Fósseis de ascendentes dos répteis pré-históricos encontrados em solo gaúcho configuram a maior descoberta paleontológica da década.
A mais importante descoberta paleontológica dos últimos 10 anos, que pode mudar importantes aspectos acerca da origem dos dinossauros, foi anunciada em Canoas, a 15 quilómetros de Porto Alegre.
Fósseis de duas novas espécies, em ótimo estado de conservação, foram encontrados em terrenos sedimentares do período triássico superior (de 237 a 227 milhões de anos atrás), localizados em São João de Polêsine, na região central do Rio Grande do Sul.
O achado indica que a origem das criaturas que dominaram a Terra por cerca de 135 milhões de anos pode ter acontecido onde atualmente fica o Rio Grande do Sul – e antes do que se imaginava.
“Os fósseis reforçam a teoria de que o primeiro dinossauro tenha nascido antes de 230 milhões de anos, provavelmente no antigo supercontinente de Gondwana, em terrenos localizados na fronteira entre o Rio Grande do Sul e a Argentina”, explica o paleontólogo Sergio Cabreira, pesquisador e professor da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra).
Cabreira conduziu os trabalhos de preparação e estudo dos fósseis ao lado dos paleontólogos Max Langer, da Universidade de São Paulo (USP), e Alexander Kellner, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ao todo, o trabalho contou com a participação de pesquisadores de nove universidades. Um artigo que descreve a descoberta dos fósseis foi publicado nessa quinta-feira na revista científica americana Current Biology, uma das mais conceituadas do mundo na área de biologia evolutiva.
Criaturas pequenas
Diferentemente dos gigantescos dinossauros do período jurássico, imortalizados no clássico hollywoodiano Jurassic Park, as criaturas descobertas são pequenas. A primeira tinha cerca de 15 centímetros de altura – do tamanho de uma pequena ave.
O Ixalerpeton polesinensis, como foi batizado por seus descobridores, é um ancestral direto dos dinossauros e se alimentava de insetos. Sua estrutura óssea indica que ele era extremamente veloz e correria aos saltos. Foram encontradas partes do crânio, quase toda a coluna vertebral e parte da cauda.
O outro tinha aproximadamente 50 centímetros de altura – a mesma de um cachorro de porte médio. Chamado e Buriolestes schultzi, ele é o primeiro sauropodomorfo carnívoro encontrado até hoje no mundo.
Seus descendentes se tornariam dinossauros gigantes, herbívoros e de pescoço longo – como o braquiossauro – considerados, até hoje, como os maiores animais que já caminharam sobre a Terra. A preferência por uma dieta carnívora foi evidenciada pelos dentes do animal, que são pontudos, muito recurvados para trás e com as bordas serrilhadas como facas – ideais para cortar carne.
Segundo Cabreira, o Buriolestes está entre os mais completos dinossauros primitivos já encontrados no mundo. “Os ossos, principalmente o crânio, e os dentes estão em um nível muito alto de conservação. Parece que o tempo não agiu sobre eles”, conta.
O ambiente do Sítio Buriol, onde os fósseis foram coletados, durante o período triássico teria favorecido a conservação. “Até o tipo de rocha favoreceu. Os espécimes encontrados provavelmente sofreram um soterramento rápido. Assim, não ficaram à mercê de decompositores”, esclarece o professor.
Em bando
Junto dos fósseis foram encontrados vestígios de outros animais da mesma espécie, o que indica que o Buriolestes e o Ixalerpeton andavam em bandos e tinham cuidados parentais com seus filhotes, parecidos com o das aves.
Além disso, a descoberta aponta que as duas espécies coexistiram, mudando, assim, o próprio padrão evolucionário dos dinossauros. “Mostra que houve uma coevolução, ou seja, ancestral e derivado conviveram. Isso mostra que a evolução dos dinossauros pode não ter sido linear”, elucida Cabreira.
fonte: Band
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