domingo, 3 de junho de 2018

O ‘petróleo português’ é lilás e vamos poder fazer turismo nas explorações


Se é adepto do turismo geológico está aí uma oportunidade única que não vai querer perder. As minas de lítio do concelho da Guarda vão abrir ao público até final deste ano. Portugal dá cartas na produção mundial do ‘petróleo’ do século XXI e tem potencial para décadas de exploração

Provavelmente já ouviu falar das baterias de iões de lítio, que servem de base à indústria crescente dos carros elétricos – mas também dos iphones e dos tablets -, que vão ganhando escala a nível global e, certamente, também já ouviu alguém dizer que Portugal é o quinto produtor mundial de lítio e tem reservas identificadas para várias dezenas de anos de exploração.

Pois bem, as principais explorações mineiras de lítio situam-se entre as localidades de Gonçalo e Seixo Amarelo, no concelho da Guarda, onde agora se trabalha na abertura das minas à população em geral. Ou seja, vai ser possível, caso queira, fazer passeios entre as explorações, que é como quem diz, começar a praticar turismo geológico naquela região. As minas são a céu aberto.

O projeto está a ser desenvolvido há mais de um ano pela professora e geóloga Ana Antão, do Instituto Politécnico da Guarda, em conjunto com a empresa Pegmatítica - Sociedade Mineira de Pegamatites e ainda em parceria com a Associação Portuguesa de Geólogos.

“Para já, estamos a fazer a topografia e cadastro do terreno, para depois passarmos à elaboração dos percursos e à sua divulgação”, explica Ana Antão.

MITIGAR O EFEITO DA ATIVIDADE MINEIRA

A geóloga refere que os trabalhos no terreno incidem agora sobre as vertentes ambiental, de análise dos solos, da água e do ar. “Essencialmente, a empresa mineira com quem estamos a trabalhar pretende mitigar, de certa forma, o efeito da sua atividade industrial, desmistificando e abrindo os espaços em que está a intervir à população em geral”.

Ana Antão diz que o turismo geológico está num crescendo a nível mundial, e que há pessoas dispostas a atravessar o planeta de um lado ao outro só para poderem ver de perto uma determinada pedra.

“Na prática, o que queremos fazer em Gonçalo é uma espécie de museu ao ar livre, que pode ser visitado mas, naturalmente, com as devidas precauções e com acompanhamento adequado”, sublinha a responsável pelo projeto.

Numa explicação mais técnica, o Instituto Politécnico da Guarda, frisa que “a gestão sustentável de recursos é atualmente uma prioridade da sociedade em que vivemos, sendo que cada região deve tirar partido dos seus recursos naturais em particular dos seus recursos endógenos de natureza geológica”.

POTENCIAL PARA NOVAS DESCOBERTAS

E acrescenta ainda que a Europa é deficitária em lítio, sendo que Portugal e Espanha, são os únicos países da União Europeia com recursos litiníferos e apresenta potencial para novas descobertas.

Sobre as perspetivas da indústria do lítio à escala global, onde – do lado da oferta - Portugal assume uma posição de destaque, alguns estudos internacionais de bancos, consultoras financeiras e até petrolíferas apontam para um verdadeiro 'disparo' na procura de carros elétricos na próxima década, passando dos atuais cerca de 2 milhões de automóveis para 20 milhões em 2030. Isso poderá exigir seis vezes mais carbonato de lítio do que o atualmente utilizado no mercado mundial.

Ora, como as baterias dos carros elétricos são precisamente feitas à base de lítio e, por outro lado, como Portugal é o 5º maior produtor mundial daquela matéria-prima (segundo o mais recente relatório do Departamento Geológico norte-americano), facilmente se percebe - de acordo com vários analistas contactados pelo Expresso - a apetência de várias multinacionais mineiras por Portugal.

Recorde-se, porém, que o lítio explorado na mina do Seixo Amarelo (Gonçalo - Guarda) não é encaminhado diretamente para a indústria automóvel. Na verdade, é quase todo encaminhado para a indústria cerâmica, em forma de concentrado de lítio, onde é utilizado como fundente. É misturado com as matérias-primas de base com que se fabricam as cerâmicas para que seja atingido mais rapidamente o ponto de fusão ideal para o respetivo processamento.

Isto significa poupança de energia e, por consequência, diminuições consideráveis de emissões poluentes para a atmosfera.

PORTUGAL AINDA NÃO COBRE TODO O PROCESSO DO LÍTIO

Os teores químicos de ocorrência do lítio no minério extraído em Portugal raramente ultrapassam o limiar de 1% (um quilograma de lítio em cada 100 quilogramas de 'escombros' litiníferos recolhidos).

Segue-se um processo químico de enriquecimento do concentrado de lítio da ordem de 4 a 10 vezes o teor inicial, consoante se parte de minérios mais ricos ou mais pobres, respetivamente.

O processo metalúrgico destina-se a destruir a estrutura cristalina dos minerais portadores do lítio, para libertar este metal das ligações a outros elementos. Uma operação complexa que exige temperaturas de processamento acima de 800° C. São, então, obtidos compostos com o chamado 'teor técnico' abaixo de 99%, ou com o 'teor para baterias' na ordem de 99,5%, ou mesmo de 'alta pureza', acima de 99,9%.

Só que isto ainda não se faz em Portugal.

O que se irá fazer, para já, é ‘democratizar’ o acesso da população aos locais onde o lítio é explorado, assim que esteja terminado o projeto em curso liderado pela geóloga Ana Antão, o que se prevê que possa acontecer dentro de seis meses.

fonte: Expresso

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