seja feita com rigor científico. E este projeto nem sequer é a primeira busca financiada pelo governo norte-americano por provas da existência de uma inteligência avançada — até agora, sem grandes resultados.
Vários projetos, iniciados há mais de cinco décadas e que prosseguem até aos dias de hoje, incluem iniciativas para avaliar avistamentos bizarros e objetos exóticos, perscrutar os céus em busca de sinais de transmissões feitas por formas de vida alienígena inteligentes, e desenvolver instrumentos capazes de detetar sinais de vida em mundos distantes.
O facto de que o governo tenha decidido investir algum dinheiro para analisar os OVNI — em especial, por estes poderem representar uma ameaça em termos de segurança nacional — sob uma perspetiva aparentemente científica não deveria surpreender ninguém, diz Seth Shostak, um dos caçadores de extraterrestres mais experientes do Instituto SETI.
“Desde sempre que os agentes federais se interessam por OVNI, já desde o tempo dos célebres casos de finais da década de 40 — alguém se recorda de Roswell?” afirma Shostak. “Boa parte deste interesse é motivado pela preocupação de que os estranhos objetos que são avistados nos céus possam ser novas aeronaves soviéticas — ou, atualmente, russas ou chinesas.”
“Mesmo que se acredite que este interesse possa ter um âmbito mais vasto, que o governo queira saber, na verdade, se o nosso pequeno planeta é visitado por outros seres, não há grande surpresa no facto de a quantia investida nessa possibilidade ser bastante modesta.” Em boa verdade, cerca de um terço da população norte-americana acredita que alguns destes fenómenos bizarros são da responsabilidade de visitantes extraterrestres, acrescenta Shostak.
Segundo Shostak, o grande problema é que boa parte do dinheiro destinado ao programa do Pentágono era entregue a um empresa fundada por Robert Bigelow, um magnata bilionário da engenharia aeroespacial, cuja companhia constrói módulos espaciais insufláveis e que acredita que somos visitados por extraterrestres, há já muito tempo. O programa, iniciado após conversações entre Bigelow e Harry Reid, senador do Nevada à época, recolheu, pelo menos, $22 milhões (mais de €18 milhões) de financiamento ao longo de cinco anos (ainda não se sabe ao certo se o programa teve continuidade sob uma designação diferente, após a sua pretensa conclusão em 2012).
Nos dois artigos agora publicados, há algumas informações curiosas, que incluem a alegada existência de ligas metálicas de origem extraterrestre nas instalações de Bigelow, bem como um vídeo que, supostamente, mostra um objeto avistado por dois pilotos da Marinha norte-americana.
Contudo, boa parte daquilo que foi revelado publicamente acerca das descobertas deste programa é, na melhor das hipóteses, informação obtida indiretamente, através de informadores que transmitiam as suas opiniões aos jornalistas. Algumas pessoas, como é o caso de Reid, afirmam que há provas contundentes, que deveriam ser investigadas de forma mais extensa — mas os pormenores são tão esquivos quanto os próprios extraterrestres.
“A descrição objetiva de qualquer fenómeno deverá ser fundamentada por provas contundentes. Não obstante décadas de relatos de diversos fenómenos OVNI e de raptos, a verdade é que não estamos na posse de tais confirmações”, diz Andrew Siemion, diretor do centro de investigação SETI de Berkeley. “Além disso, os astrónomos passam as suas carreiras a observar os céus, com recurso a um sem-número de telescópios e de técnicas, e nunca tiraram nenhuma fotografia a uma nave espacial [não identificada].”
Eis então algumas das tentativas, passadas e atuais, para descobrir se, de facto, os extraterrestres andam aí e se já fomos visitados, começando pelo seu apogeu, em meados do século passado.
1947: Roswell (Projeto Mogul)
Muito provavelmente, a avó de todas as teorias da conspiração OVNI, o incidente de Roswell é descrito por muitos como a queda catastrófica de uma nave espacial alienígena, no deserto do Novo México, após a qual o governo dos Estados Unidos terá, alegadamente, resgatado a aeronave (e vários extraterrestres). Em 1994, a Força Aérea divulgou um relatório que identificava os destroços como pertencendo “a um balão de uma antiga operação secreta, denominada Projeto MOGUL, que se destinava a monitorizar na atmosfera vestígios de testes nucleares soviéticos.”
1948-1952: Projetos Sign e Grudge
Estes projetos financiados pela Força Aérea, primeiro o Sign e depois o Grudge, visavam analisar discos voadores e outros fenómenos alegadamente inexplicados, e inspiravam-se tanto na Guerra Fria, como no avistamento de nove “objetos discoides” sobre o estado de Washington, em 1947. Segundo a CIA, “os agentes do GRUDGE não encontraram provas da existência ou do desenvolvimento de armamento alienígena avançado nos avistamentos de OVNI, e concluíram que os OVNI não representavam uma ameaça à segurança dos Estados Unidos. Os agentes recomendaram que o âmbito do projeto fosse reduzido, uma vez que o próprio interesse da Força Aérea encorajava a população a acreditar na existência de OVNI, e contribuía para uma atmosfera de ‘histeria de guerra’.”
