sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Plutão tem lá dentro um oceano gelado


Dados da sonda New Horizons da NASA apontam para processos complexos na superfície e também no subsolo do pequeno planeta

Quando a nave New Horizons fez o seu sobrevoo histórico a Plutão, em 14 de julho do ano passado, mostrou um novo rosto daquele pequeno mundo nos confins do sistema solar. Mas a mais icónica das imagens que a sonda da NASA enviou para a Terra foi um retrato onde está bem marcado, na sua superfície, um coração gigante. Dois estudos publicados na revista Nature esta quinta-feira mostram que aquele é um coração... de gelo. Sob essa geografia romântica, Plutão tem, ao que tudo indica, um oceano líquido.

Esta, dizem os cientistas, é a melhor explicação para as observações feitas pela New Horizons. E isso sugere também que outros astros da classe de Plutão naquela zona do sistema solar poderão ter também oceanos interiores.

A ideia de um oceano sob a superfície de Plutão não é nova. Em março, quando foram publicados na Science os primeiros estudos sobre os dados enviados pela New Horizons, essa hipótese ficou no ar, bem como a da existência ali de fenómenos de criovulcanismo - há erupções, mas em vez de lava, brotam materiais gelados do subsolo.

Os estudos entretanto continuaram - os dados da sonda da NASA têm ainda muita informação para ser trabalhada ao longo os próximos anos - e agora a hipótese do oceano no interior de Plutão tornou-se concreta: ela é a melhor explicação para o que ali se observa à superfície e também no próprio comportamento de Plutão. E a localização do gigantesco coração naquela geografia do pequeno planeta é a chave que reforça a ideia de um mar gelado sob a superfície.

De acordo com os cientistas, um um dos lados do coração é uma imensa bacia côncava, a Planitia Sputnik, que foi gerada muito provavelmente pelo impacto de um outro astro. Mas nessa altura, aquele padrão geológico estava localizado mais para noroeste em relação à sua posição atual. A sua migração, explicam os investigadores, ficou a dever-se à quantidade imensa de gelo que ali se acumulou a certa altura. Foi esse processo que causou uma rotação no próprio planeta, gerando por sua vez tensões e ruturas na crosta do planeta-anão, com a emergência de mais materiais gelados, por causa da presença do tal oceano interior.

Segundo os cientistas, se a Planitia Sputnik ainda estiver a acumular gelos - que sobem à superfície, vindos do interior, há grandes probabilidades de Plutão voltar a sofrer uma rotação.

"Há duas formas de alterar a rotação de um planeta", diz James Keane, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, o investigador principal da equipa que assina um dos dois estudos publicados na Nature. "O primeiro, e aquele que nos é mais familiar, é a ocorrência de uma alteração no eixo de rotação, na qual o planeta se reorienta em relação ao resto do sistema solar", explica. "O segundo", adianta o astrofísico, "é através de uma deriva polar, em que o eixo de rotação se mantém fixo face ao sistema solar, e é o próprio planeta roda". Este segundo caso foi o de Plutão.

A outra equipa que publica na mesma revista um estudo sobre a questão, liderada pelo investigador Francis Nimmo, da Universidade da Califórnia Santa Cruz, apresenta resultados que indicam exatamente a mesma conclusão: a da existência de um oceano subterrâneo naquela zona do planeta. Só a sua massa e peso poderá explicar aquele processo de rotação observado, sublinha igualmente a segunda equipa.

Com esta confirmação, o retrato do mais distante pequeno planeta do sistema solar ganha uma nova definição. Resta saber que mais novidades ainda haverá à espera de serem reveladas nas observações da New Horizons.


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