sábado, 13 de agosto de 2016

Descoberta habitação e muralhas com 2 300 anos no Castro de Salreu


Escavações devem voltar ao terreno no próximo verão

O vereador da Cultura da câmara de Estarreja destacou a importância de "conhecer algo que parece estar na raiz" da história da região

A segunda campanha de escavações arqueológicas no Castro de Salreu, em Estarreja, revelou indícios de uma muralha em redor da povoação e de uma construção habitacional com cerca de 2300 anos, disse hoje o coordenador do projeto.

Os resultados da segunda fase de escavações vão ser apresentados hoje à noite na escola da Sr.ª. do Monte, em Estarreja, no distrito de Aveiro, e, segundo o presidente do Centro de Arqueologia de Arouca, António Manuel Silva, são "bastante interessantes" por irem além dos objetos que já tinham sido identificados.

"Este ano encontrámos indícios claros de uma espécie de muralha que circundava o castro, mas principalmente o resto de uma estrutura que supomos habitacional com base em pedra, uma cabana redonda de uma construção típica dessa época neste género de povoados", afirmou à Lusa António Manuel Silva.

Os trabalhos prosseguem agora em termos de catalogação, com novos esforços no terreno "em princípio só no verão de 2017".

Em declarações à Lusa, o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Estarreja, João Alegria, destacou a importância de "conhecer algo que parece estar na raiz" da história da região.

Questionado sobre se poderá haver a possibilidade de dotar o local de um cariz turístico, João Alegria disse que "isso seria o objetivo final ideal, mas está dependente de todo um trabalho muito paciente de longa distância e daquilo que se for encontrando".

António Manuel Silva explicou que o Castro de Salreu, com uma área total de cerca de 1,5 hectares, é "um povoado proto-histórico, pré-romano, portanto um povoado das populações locais aqui desta região do Beira-Vouga, que aqui viviam antes da conquista romana".

"É um dos muitos castros que existem na região e no Norte do país, são milhares. Tem algumas circunstâncias relativamente interessantes. É um castro litoral, atlântico, está na foz do Antuã que na altura era mais aberta do que é agora e é também um castro indígena, o que quer dizer que não temos vestígios de ocupação romana", declarou o investigador.

António Manuel Silva realçou que a ausência desses vestígios significa que os habitantes "provavelmente abandonaram-no e foram para outro local", não havendo nem registos escritos anteriores à presença romana nem sinais de adaptação à cultura dos mesmos.

No comunicado que dava conta da sessão de hoje, a Câmara Municipal de Estarreja recordava que os primeiros trabalhos arqueológicos tiveram lugar em 2011, tendo os trabalhos da segunda fase decorrido "durante três semanas do mês de julho, envolvendo dezena e meia de arqueólogos, técnicos de arqueologia e especialmente voluntários, na sua maioria estudantes, dois deles vindos expressamente do Brasil".

Questionado sobre se a autarquia tenciona manter o apoio ao projeto, João Alegria declarou que é uma análise ainda a ser feita.


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