segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Transgénero já eram reconhecidos há três mil anos, diz estudo


Imagem retirada do Youtube

Artefactos funerários encontrados no sítio arqueológico de Hasanlu, no Irão, sugerem que existiam ofertas para homens, mulheres e um "terceiro género".

Enquanto vários países debatem o reconhecimento legal de uma terceira categoria de género, um novo estudo sugere que uma civilização persa abraçou a diversidade, há três mil anos, reconhecendo um terceiro género além do masculino e do feminino.

Segundo o jornal israelita Haaretz, esta teoria é baseada no estudo de artefactos encontrados nos túmulos de Hasanlu, um sítio arqueológico situado no noroeste do Irão.

Quando encontram restos humanos nas escavações arqueológicas, os investigadores atribuem-lhes um sexo - habitualmente masculino ou feminino -, de acordo com as características morfológicas do esqueleto ou dos objetos encontrados no enterro, explicou Megan Cifarelli, historiadora de arte do Manhattanville College (universidade liberal de artes perto de Nova Iorque).

Ao analisar 51 túmulos em Hasanlu, os investigadores procuraram descobrir quais os objetos que apareciam com mais frequência e o que poderiam significar. Agulhas, alfinetes de vestuário e joias eram encontrados, geralmente, juntos e associados a esqueletos femininos. Tal como os vasos de metal, as armas e as armaduras, que apareciam fortemente relacionados com restos mortais masculinos.

Combinação de artefactos

No entanto, o algoritmo usado pelos investigadores revelou um dado curioso: em 20% das sepulturas existia uma combinação de artefactos habitualmente associados ao sexo masculino e ao sexo feminino em esqueletos de ambos os sexos. Num dos túmulos masculinos, por exemplo, foi encontrada uma ponta de flecha - artefacto considerado masculino - e um alfinete de vestuário, que, afirma Megan Cifarelli, é o objeto "mais fortemente feminino que existe".

Numa outra sepultura, os investigadores encontraram uma lâmina e um copo de metal, ao lado de um alfinete e uma agulha, num esqueleto cujo sexo não pode ser identificado. Segundo Megan, tudo indica que o indivíduo realizava atividades tradicionalmente masculinas, mas também usava roupas femininas.

Em declarações ao Haaretz, a historiadora diz que existem mais do que duas categorias de artefactos funerários em Hasanlu, o que, segundo a especialista, indica que aquela sociedade reconheceu a existência de pelo menos três géneros.

Não existem certezas de que os artefactos realmente indicavam um género ou de que as ofertas não foram feitas ao acaso, mas Megan Cifarelli acredita que a identidade de género desempenhou um papel realmente importante na escolha dos artefactos.

"As categorias sociais que aparecem nos enterros são mais formais, menos individualizadas e geralmente conservadoras", diz a especialista, que considera existirem poucas hipóteses de uma mulher deixar cair os brincos acidentalmente na campa do marido, por exemplo. "[O enterro] é um momento para a família afirmar a identidade social da pessoa."

A investigação não oferece dados que permitam saber se o terceiro género era unicamente uma questão de identidade ou uma categoria social criada para pessoas com diferentes anatomias, como os intersexo.

Segundo os dados obtidos, 50% dos indivíduos sepultados eram homens, 20% mulheres e os restantes desconhecidos.

Na opinião de Megan, a arte de Hasanlu ajuda a suportar a sua teoria de reconhecimento de um terceiro género. Numa taça de ouro descoberta por arqueólogos, uma das figuras é um homem barbudo vestido com roupas femininas. Está sentado no chão, uma posição que, de acordo com a historiadora, estava reservada para as mulheres.


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