segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Corvos usam gestos para se comunicarem


Descoberta marca a primeira vez em que investigadores viram a atitude a ser usada por animais que não são primatas

Investigadores descobriram que os corvos utilizam bicos e asas de uma maneira muito parecido com a forma como os humanos usam as mãos para gesticular , ao apontar para um objecto, por exemplo. Essa é a primeira vez que estudiosos se deparam com gestos usados dessa maneira na natureza, por animais que não são primatas.

Entre 9 e 12 meses os bebés humanos costumam usar gestos para chamar a atenção de adultos, para os objectos ou para segurar itens com o objectivo de evitar que outros possam tomá-los. Esses gestos, produzidos antes de as crianças pronunciarem suas primeiras palavras, são vistos como marcos no desenvolvimento da fala humana.

Algumas espécies como os cães são conhecidas por usar gestos, mas os seres humanos treinam esses animais e, segundo a bióloga Simone Pika, do Instituto Max Planck de Ornitologia em Seewiesen, na Alemanha, o desenvolvimento natural dessas atitudes era normalmente atribuído apenas aos primatas. Mesmo assim, os gestos comparáveis são raramente vistos em nossos parentes vivos mais próximos, os grandes macacos – os chimpanzés no Parque Nacional Kibale, em Uganda, por exemplo, que empregam os chamados riscos dirigidos para indicar pontos distintos em seus corpos que precisam ser cuidados.

Ainda assim, indícios têm sugerido que os corvos e alguns de seus parentes como a pega-rabilonga (Pica pica) são extraordinariamente inteligentes, superando a maioria das outras aves nesse quesito – e até rivalizando com grandes símios em alguns testes.

"O que eu reparei quando encontrei corvos pela primeira vez é que eles são, ao contrário dos chimpanzés (o meu foco principal de investigação), uma espécie muito bem orientada com relação aos objectos", ressalta Simone. "Isso lembra minha infância, quando meu irmão gémeo e eu ainda éramos pequenos e um de nós de repente recuperou um brinquedo favorito, cuja existência nós tínhamos esquecido por um tempo. Este brinquedo de repente se tornou o centro de nossa diversão, interesse e competição. Coisas similares acontecem quando os corvos brincam uns com os outros e recuperam objectos", reforça a investigadora.

Gestos com o bico

Para ver se os corvos realmente se comunicavam por meio de gestos, os investigadores investigaram corvos selvagens em Cumberland Wildpark em Grünau, na Áustria. Cada ave foi marcada individualmente, para ajudar na identificação, e os estudiosos viram que essas aves usam seus bicos de uma maneira muito parecido com o que usamos as mãos para mostrar e oferecer itens como musgo, pedras e galhos. Estes gestos eram em sua maioria destinados a membros do sexo oposto e muitos os levavam a olhar para o que tinha sido indicado. Os corvos, então, interagiam uns com os outros, tocando, apertando ou manipulando o item juntos. Assim, esses gestos podem ser usados para medir o interesse de um potencial parceiro ou fortalecer um vínculo já existente.

"O mais emocionante é como uma espécie que não representa o protótipo de um 'gesticulador', porque tem asas em vez de mãos, um bico forte e pode voar, faz uso de sinais não vocálicos tão sofisticados", destacou Simone para a LiveScience.

Origem de gestos

Corvos são conhecidos por possuir um grau relativamente elevado de cooperação entre os parceiros. Esses resultados sugerem que os gestos evoluíram de uma espécie que demonstra alto grau de habilidades colaborativas, uma descoberta que pode lançar luz sobre a origem dos gestos entre os humanos. "Há muito tempo estudos sobre gestos têm focado apenas nas habilidades de comunicação dos primatas. O mistério das origens da linguagem humana, no entanto, só pode ser resolvido se olharmos de forma mais ampla e também se considerarmos a complexidade dos sistemas de comunicação de outros grupos de animais", reforça Simone.

Quanto a saber se os resultados sugerem que os corvos são mais inteligentes que cães , Simone diz: "Eu não defendo a ideia de que se proponha que determinada espécie é mais esperta que outra. Em minha opinião, todas as espécies se adaptaram a diferentes contextos sociais, ecológicos e nichos. Assim, uma determinada espécie pode se comportar de forma 'mais inteligente' em situações distintas e vice-versa. É muito mais interessante investigar por que uma espécie pode resolver certa tarefa melhor do que outra e como – e por que – este comportamento evoluiu. "

Simone e seus colegas gostariam de explorar ainda mais o uso dos gestos pelos corvos e quais significados e funções eles podem ter. As descobertas foram publicadas on-line no dia 29 de novembro na revista Nature Communications.


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