O estômago das hienas é capaz de digerir praticamente tudo
Quando os cristãos etíopes param de comer carne durante as semanas que antecedem a Páscoa, as hienas vêem-se obrigadas a caçar... burros.
Esta é a conclusão de um estudo publicado na quarta-feira no Journal of Animal Ecology, revista da Sociedade Britânica de Ecologia (BES), por uma equipa internacional de ecologistas.
As hienas comem aves, mamíferos, peixes, répteis – e, quando surge a oportunidade de se alimentarem de matéria orgânica em decomposição, aproveitam-na logo, sendo capazes de ingerir todo o tipo de lixo – em especial, restos de carne descartados por talhantes e particulares – e até excrementos de animais.
“As hienas são capazes de comer praticamente tudo, mesmo carne podre e carcaças infectadas pelo antraz”, diz Gidey Yirga, da Universidade de Mekelle (Norte da Etiópia) e co-autor do estudo juntamente com colegas da Holanda e Bélgica, citado por um comunicado da BES. “Conseguem comer e digerir todas as partes das suas presas excepto o pêlo e os cascos.” Quanto aos ossos, só restam deles, nos dejectos das hienas, os componentes inorgânicos.
Mas quando chega a Quaresma e os membros da Igreja Ortodoxa de Tewahedo (a maior igreja cristã do país) deixam de comer carne e lacticínios durante os 55 dias que dura o Abye Tsome (a Quaresma), as hienas, que também são exímias caçadoras, passam a comer mais carne fresca.
Para conseguir monitorizar a dieta das hienas, os cientistas recolheram dejectos em três locais perto de Mekelle. Fizeram-no por três vezes: no primeiro dia e no último dia da Quaresma e ainda 55 dias depois do fim do jejum pascal. E como as hienas não digerem o pêlo, analisaram a presença deste material de origem animal nos excrementos das hienas. Para identificar a proveniência do pêlo, dispunham de uma colecção de amostras de pêlo de outros animais da região.
Constataram então que a percentagem de pêlo de burro, que era de 15% antes da Quaresma, passava para 33 % durante a Quaresma e voltava a diminuir, para 22%, após o fim do jejum religioso. Ou seja, quando os humanos param de comprar carne e de deitar carne fora, concluem, os dejectos das hienas passam claramente a conter maiores quantidades de pêlo de burro.
“O nosso estudo revela uma mudança notável na dieta das hienas”, salienta Yirga. “Descobrimos que as hienas que vivem nos arredores de Mekelle comem sobretudo lixo dos talhos e lixo residencial, mas que, na altura do jejum, a sua fonte alternativa de alimentação são os burros.”
Para além de uma prova de quão adaptáveis são as hienas às vicissitudes dos recursos alimentares, os cientistas acreditam que este tipo de estudo poderá permitir gerir melhor os conflitos que surgem entre as populações humanas e os grandes carnívoros que se alimentam, em parte, de restos de comida humana.
fonte: Público
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