1952-1969: Projeto Blue Book
No seguimento dos dois projetos anteriores, o Blue Book foi a mais longa e extensa investigação conhecida de fenómenos aéreos inexplicados. Dos 12 618 avistamentos registados que foram investigados, determinou-se que a maioria se tratava de fenómenos naturais ou aeronaves (incluindo testes de voo dos primeiros aviões de espionagem U-2) erroneamente identificadas; e apenas 701 permaneceram por identificar. O relatório concluiu que “nenhum OVNI registado, investigado e avaliado pela Força Aérea representava qualquer ameaça à nossa segurança nacional; não houve qualquer prova fornecida, ou descoberta pela Força Aérea de que os avistamentos classificados como ‘não identificados’ configurassem desenvolvimentos tecnológicos ou princípios para além do conhecimento científico atual; não houve qualquer indício que apontasse para que os avistamentos classificados como ‘não identificados’ fossem veículos extraterrestres.”
1960: Projeto Ozma
Financiado pela National Science Foundation (Fundação Nacional para a Ciência), uma agência federal criada em 1950, este projeto de $2000 (cerca de €1600) foi a primeira busca científica de radiotransmissões inteligentes, transmitidas a partir de outros planetas. Recorrendo ao telescópio do Observatório de Green Bank, o astrónomo Frank Drake (sim, o pai desta jornalista) procurou radiotransmissões provenientes de planetas orbitando em torno das estrelas Tau Ceti e Epsilon Eridani, mas as suas pesquisas não obtiveram quaisquer resultados.
Vista aérea do Pentágono FOTOGRAFIA POR BILL CLARK, CQ ROLL CALL, GETTY IMAGES
1966-1968: Projeto OVNI da Universidade do Colorado/ Comité Condon
Financiado pela Força Aérea, este projeto resultou no Relatório Condon, que concluiu não existirem provas contundentes do envolvimento de extraterrestres nos OVNI, e que recomendava a descontinuação do Projeto Blue Book, bem como de quaisquer outras investigações a OVNI. O relatório levou a Associação Americana para o Avanço da Ciência a convocar uma reunião para debater o tema, que Carl Sagan e Thornton Page, posteriormente, converteram num livro, intitulado UFOs: A Scientific Debate (OVNI: Um Debate Científico).
Anos 70 e 80: investigações da CIA de fenómenos paranormais e psíquicos
Nos anos 70 e 80, assistiu-se a uma série de investigações conduzidas pela CIA de fenómenos associados aos avistamentos de OVNI, como é o caso de diversos fenómenos parapsicológicos e psíquicos. Segundo o relatório da CIA “Role in the Study of UFOs, 1947-90 (A Die-Hard Issue)”, “os agentes da CIA também investigaram a problemática dos OVNI com vista a determinar quais dos avistamentos poderiam ser uma fonte de informação acerca dos progressos soviéticos no que diz respeito a foguetões e mísseis, e a rever diversos aspetos da sua estratégia de contraespionagem.”
1976-1993: SETI/HRMS
A única ocasião em que a busca de inteligência extraterrestre, ou SETI (search for extraterrestrial intelligence), foi inscrita num orçamento da NASA, canalizou cerca de $12 milhões (aproximadamente, €10 milhões) por ano, para pesquisas usando as antenas de Arecibo e Goldstone. Por volta de 1990, o programa governamental SETI — sediado no Centro de Investigação Ames da NASA — foi rebatizado como High Resolution Microwave Survey, numa tentativa de evitar o seu cancelamento. Richard Bryan, senador do Nevada, acabou por cancelar o programa em 1993, logo após as observações terem sido efetivamente iniciadas.
Anos 90 até hoje: Instituto de Astrobiologia da NASA
Fundado em 1998, o NASA Astrobiology Institute é um dos muitos projetos da agência espacial que visam investigar a existência de vida em outro lugar do cosmos. Ao seu abrigo, os cientistas encontram-se atualmente a refletir sobre a possibilidade da existência de vida em Marte, se haverão organismos escondidos sob os mantos gelados que envolvem as luas Europa e Encélado, e se seremos sequer capazes de reconhecer as formas de vida extraterrestre quando as encontrarmos.
Hoje, e mais além
A decorrer estão também outros projetos que dependem de financiamento federal, que visam o desenvolvimento de instrumentação que permita detetar não apenas exoplanetas, como também biosferas alienígenas, assim como fazer experiências usando organismos e ambientes terrestres como análogos extraterrestres.
fonte: National Geographic
Sem comentários:
Enviar um comentário