O achado (na foto, junto ao mapa do local onde foi encontrado) pode ser importante para ajudar a salvar o golfinho de água doce da Ásia SMITHSONIAN
Fóssil foi encontrado no Alasca há mais de meio século e levado para o museu Smithsonian, em Nova Iorque. Dois paleontólogos resgataram-no agora do armazém
Por vezes, as grandes descobertas acontecem onde menos se espera, e como que por acaso. Foi exatamente isso que sucedeu a um grupo de paleontólogos do Museu Nacional Smithonian de História Natural, em Nova Iorque, que descobriu uma nova espécie de golfinho... num caixote que estava depositado nos acervos do museu desde 1951.
Apesar de ser uma nova espécie para a ciência, aquele golfinho já se extinguiu há muito. No entanto, o achado e os novos conhecimentos que ele vem agora proporcionar podem ser uma chave importante para ajudar a salvar um outro golfinho que está hoje em risco de extinção: o golfinho de água doce do Sul da Ásia, que é um descendente moderno daquela espécie do passado. Essa é, pelo menos, a esperança de Alexandra Boersma e de Niccholas Pyenson, os dois investigadores que fizeram a descoberta e que, esta semana, publicaram a descrição da nova espécie na revista científica Peer J.
Esta história começa há mais de 60 anos, quando o geólogo americano Donald J. Miller, na altura em missão no Alasca para mapear a região onde hoje se ergue a cidade de Yakutat City, tropeçou num fóssil, um crânio, que ele reconheceu pertencer a um golfinho arcaico.
Cuidadoso, recolheu o achado e levou-o para o Museu Smithsonian, em Nova Iorque, onde o depositou, em 1951, com a nota de que se tratava de uma espécie de golfinho muito antiga. E o caixote lá ficou, em armazém, à espera de que alguém reparasse nele e olhasse melhor para o pedaço de fóssil que ele continha.
Isso só veio a acontecer em janeiro deste ano, quando Alexandra Boersma e Niccholas Pyenson, que estudam os cetáceos marinhos e a sua evolução, decidiram analisar aquela peça para perceber onde ela se poderia encaixar no puzzle que eles têm estado a montar para traçar um retrato mais claro da evolução daqueles mamíferos marinhos. Foi assim que lhes saiu o grande prémio.
"É um belo crânio, e foi disso que me apercebi de imediato", recorda Alexandra Boersma, citada num comunicado do museu Smithsonian. Para ela tornou-se igualmente claro ao primeiro olhar o parentesco daquela espécie arcaica com a dos golfinhos de água doce do Sul do Ásia. E isso tornava o achado ainda mais interessante, "porque poderia ajudar a explicar como uma espécie marinha que viveu há mais de vinte milhões de anos acaba por dar origem uma outra tão particular como a deste raro golfinho asiático de água doce", como sublinha a investigadora.
A datação do fóssil mostra que aquele golfinho de um grupo chamado Platanista - no qual se inclui também o moderno golfinho de água doce asiático - viveu há cerca de 28 a 24 milhões de anos e o nome que os investigadores lhe atribuíram, Arktocara yakataga, conta um pouco da sua história. Yakataga é o nome que os tinglit, o povo local, dão ao sítio onde Donald Miller o encontrou há 62 anos, e arktocara é uma palavra de origem latina que significa rosto do Norte. Afinal, o arktocara é a espécie deste grande grupo de golfinhos encontrado mais a norte no planeta.
Quanto ao seu descendente asiático moderno, que está ameaçado pela poluição e pelas atividades de pesca e de navegação, e que se tornou tão raro que já só existe em rios como o Ganges ou o Indo, os investigadores esperam que a descoberta da nova espécie possa, com os novos conhecimentos, dar uma ajuda à sua preservação. É nesse sentido que eles próprios vão trabalhar.
fonte: Diário de Noticias
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